domingo, 7 de fevereiro de 2016

O CARNAVAL NA PRAIA DE CAMURUPIM, ONTEM


A praia de Camurupim é uma extensão de Papari. A história é testemunha que nenhuma outra praia se fez mais presente na vida dos nativos desse pedacinho do litoral potiguar, principalmente no carnaval. É amor antigo, desde a época em que se iam ao lombo dos jumentos, rasgando veredas, desafiando as garrancheiras.

Famílias inteiras empreendiam essas viagens épicas, levando nos cestos toda sorte de alimentos: farinha, rapadura, macaxeira, café, batata doce, fruta-pão, inhame, banana, laranja, carne-de sol, miúnça de feira. As garrafas de Pitú ou a famosa “cabumba” do Timbó iam escondidas das crianças; coisa de adulto.

Cada um levava a feira da temporada. Quem fazia o controle rigoroso dos almoços e jantares era a matrona, sempre sábia na partilha. Pobre a rico se juntavam nesse vavavu que fazia a alegria da meninada. Era época de se fartar de peixe, pegos quase nas mãos pela abundância. Boldo não faltava, em caso de empanzinamento, aliás, ninguém se esquecia das meizinhas.

As casinhas de taipa ou palha emolduravam a língua de areia branca, distando poucos metros umas das outras. Às fogueiras alumiavam as noites escuras e estreladas, ardendo até altas horas, circundadas pelas famílias que eram felizes e não sabiam. Outrora, os “luais” inesquecíveis se encarregavam de trazer uma luz cheia de feitiços.

Os mais velhos embalavam essas noites mágicas com incontáveis histórias de “trancoso”, levando muito menino a dormir cheio de fantasias e medos. O silêncio da noite era quebrado quando em vez pelos evangélicos que – na famosa “Rua dos Crentes”, entoavam as canções da Harpa Cristã. Os coqueirais sem fim se encarregavam de dar a paisagem um tom de cartão postal. Imagens e histórias de rara beleza, engolidas pela urbanidade. 

Era assim o “carnaval” antigo da Praia de Camurupim. Assim me contou dona Leonísia (in memorian), aos 90 anos, avó de Lurdinha Lemos.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário