terça-feira, 4 de julho de 2017

Panapaná...


PANAPANÁ (1990)
 
Minhas irmãs furtavam pó de arroz da Fátima,
(Irmã mais velha com penteadeira sortida!)
O cosmético era cor de pele.
Muito adentro, surgiu produto caro: "sombra para olhos!"
(Objeto femininamente caro!)
Um dia tornei-me inventor desse produto...
Minha especialidade era pó cintilante azul,
Descobri-o num panapaná,
Igual que Mestrel descobriu-se do velcro.
Acasualmente...
Foi-se assim :
Passeava-me na mata de mãos dadas com a infância...
 De repente o mundo se exibiu de azul...
Cintilações de Céu...
Um panapaná em estado de procriação descortinou-se,
Azuis voejavam o todo,
Abraçavam o jequitibá,
O chão atapetado dasazuis...
Recolhi porção na latinha da curiosidade,
Deixei acontecer o meu silêncio de azul,
Analisei... azulizei...
Minha mão cintilantou-se em anil faiscante,
Eurekazulei-me de emoção...
Descobri sombrazul!!!
Encantado, disparei num túnel de capivaras...
Corri até minhas irmãs
Que azularam os olhos de felicidade...
Todas as meninas do lugar se impressionaram.
Enchi a lata com asas de borboletas mortas do chão,
Pilei até virar pó...
Nunca vi cor tão atraente:
Bela a Césio...
Um cintilante de comportamento pastoso...
Usava para dar poesia aos meus desenhos,
Depois envernizava com cola de vidro mole,
Colhida aos quilos nas aroeiras.
Minhas irmãs seriam famosas precursoras de sombra azul.
(Juro que doaria a invenção para elas!)
Teriam se projetado internacionalmente...
 "Inventoras de sombra azul cintilante para olhos"!
A perfumaria internacional compraria a patente ...
Seriam meninas milionárias.
Pobrezinhas!
Preferiram compartilhar o azul com a infância
E toda menina da cidade se exibiu de azul
Graças ao panapaná das matas do Rio Guaçu.

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