quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Elástico


As brincadeiras da minha infância eram mais de ver e pegar que de pensar.
Pois que assim sempre me fui só de pensar quando encontrava um La Fontaine pelos adiantes.
As brincadeiras que falo por hora
Eram de brincar de qualquer coisa
Que desse para brincamento,
Brincar de correr atrás do vento,
Brincar de guerra de torrão de barro,
Brincar de voar no mato,
Brincar de correr de a cavalo...
Só quem possuía um quintal cheio de ermos e confins
Têm poderes para entender o Daktari que tínhamos.
Minha mãe alertava:
- Não passe da cruz da Cidinha!
Mas, aqui para nós,
Esticávamos a cruz até a Pioneira
Às vezes o elástico dava no Uerê.
Adonde os índios poemavam
Uerê! Uerê!Uerê! Uerê!Uerê! Uerê!Uerê! Uerê!Uerê! Uerê!
Eu sabia que quanto mais estrada passasse por debaixo dos pés
Mais poderia aparecer onça tocaiando.
O mais que vi além dos tamanduás
Foram obstáculos de sucuris.
A cabeça ficava de um lado da estrada,
A bunda ficava do outro,
O meio ficava no meio da estrada.
Era só pular,
Elas nem viam.
Quando o elástico dava sinal de descangotar
Eu voava para casa.
- Que demora foi essa? Parece que estava no Rio Pardo!
Respondo:
- Não, mãe, eu não passei da cruz da Cidinha!
Ela não conseguia ver os épicos que trazíamos na memória.
Assim acreditávamos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário