sábado, 20 de novembro de 2021

Um olhar diferente sobre a Bandeira do Brasil

Quando criança, lembro nitidamente a maneira como os professores ensinavam o significado da bandeira brasileira. Era assim: “o verde do retângulo significa as matas e a natureza; o amarelo do losango significa o ouro e as riquezas minerais; a cor azul do círculo representa os mares, rios, aquíferos e afins; as estrelas são os estados e o distrito federal, lembrando que a estrela solitária representa o Pará, que naquele ano (1889), era a nossa maior área territorial, próxima ao eixo equatoriano, portanto destacada mais acima; por último, a faixa branca representa a paz, e a frase ‘Ordem e Progresso’, inspirada no pensamento positivista, representa a síntese de que somente com ordem conquistamos o progresso”. 


Bandeira é um símbolo. Tudo nela possui significados: os traçados, o brasão, o selo e os desenhos. O tempo passou… eu era adolescente quando um livro se aproximou de mim, me levou até um canto e contou a verdade que não era dita em nenhuma aula. Minha professora - muito ocupada com outros assuntos, planos de aula, correção de “trabalhos”, provas, marido, filhos, roupas para lavar, comida para fazer, casa para varrer, roupa para remendar, roupa para passar, roupa para cerzir, roupa para engomar - não teve tempo para se aprofundar e nos repassar a significação exata da bandeira brasileira, portanto alegorizava a simbologia da bandeira. Era mais fácil. 

VERDE: Os livros me ensinaram que o VERDE é o símbolo da Casa Real dos “Bragança”. Tudo começou em Portugal, quando os lusitanos (portugueses) criaram uma bandeira branca com um enorme dragão verde ao centro, o qual simboliza um ser fantástico imbatível e vencedor (o dragão!). O próprio Jean Baptiste Debret, quando criou a primeira versão da Bandeira Brasileira, em 1820, traria o ente fantástico que findou, muitos anos depois, dando origem aos “Dragões da Inconfidência” que protegem o palácio presidencial e o palácio do Planalto, em Brasília. O verde, para os portugueses daquele tempo, representava as lutas libertárias, as grandes conquistas e, acima de tudo, a esperança e liberdade. Verde era o estandarte de Nun’Álvares, arvorado na batalha de Aljubarrota. D. Pedro escolheu essa cor para a bandeira brasileira por ser a cor da casa de Bragança. OBSERVOU QUE NÃO TEM NADA A VER COM VERDE DAS MATAS?



AMARELO:  Essa cor passou a figurar no brasão de armas de Portugal, após a conquista do Algarve. O amarelo estampa bandeiras, flâmulas e brasões traduzindo os castelos que representam as fortalezas que os portugueses tomaram dos mouros. O amarelo recorda, ainda, as cores do Reino de Castela (Espanha), ao qual, por muito tempo, Portugal pertenceu até a sua independência. Essa cor também é o símbolo Real da Casa dos Habsburgo. Dom Pedro escolheu o amarelo por ser a cor da Casa de Lorena, de que usa a Família Imperial da Áustria. OBSERVOU QUE NÃO TEM NADA A VER COM O NOSSO OURO, AS NOSSAS RIQUEZAS MINERAIS?



AZUL e BRANCO: São as cores do Condado Portucalense, fundado em 1097. D. Henrique de Borgonha criou, como insígnia, uma bandeira também chamada “Bandeira da Fundação”: uma cruz esquartelando um campo em branco em partes iguais. São essas cores que o filho, Afonso Henriques, levará à batalha de Ourique, arvoradas na bandeira paterna. Após as primeiras vitórias sobre os mouros, Afonso Henriques lhe modifica o desenho mas mantém as cores, o mesmo AZUL e BRANCO que Luís de Camões defendeu como soldado e exaltou como poeta, “braços às armas feito, mente às musas dado”. Nos séculos XV e XVI as naus portuguesas ostentavam a bandeira do Comércio Marítimo, ou das Quinas nas cores AZUL e BRANCO. Isso aparece num dos primeiros mapas do Brasil, feito em 1534. Inúmeros brasões dos capitães feudais portugueses que vieram para o Brasil traziam a cor AZUL e BRANCO, como Aires da Cunha (no Maranhão), Pero de Góis (donatário da capitania de São Tomé) dentre outros. Inclusive é importante lembrar que as diversas versões das bandeiras e flâmulas da Marinha, desde que a corporação surgiu, só trazem AZUL e BRANCO.  OBSERVOU QUE NÃO TEM NADA A VER COM O BRANCO DA PAZ E O AZUL DOS RIOS E MARES?

OBSERVOU QUE A BANDEIRA DO BRASIL REPRESENTA TUDO, MENOS O BRASIL?  


 
Nos séculos XV e XVI as naus portuguesas ostentavam a bandeira do Comércio Marítimo, ou das Quinas nas cores azul e branco. Isso aparece num dos primeiros mapas do Brasil, feiro em 1534. Inúmeros brasões dos capitães feudais portugueses que vieram para o Brasil traziam a cor azul e branco, como Aires da Cunha (no Maranhão), Pero de Góis (donatário da capitania de São Tomé) dentre outros. Inclusive é importante lembrar que as bandeiras e flâmulas da Marinha, desde que a corporação surgiu, são azuis e brancas.
 

A EXPRESSÃO “ORDEM E PROGRESSO” nada mais é que a síntese do lema do Positivismo, uma doutrina - ou Filosofia - criada pelo filósofo Auguste Comte com a finalidade de defender o pensamento republicano. OBS. Aproveito para esclarecer que, ao contrário do que muitos afirmam -, a intelectual Nísia Floresta, que frequentou as famosas aulas ministradas por Comte, em Paris, tendo o conhecido e se tornaram amigos - não foi a responsável por trazer o Positivismo ao Brasil, como muitos comentam e já presenciei em palestra. Há até o recorte da fala dele sobre isso, em que Comte diz que Nísia Floresta seria uma excelente discípula sua se não fosse tão metafísica.

 


 

Pois bem, para ampliarmos as reflexões, vale a pena entender detalhes lá dos detrás dos detrases, tendo em vista que o Brasil teve outras e outras bandeiras antes dessa atual. Por exemplo, entre 1815 a 1821 vigorou a primeira bandeira do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, que é a hipotética bandeira armorial do Reino do Brasil. Digamos que essa é a trisavó da atual bandeira… seria trisavó mesmo?

Depois, entre 1822 a 1889, vigorou o Pavilhão Pessoal dos Príncipes Reais, adaptado como bandeira do Reino do Brasil, de setembro a dezembro de 1822. Em seguida veio a bandeira do Império do Brasil, durante o primeiro Reinado, com 19 estrelas, depois a bandeira do Império do Brasil, durante o segundo Reinado, com 20 estrelas, depois a bandeira criada por José Lopes, depois a bandeira criada por Rui Barbosa (adotada pelo Governo Provisório) durante quatro dias. Houve uma bandeira também em 1889, provisória, que mais parecia a bandeira dos Estados Unidos da América, inclusive até nisso houve a cópia "Estados Unidos do Brasil". E finalmente a bandeira atual…

 

Enfim, tentei resumir no máximo uma longa e detalhada história de cores e simbologias que pincelam a atual Bandeira Brasileira. Acho até poético os professores ensinarem essa coisa ufanista às crianças, mas – entendam como quiserem –, nós, brasileiros, nunca tivemos a Bandeira do Brasil de fato, criada numa concepção nossa, retratando a essência do Brasil. Em que parte estão representados os povos indígenas na Bandeira Brasileira? Eram milhões! E os povos africanos vindos para cá feito escravos, em que parte da bandeira eles estão? 

Bandeira serve para traduzir em imagens os pontos chaves da essência de algo.  Onde está o símbolo que retrate a inteligência genuinamente brasileira? Ninguém ainda desenhou. A bandeira brasileira, se assim podemos interpretá-la, em nada traduz o Brasil. O que temos é uma bandeira que arrastou a Europa toda para ela, retratando a Áustria, a Espanha e Portugal. Nada simboliza a brasilidade. A interpretação infantil e alegórica dita lá em cima, no primeiro parágrafo, consiste, na verdade, em gesto deseducativo, pois, além de não retratar o Brasil, é um ensinamento fabuloso. Já que foi criada essa bandeira como símbolo do Brasil, deveriam pelo menos explicar aos alunos os seus reais significados. 

Penso que desenhar uma bandeira para chamá-la de brasileira em sua essência, prediz uma síntese da história e da essência do Brasil, e jamais a síntese da história de Portugal e de outros países. Então ela deveria trazer em destaque os povos nativos, que já estavam aqui há milhares de anos - apelidados de “índios” - que habitavam todo o Brasil, falavam milhares de idiomas, e possuíam uma complexa e magnífica cultura. E eles continuam habitando e falando, mas em número incomparável, pois houve um genocídio maior do que o da Covid-19. Foram milhões de mortos. 

A bandeira brasileira que desabrocha da minha brasilidade tem sete pessoas segurando o mapa do Brasil, em pé, sobre o planeta Terra. Quatro homens e três mulheres (ou vice-versa). Seis representam os seis continentes, cujos seus figurinos retratariam a essência de cada região. A sétima pessoa representa os povos indígenas, teria um cocar e a flecha. No chão haveria uma corrente quebrada representando a liberdade dos povos africanos escravizados, os quais significaram o motor da economia inicial do Brasil. Sobre o mapa do Brasil haveria um ramo da flor do pau Brasil representando essa árvore cheia de simbologia, inclusive, sua cor amarelo-ouro retrata as riquezas das mais diversas do nosso país. Lá atrás, no horizonte, teríamos pés de café, coqueirais e canaviais. Há uma representação da invasão dos portugueses, que chamamos de "descobridores". No fundo dessa imagem teríamos a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, em pé, trajando um vestido todo feito de labirinto, segurando um livro representando as obras completas de Machado de Assis. É uma homenagem à inteligência brasileira.



Finalizando a bandeira do Brasil saída dos meus dedentros... você já prestou atenção na bandeira de Portugal? A faixa maior é vermelha, evocando o aspecto ibérico da Espanha. Essa bandeira teria ao fundo, sob o brasão já explicado, uma larga faixa na cor vermelha (COMO É A DE PORTUGAL). É a representação do sangue de milhões de indígenas e escravos africanos. Seria a representação genuína de um duplo morticínio. No topo dessa faixa vermelha haveria uma coroa (seria a única representação de Portugal, até porque não podemos negar a História). Essa faixa vermelha teria em cima e em baixo, a cor branca (como um sanduíche, cujo recheio fosse o vermelho). Atravessando essas cores vermelha e branca, há o imenso rio Amazonas, descendo sinuosa e verticalmente do topo à base do retângulo. Essa é a bandeira do Brasil, segundo a minha interpretação.

 

Tantos anos se passaram e se esqueceram de criar a bandeira verdadeiramente brasileira, em que todos nós – brasileiros -, descendentes de povos indígenas, pretos, brancos e amarelos, autores que somos de uma inteligência nossa – brasileira –, nos reconhecêssemos, nos identificássemos e nos enxergássemos nela… Bandeira é a identidade de uma nação.

A bandeira do Brasil é o símbolo do nosso país, e não de outros país, como constatamos nessas informações históricas que tentei resumi-las.  Se analisarmos com honestidade, a Bandeira do Brasil ainda está por se desenhar. Alguns equivocados poderão tentar desvirtuar esta reflexão, associando a ideia ao Comunismo, Socialismo, PT, coisa de esquerda etc. Pois essa é a moda daqueles que não tem o que dar. A bandeira deve comunicar que a maior parte de uma nação legítima foi assassinada, e escorreu sangue... e sangue é vermelho... 20.10.20


A lei diz que não se usa a bandeira para vestir o corpo , arrastá-la no chão, fazer camisetas, bonés etc. Existe a maneira certa de dobrá-la, guardá-la e até mesmo aposentá-la (entregando-a ao Exército para ser incinerado em solenidade enfim há muitas recomendações que, se desrespeitadas, dão até prisão). Mas um detalhe é fundamental: é importantíssimo respeitarmos a Bandeira Brasileira, mas muito mais importante é respeitamos os brasileiros... isso está em falta...

 

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