Com a morte do Sr. Benedito, mestre de Boi-de-Reis de Nísia Floresta, fiquei pensando sobre a morte, exatamente morte e consequências quando se trata do desaparecimento dos saberes populares. É certo que, antes de se tratar de um mestre, de um brincante de folclore, há a morte de um pai, um avô, um amigo - fato que nos consterna -, mas em seu caso há um homem maior, que se soma a esse primeiro homem. Ele, sem estudo algum, detinha conhecimentos notáveis. Havia nele uma ilustração no que concerne ao domínio sobre a arte de exercer o Boi-de-Reis. Isso funciona como impressão digital. É uma identidade que não permite cópias. O máximo que podemos ter desse homem, hoje, é o seu legado que se despreendeu dele e caiu no colo de uma cidade. Mas esse legado não será igual nos outros, pois ele era ele. Era único. A grande dádiva dessa perda é saber que um dia o Sr. Benedito foi uma criança, foi um adolescente e construiu-se nele tudo o que ele foi. Ele herdou e deixou uma herança. Essa é a esperança que ficou para a cidade, portanto esperanço que a sua família perpetue a sua memória e siga se construindo na arte de brincar o Boi-de-Reis. É certo que temos o privilégio de contar com mais dois grandes mestres, Canindé e Antonio. Louvado sejam os seus nomes. Vida longa para eles! Mas, como o assunto é o mestre Benedito, urge que as autoridades deem todo o apoio necessário ao grupo do Boi-de-Reis de Nísia Floresta para que esse bem maior de Nísia Floresta tenha condições de existir plenamente.
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