JÓIA RARA DO NOSSO FOLCLORE
Mandei fazê um liforme
Bem feito, com perfeição,
Mode botá na cidade no dia da enleição,
E o qual admiro
A toda população.
O chapéu de arroz doce,
Forrado de tapioca,
As fitas de alfenim
E as fivelas de paçoca,
E a camisa de nata,
E os botões de pipoca
A ceroula de soro
E a calça de coalhada
E o cinturão de mantêga
E o broche de carne assada,
O sapato de pirão
E as biqueiras de cocada,
As meias de mingau
E os véus de gergelim,
E as aspas de pão-de-ló
E o anelão de bulim,
As fitas de gordura
E as luvas de toicim.
O colete de banana
E o fraque de carne frita,
O lenço de marmê
E o lecre de cambica,
E o colarim de bolacha
E a gravata de tripa.
O relógio de queijo
E a chave de rapadura,
A caçuleta de doce
E o trancelim de gordura.
Quem tem um liforme deste
Pode julgar-se em fartura”.
Canção de autoria do cego Raimundo Leão de Sales, colhida por Assis Iglésias em 1919, em São Luiz do Maranhão, durante uma feira pública. Publicado por Câmara Cascudo. Pela data e por algumas palavras, como "trancelim" e o relógio (funcionando a chave), pode a letra ter quase trezentos anos.
Significados das palavras: Bulim: bolinho – Toicim: toicinho – Marmê: farinha puba ou farinha ferventada – Cambica: vinho da palmeira do buriti.
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