terça-feira, 22 de agosto de 2023

Ana Catarina: nasce uma artista plástica sob as bençãos de Zila mamed...


Hoje, dia do Folclore, também foi dia de dádivas. Tive a graça de visitar a Biblioteca Rômulo Wanderley para contemplar as honrarias feitas à insigne poetisa Zila Mamed. Hoje ela faria 90 anos se estivesse viva fisicamente. Digo isso porque Zila vive intensamente em todo leitor que se presenteia com os seus poemas. O evento, florescido da inteligência notável da escritora e artista plástica Ana Catarina Fernandes, consistiu num bálsamo para a alma de todo amante das letras e, em especial, quem igualmente é artista plástico, como é o meu caso.

A festividade, batizada como ”Zila Mamed, entre terra e mar oceano”, e que posso anunciá-la como um sarau, foi aberta pela educadora Angélica Vitalino. Ela agradeceu aos professores, escritores, intelectuais e autoridades presentes, passando a palavra para Delmira Santiago, secretária adjunta de educação, e em seguida para Ana Catarina, que declamou lindamente um poema da nossa Zila.O evento foi um prêmio. Ali estavam várias pessoas que tenho profundo respeito e admiração, motivos que me conduziram até ali.

 

Ana Catarina é uma metamorfose. Conheço-a há um bom tempo como educadora, depois descobri nela a escritora e, agora, a artista plástica. Em junho estive num sarau belamente organizado por ela e fui um dos que se encantou com a maestria como ela conduziu - performaticamente - o agradável encontro de amigos. Ela discorreu sobre três escritores com uma elegância e delicadeza incomuns, e nesse conjunto de habilidades fez o tempo voar.


 


Mas devo confessar que, apesar da grandiosidade e significação do sarau, um detalhe se igualou em mérito. Refiro-me aos painéis assinados por Ana Catarina, dispostos naquele panteão sagrado dos livros. Que obras mais lindas! Encantei-me com a criatividade, delicadeza, e singularidade compositiva.

Pareceu-me que Ana Catarina pretendeu traduzir as obras de Zila em imagens. Zila, que, talvez, em outra vida, foi sereia, ou que se imaginava sereia em vida, privilegiou o mar em muitos de seus poemas. Amou tanto o mar que o mar a amou derradeiramente. O painel maior - não sei se tinha título - não perguntei - comportou-se como o arado de Zila, que arou a sua narrativa poética com muitas memórias… e Ana Catarina - no painel maior - arou o mar, pincelando-o de peixes que só ela soube fazer, pois brotou de sua imaginação, fluída do sal do mar.

São peixes de tecidos tingidos de sentimentos poéticos, costurados com as linhas das memórias da mãe e avó da autora, apegada a essas matronas. E com razão! Eu disse a Ana Catarina que só os peixes e, diga-se de passagem, os aquários consistem num impulso artístico singular. Eles também roubam a cena. Aqueles seres das águas, por si, saltam aos olhos e inauguram uma forte característica na autora.


Ana Catarina explicou que não gosta da expressão “eu fiz”, “fui eu”... e isso se dá porque todos os que produzem algo, bebem nas mais diversas fontes e, ao criar, não há como não trazer um pouco do “nós”. Pois bem, o “nós” de Ana Catarina vem carregado de ineditismo. Por mais que ela esteja em sua fase inicial, há uma grande revelação em sua obra. Os elementos mais simples, como papel cartão, transformados em algas, se imiscuem no conjunto da obra, onde também passeiam linha de costura, crochet, giz de cera, colagens, moldes vazados, palavras bordadas com linhas e colagens, arando um cenário que enche os olhos de poesia.

 

 

Zila dispensa palavras, pois está entre os grandes nomes da poesia do Brasil. Ana Catarina foi muito feliz em louvar com a sua inteligência artística a nossa maior poetisa que, diga-se de passagem, também foi uma grande intelectual. O futuro promete, pois nasce uma artista plástica sob as bençãos de Zila mamed...



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