terça-feira, 5 de março de 2024

Acta Noturna - Antonio de Sousa (Polycarpo Feitosa) - "Quase Romance Quase Memória"...

Polycarpo Feitosa

O livro intitulado “Quase Romance, Quase Memória”, assinado por Polycarpo Feitosa, alcunha de Antonio José de Melo e Souza (Papary: 24.12.1967 - Recife: 5.7.1955), foi publicado em 1969, pela Imprensa Oficial, com apoio do IHGRN e ANRL muito tempo após a morte do autor, graças à compreensão da irmã do escritor, dona Isabel Emiliana de Melo e Sousa, que disponibilizou os manuscritos. É uma obra não concluída, mas bastante vasta e com informações preciosas. Antonio de Sousa era um grande observador de tudo. Altamente crítico. Foi governador algumas vezes e ocupou pastas respeitáveis no estado. Embora esquecido pelas grandes massas, é figura conhecidíssima nos meios intelectuais norte-rio-grandenses. É considerado por especialistas como uma revelação na Literatura do período modernista, embora não seja reconhecido nacionalmente como tal. No capítulo “No tempo da República”, o autor estuda os primeiros dias do novo regime, entre nós, figuras principais, posição de liberais e conservadores, destacando o jornal “A Alvorada”, ou seja, A República, como centro das atividades republicanas. Quem conhece a história social e política do estado, idetifica logo, em Paulo Júnior, A. Benévolo, Andrade Brasil, as figuras de Pedro Velho, o Líder, e Augusto Severo e Brás de Melo, os redatores do jornal.O dr. Deodato Juazeiro, bacharel em direito, filho de  fazendeiro, poeta por desenfado, iniciannte em política, candidato a deputado, está a exigir um exame mais detido, a fim de ser devidamente identificado. 


No segundo capítulo “Diário de um recolhido”, memórias igualmente inacabadas, o autor analisa tipos e figuras da vida político-partidária potiguar, sem descer ao mau gosto do remoque e da pilhéria picante e dessaborida. As figuras de seu diário, tocadas pela magia do seu estilo, retornam, assim, ao cotidiano da vida norte-rio-grandense, mais engrandecidas e atualizadas, na palavra comedida e austera do memorialista contemporâneo. José Augusto, Castriciano, Sebastião Fernandes e tantos outros são ali discutidos, observados e analisados à luz dos fatos de sua época, por um autêntico observador da vida nordestina. Antonio de Sousa possuía uma biblioteca impecável. Era poliglota e assinava algumas revistas internacionais. Escreveu em diversos jornais potiguares e na revista do IHGRN. 

Maria Alice de Melo e Sousa


Dedicou-se principalmente ao conto e ao romace de costumes, escrevendo e publicando vários livros de ficção, com destaque pa “Flor do Sertão” (1928) e “Gizinha” (1930) Quando governador, marcou época, tendo em vista que era muito enérgico e exigente nas coisas públicas. É muito citada a sua honestidade. Tinha umas excentricidades. Certa vez, aleatoriamente, sua irmã recebeu uma jóia de um empresário natalense. Antonio de Sousa mandou que ela devolvesse imediatamente. O empresário queria privilégios em compras. O governador indeferiu imediatamente a sua má intenção. Dizem que mandou retirar o pneu do carro oficial para que ninguém usasse. 

Maria Isabel Emiliana de Melo e Sousa


Nasceu e morreu solteiro. Em 1997 fui procurado pelo dr. Erich Gemeinder, de São Paulo, profundo pesquisador e conhecedor da vida e obra de Antonio de Sousa. Não pude ajudá-lo, pois até então não possuía grandes coisas. O melhor de tudo é que ficamos amigos. Enviei-lhe uma revista da UFRN e recebi dele "O Bando", de 1955. Muito tempo depois chegou às minhas mãos relíquias de Antonio de Sousa, mas Erich Gemeinder havia falecido. Cedi alguma parte para o dr. Manoel Onofre Jr. É assim... a História é assim...

Do livro “Quase Romance, Quase Memória” retirei alguns ditos populares curiosos, já que não devo contar o conteúdo. Vejamos:

“Pobre como urubu de sertão em ano de inverno e sem epizootias”

(p.33)

“Quem tem uma pena e não tem vaidade ainda vai nascer” (p.33)

“Os cabelos de uma serra estão sempre sujeitos aos ventos de todos os quadrantes” (p.46)

“Não há nada melhor que que um dia atrás do outro e uma noite no meio” (p.46)

“É como macaco em loja de louças” (p.51)

“Pobre arbusto seco que, incapaz de dar frutos, apenas cria bichos para estragar os dos outros” (p.52)

“Cachorro com gafeira não pode deixar de se coçar” (p.52)

“É como paletó de estudante pobre, quando está muito sujo, como estava o Império, leva-se ao adelo, este desmancha tudo, vira o pano pelo avesso, põe novos forros, e aí está uma farpela nova… mas o pano é o mesmo, com o sujo escondido” (p.55)

“Todo sujeito avarento é mau” (p.54)

“Olhos de carneiro mal morto” (p.78)

OBS. As fotografias trazem Antonio de Sousa e suas irmãs, Maria Alice de Melo e Sousa e Maria Isabel Emiliana de Melo e Sousa. 6.6.2016.

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