domingo, 21 de abril de 2024

ACTA NOTURNA – DÉCADA DE 40 - NATAL/RN: EMBARQUE DOS NORTE-AMERICANOS MORTOS DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL...



Durante a Segunda Guerra Mundial, Natal recebeu os caixões com os restos mortais dos soldados norte-americanos, mortos em diversas partes do mundo. Os ataúdes foram trazidos para a Base Aérea Norte-Americana instalada em Natal/RN, sepultados provisoriamente em solo potiguar como uma espécie de acomodação temporária, cujos ossos seriam trasladados ao final da guerra, como de fato aconteceu. Também aconteceu de soldados chegarem aqui muito feridos e vinham a óbito em seguida.
 
À ocasião do translado, todos foram cobertos com a bandeira daquele país. A Guerra trouxe alguns avanços para Natal e imediações, por mais irônico que pareça. Como dizem, foi o único lugar no mundo que lucrou com esse mal. Os norte-americanos chegaram por aqui em 1942 e partiram em 1945. Foi um período eufórico. Muita transformação. Muita novidade. Os natalenses, ainda sob efeito do maior choque até então – proveniente da “Intentona” Comunista – tremeram com toda sorte de novidades. E os norte-americanos também. Eles conheceram as presepadas dos potiguares. Quase urubu por galinha. Compraram saguis selvagens - meigos e doces, sob efeito de cachaça - mas, despertados da água que passarinho não bebe, ‘tascaram’-lhes mordidas. Por sorte havia antirrábica em estoque. Aprenderam que brasileiro é criativo. Aprenderam que o povo potiguar levanta uma casa em um dia. 
 
Tom Browning, de 22 anos

Daqui eles levaram centenas das famosas “Natal Boots”, feitas pelo sapateiro Edísio. Ele enriqueceu depois que sua invenção agradou aos filhos do Tio Sam, os quais desconheciam aquele modelo. Casamentos? Houve muitos. Mas muitos pais e mães norte-americanos choraram a perda de seus filhos, os quais saíram alegres e esperançosos de diversas regiões dos Estados Unidos, dizendo “vou para a guerra, mas volto!” E voltaram, mas mortos. Assim também foi o caso de muitos brasileiros, no céu, na terra e no mar. 
 

Dentre poucos americanos mortos exatamente em solo natalense, um permaneceu enterrado no Alecrim, vítima de meningite. Foi Tom Browning, de 22 anos (esse da fotografia 3x4). A noiva brasileira pediu que não levassem o seu corpo. Os pais do noivo aceitaram aquela espécie mórbida de casamento. Com certeza amenizava as dores de ambos os lados. Contam que, enquanto teve vida, ela chorou sob o seu túmulo... coisas que talvez não existem mais... coisas do passado... coisas da guerra... São os bastidores da história de Natal, dentre incontáveis outros…

 

 

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