domingo, 14 de julho de 2024

 


“Passei o dia ouvindo o que o mar dizia”  (Antonio Botto)


Eu ontem passei o dia

Ouvindo o que o mar dizia.

Choramos, rimos, cantamos.

Falou-me do seu destino,

Do seu fado…

Depois, para se alegrar,

Ergueu-se, e bailando, e rindo,

Pôs-se a cantar

Um canto molhado e lindo.

O seu hálito perfuma,

E o seu perfume faz mal!

Deserto de águas sem fim.

Ó sepultura da minha raça

Quando me guardas a mim?…

Ele afastou-se calado;

Eu afastei-me mais triste,

Mais doente, mais cansado…

Ao longe o Sol na agonia

De roxo as águas tingia.

«Voz do mar, misteriosa;

Voz do amor e da verdade!

– Ó voz moribunda e doce

Da minha grande Saudade!

Voz amarga de quem fica,

Trêmula voz de quem parte…»

. . . . . . . . . . . . . . . .

E os poetas a cantar

São ecos da voz do mar.

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