sábado, 17 de maio de 2025

CELEBRANDO O CENTENÁRIO DE CLARA CHARF: UMA VIDA DE CORAGEM, DEDICAÇÃO E INSPIRAÇÃO



No próximo mês, comemoraremos o centenário de nascimento de Clara Charf, uma mulher cuja trajetória representa um exemplo de resistência, coragem e compromisso com a justiça social. Conhecê-la pessoalmente, em 2006, foi uma experiência que marcou profundamente minha vida. Tive a oportunidade de conversar com ela por cerca de uma hora no Palácio do Planalto, momento em que pude testemunhar sua serenidade, sua consciência aguçada do Brasil e seu compromisso inabalável com a luta por um país mais justo. Troquei cartas com Clara, e essa troca de correspondências reforçou ainda mais o orgulho que sinto por ter tido a chance de estabelecer uma conexão com uma mulher de tamanha integridade e dedicação.

Clara Charf foi esposa de Carlos Marighella, uma figura emblemática na história da resistência brasileira contra a ditadura militar. Marighella foi político, escritor e guerrilheiro marxista-leninista, foi um dos principais organizadores da luta armada contra o regime, chegando a ser considerado o inimigo número um do Estado. Clara foi uma defensora incansável de seu legado, responsável por divulgar sua memória e preservar sua história, contribuindo para que suas ações e ideais não fossem esquecidos.



Nascida em 1925 na capital alagoana e criada no Recife, Clara veio de uma família de origem judaica russa que fugiu da perseguição antissemita no Leste Europeu. Desde jovem, foi influenciada por um ambiente de efervescência política, marcado pela vitória soviética e pelo fim da Segunda Guerra Mundial. Sua militância começou cedo, inicialmente participando de comícios e propagando ideias comunistas, motivada pela pobreza e miséria ao seu redor. Aos 21 anos, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), apesar da oposição de seu pai, Gdal Charf, que não acreditava na sustentabilidade da democracia e desaprovava sua militância.

Durante sua trajetória, Clara enfrentou inúmeros obstáculos, incluindo prisões, perseguições e exílio. Sua coragem foi demonstrada ao fugir de casa após o conflito com seu pai, refugiando-se na casa de uma deputada e, posteriormente, vivendo na clandestinidade ao lado de Marighella. Sua atuação na militância foi marcada por dedicação intensa, desde a organização de movimentos femininos até a participação em missões internacionais, como sua viagem à China e sua atuação na formação de escolas em Campinas.

A relação de Clara com Marighella foi marcada por amor, companheirismo e resistência. Apesar das dificuldades, eles permaneceram juntos por 22 anos, enfrentando a repressão e a clandestinidade. Sua prisão em Campinas, sua prisão por suspeita de espionagem e sua subsequente exilação em Cuba, onde trabalhou como tradutora por nove anos, são testemunhos de sua coragem e determinação.


Ao retornar ao Brasil após a promulgação da Lei da Anistia, Clara continuou sua luta por justiça e direitos humanos. Filiada ao PT, candidatou-se a deputada estadual, atuou na Secretaria de Mulheres e na Secretaria de Relações Internacionais do partido, além de fundar a Associação Mulheres pela Paz. Sua trajetória é marcada por reconhecimentos, como o Diploma Bertha Lutz, o Prêmio Rose Marie Muraro e o título de cidadã paulistana, concedido pela Câmara Municipal de São Paulo.

Ter tido a oportunidade de estabelecer uma relação, ainda que sutil, com essa notável mulher, é algo que considero uma chama que acende em mim uma luz interior, fortalecendo minha coragem e determinação para lutar contra os desafios e as injustiças que permeiam nosso país. A inspiração que Clara Charf representa é um farol que ilumina o caminho de todos aqueles que buscam um Brasil melhor para todos. Nada mágico, mas um Brasil sem diferenças econômicas abismais, onde os pobres tenham dignidade e vivam numa nação verdadeiramente civilizada. Viva Clara Charf! Luís Carlos Freire. 17.05.2025, 11h42

 

 


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