quarta-feira, 27 de agosto de 2025

CORDEL DO DIA QUE MARIA MULA-MANCA, ZÉ AREIA E MARIA BOA, APARECERAM PARA GUTEMBERG COSTA NA RIBEIRA...


I - O encontro inusitado


Na Ribeira iluminada,

Numa noite faceira,

Gutemberg, cheio de crença,

Tomava pinga caseira.

Entrevistava a benzedeira,

De mão firme e respeitada,

Quando a porta se escancarou,

Zé Areia entrou com risadaiada.


Gutemberg, assustado, quase tombava

Da cadeira do balcão,

Pois sabia que o malandro

Já morava no caixão.

Mas lembrando suas histórias

E vencendo a comoção,

Resolveu bater um papo

Com respeito e devoção.


Na Ribeira iluminada,

Vive eterna tradição.


II - O espanto e a saudade


- “Ò Zé, que grande alegria

Encontrar-te na Ribeira!

O senhor já foi da glória,

Improviso e brincadeira.

Hoje o povo se distrai

Na tal rede costumeira,

Mas cadê o riso largo

Da Natal tão verdadeira?”


Zé Areia deu gargalhada,

De fazer chão estremecer:

- “Meu amigo dotô, no outro mundo

Nem sobra tempo pra sofrer.

Aqui embaixo era bom,

Com folia pra valer,

E até vendi papagaio

Que não sabia nem ler!”


Na Ribeira iluminada,

Vive eterna tradição.


III - O carnaval de outrora


Gutemberg se benzeu logo,

Fez três rezas, coçou a testa,

Mas o medo foi embora

Com a força dessa festa.

Falou do velho carnaval,

Com marchinha sempre honesta,

Onde a rua se enfeitava

Sem briga, só pura gesta.


- “Era festa de família,

Não havia confusão,

Cada esquina tinha banda,

Era pura diversão.

Hoje em dia a cantoria

Não traz verso nem paixão,

Só repete a mesma frase

Que não leva inspiração.”


Na Ribeira iluminada,

Vive eterna tradição.


IV - Maria Boa entra em cena


De repente, alegre e forte,

Maria Boa apareceu,

Com riso de atrevimento

E uma piada que teceu:

- “Quem só vive de saudade,

Se esquece do que viveu!

Natal ainda é folia,

Basta olhar o que nasceu.”


Era dama respeitada,

Entre briga e gargalhada,

Defendia marinheiros

Na calçada iluminada.

Entre copos e batuques

Fez história consagrada,

Sendo musa da boemia

Da Ribeira encantada.


Na Ribeira iluminada,

Vive eterna tradição.


V - A chegada de Maria Mula Manca


Mancando pela calçada,

Outra figura chegou,

Era Maria Mula Manca,

Que na briga se firmou.

Defendia Dinarte Mariz

Com a força que herdou,

E na política da rua

Seu respeito conquistou.


Com o dedo em riste e bravo,

Logo quis participar:

- “Se tem papo de Natal,

De política vou falar!

Pois memória da cidade

Ninguém pode apagar,

E quem nega sua história

Vai com o vento voar!”


E acrescentou com firmeza,

De voz rouca e decidida:

— “Falta homem de palavra,

Que defenda a sua lida!

Dinarte foi um gigante,

Nessa terra tão sofrida,

Hoje só vejo promessa

Que se perde na descida.”


- “Era briga na calçada,

Era rixa no café,

Mas Dinarte tinha pulso,

Tinha honra e tinha fé.

Hoje falta liderança

Que se imponha como é,

Homem reto, sem enrolar,

Que não corra do que é!”


Gutemberg riu nervoso,

Zé Areia gargalhou:

Maria Boa rebateu,

Mas no fundo concordou.

Pois Natal sempre guardava

Quem no peito lutou,

E Maria Mula Manca

Mais uma vez defendeu.


Na Ribeira iluminada,

Vive eterna tradição.


VI - O riso se espalha


Gutemberg ficou pasmado

Com figuras do passado,

Parecia uma procissão

De folclore consagrado.

Era riso em toda parte,

O boteco encantado,

E o povo que ali passava

Ficou logo abismado.


Zé Areia então falou

Com malícia e emoção:

- “Se eu tivesse hoje vivo,

Improvisava o baião!

Cantaria na calçada,

Rimaria no salão,

Que o folclore nunca morre

Dentro do povo cristão.”


Na Ribeira iluminada,

Vive eterna tradição.


VII - A despedida


O relógio bateu forte

Meia-noite na esquina,

A benzedeira rezava

Com a fé sempre divina.

Zé Areia se afastava,

Com a face cristalina,

Deixando no ar da rua

Uma brisa nordestina.


Gutemberg de copo erguido,

Pensativo, emocionado:

- “Natal guarda em sua gente

Um passado abençoado.

Pois quem vive na lembrança

Nunca será sepultado,

E no peito da Ribeira

Segue sempre celebrado.”


Na Ribeira iluminada,

Vive eterna tradição.


VIII - O fecho


E ficou naquele canto

Um silêncio de emoção,

Mas também uma certeza

Guardada no coração:

Que Natal, mesmo moderna,

Não perdeu sua canção,

Pois o riso ainda ecoa

Na memória da nação.


Na Ribeira iluminada,

Vive eterna tradição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário