sexta-feira, 22 de agosto de 2025

HOJE É DIA DO FOLCLORE, MAS ONDE ESTÁ O FOLCLORE DA CIDADE?

 

Vivemos na terra onde nasceu e bem viveu uma das mais geniais figuras da história do Brasil: Luís da Câmara Cascudo. E esse homem - graças a ele - salvou um planeta inteiro de informações que, se não tivesse sido Cascudo, tudo teria desaparecido. E, nesse planeta, o insigne potiguar salvou um país inteiro em sua Cultura Popular. Esse estado, o Rio Grande do Norte, tem o dever moral e histórico de ser referência na existência da plenitude de sua cultura popular. Esse dever deve ser sagrado e a cada dia ser reconstruído dentro das crianças, nos anos iniciais. 

Esse dever deve ser o arroz e feijão de toda autoridade potiguar e de todo gestor cultural. Esse dever deve pertencer a todas as instituições culturais e educacionais do Brasil. Como pode, na terra que nasceu um intelectual louvado em todo o Brasil, pai da preservação da nossa cultura popular, ver desaparecer elementos do nosso Folclore.      

Pois bem, o dia do Folclore nos convida a contemplar uma das mais profundas fontes da nossa humanidade: a cultura popular que, em sua pluralidade, nutre identidades, afirmações coletivas e o sentido de pertencimento. O folclore não é uma poção estática de costumes isolados; é um organismo vivo que pulsa nos gestos, nas palavras, na alimentação, na dança, na música, nos ritos e nas narrativas que atravessam gerações. Enquanto houver humanidade, haverá o folclore, porque a cultura popular é a memória em movimento, um mapa vivo das inúmeras formas de sentir e viver comuns a cada região do nosso imenso Brasil.


Porém, é necessário reconhecer uma dolorosa fragilidade: ao longo dos anos, a salvaguarda da cultura popular de cada município não recebeu, de forma sistemática, as estratégias que o seu valor exige. Em muitos lugares ouvimos manifestações de esquecimento e perda: “antigamente havia o Pastoril”, “antigamente havia a Lapinha”, “antigamente contavam histórias de assombração”, “antigamente existia a festa tal”.



Essas falas refletem uma transição que não decorreu apenas do tempo, mas de políticas públicas ausentes, de lacunas de planejamento cultural e da fragilidade de transmissão entre as gerações. Mestre e brincantes, detentores de saberes que custaram vida e memória, muitas vezes partiram sem que houvesse uma passagem bem delineada para seus herdeiros. O resultado é uma erosão silenciosa: tradições que, sem registro, sem continuidade, podem desaparecer.


Diante desse quadro, surge uma convicção poderosa: a proteção efetiva da cultura popular exige, de modo inadiável, um arcabouço institucional que a reconheça como patrimônio vivo e dinâmico. A proposta de ações legislativas em nível municipal não é meramente administrativa; é um compromisso ético com a identidade do povo. A criação de leis municipais que institua a apresentação folclórica como parte obrigatória de aberturas de eventos públicos e privados, a priorização de programas educativos que incorporem dança, música, dramaturgia e artes do corpo ligadas ao folclore, e a publicação de obras que registrem a histórica e a contemporânea expressão popular, são passos inaugurais para assegurar orçamento, continuidade e formação de novos praticantes.

É indispensável que cada município crie mecanismos para registrar, valorizar e perpetuar as manifestações locais. Quando houver mestres idosos, deve-se documentar integralmente o folguedo: coreografia, vestimentas, origem e trajetória da dança, história do mestre, bem como a criação de grupos mirins que preservem a prática para as futuras gerações. Folclore, afinal, é planeta que cabe na nossa rotina: está na alimentação, nos gestos, nos fazeres, na música, na dança, em tudo. A grande missão é preservar e revitalizar: não engessar a expressão, mas salvaguardá-la, relê-la, recriá-la com fidelidade à sua essência e com a ousadia de sua renovação.

Ao afirmar que “hoje é dia do Folclore” com seriedade, precisamos que haja, antes de tudo, uma sensibilidade pública e uma estrutura legal que assegurem esse compromisso. Leis que garantam a existência do folclore não significam congelamento da tradição; significam proteção para que o conhecimento tradicional não seja apenas lembrança, mas fonte de vida contínua para as comunidades. O respeito à diversidade é o caminho, e a preservação responsável é a ponte entre memória e futuro.

Que este dia seja, portanto, uma celebração consciente: um chamado à ação que envolve educação, cultura, políticas públicas e participação da comunidade. Que cada município veja no folclore não apenas um repertório de apresentações, mas um patrimônio vivo que requer cuidado, registro, estudo e reapropriação criativa. Assim, o folclore permanece, resistindo às amarras do esquecimento, porque, enquanto houver humanidade, haverá cultura popular que nos conecta, ilumina e transforma.








































































































































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