quarta-feira, 24 de maio de 2023

Papary...


A esdrúxula e imponente árvore testemunhou a escravidão negra. 

O sangue dos escravos fortaleceu a terra dorida de mães e pais pretos...

O suor dos cambiteiros nutriu o melaço dos engenhos, sob amargor dos chicotes impiedosos...

Gemidos, choros, gritos, clamores...

Sinhazinhas e 'dotozinhos' estudavam na Europa, moucos...

No oratório de jacarandá  regado a santos, inhazinha rezava, 

Enquanto o nhozinho fornicava a pretinha no quarto ao lado,  

Era o senhor da casagrande e de todas as grandezas...

Quase-Deus...

Ao meio dia o engenho apitava a hora da merenda.. 

Preto, milho,

Sinhô, peru...

Às dezoito horas o campanário soava a hora  do Angellus...

A carruagem passava passadiça ,

Pesada de pecado.

O nhozinho ia rezar,

A inhazinha ia rezar,

A preta ia rezar seu choro...

E o baobá olhava, mudo qual a preta...

Esdrúxula árvore de flores nascidas de cabeça para baixo,

Testemunha de tudo,

Tocaia de assassinato de prefeito...

O que mais testemunhou?

O que testemunha hoje?

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