terça-feira, 6 de junho de 2023

Metamorfoses (1911) Emiliano Perneta


 

Sei que há muita nudez e sei que há muito frio,

E uma voracidade horrível, um furor

Tão desmedido que, quando eu acaso rio,

Quantos não estarão torcendo-se de dor.

 

Conheço tudo, sim, apalpo, indago, espio...

Tenho a certeza que vá eu para onde for,

Como o escaravelho, hei de o ódio sombrio

Ver enodoar até o seio de uma flor.

 

Mas sei também que há mil aspirações estranhas,

Que havemos de subir montanhas e montanhas,

Que a Natureza avança e o Homem faz-se luz...

 

Que a Vida, como o sol, um alquimista louro,

Tem o dom de poder mudar a lama em ouro,

E em límpidos cristais esses rochedos nus!

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário