ANTES DE LER É BOM SABER...

CONTATO: (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. Este blog - criado em 2008 - não é jornalístico. Fruto de um hobby, é uma compilação de escritos diversos, um trabalho intelectual de cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos de propriedade exclusiva do autor Luís Carlos Freire. Os conteúdos são protegidos. Não autorizo a veiculação desses conteúdos sem o contato prévio, sem a devida concordância. Desautorizo a transcrição literal e parcial, exceto breves trechos isolados, desde que mencionada a fonte, pois pretendo transformar tais estudos em publicações físicas. A quebra da segurança e plágio de conteúdos implicarão penalidade referentes às leis de Direitos Autorais. Luís Carlos Freire descende do mesmo tronco genealógico da escritora Nísia Floresta. O parentesco ocorre pelas raízes de sua mãe, Maria José Gomes Peixoto Freire, neta de Maria Clara de Magalhães Fontoura, trineta de Maria Jucunda de Magalhães Fontoura, descendente do Capitão-Mor Bento Freire do Revoredo e Mônica da Rocha Bezerra, dos quais descende a mãe de Nísia Floresta, Antonia Clara Freire. Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, um dos maiores genealogistas potiguares. O livro pode ser pesquisado no Museu Nísia Floresta, no centro da cidade de nome homônimo. Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta, membro da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, sócio da Sociedade Científica de Estudos da Arte e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Possui trabalhos científicos sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicados nos anais da SBPC, Semana de Humanidade, Congressos etc. 'A linguagem Regionalista no Rio Grande do Norte', publicados neste blog, dentre inúmeros trabalhos na área de história, lendas, costumes, tradições etc. Uma pequena parte das referidas obras ainda não está concluída, inclusive várias são inéditas, mas o autor entendeu ser útil disponibilizá-las, visando contribuir com o conhecimento, pois certos assuntos não são encontrados em livros ou na internet. Algumas pesquisas são fruto de longos estudos, alguns até extensos e aprofundados, arquivos de Natal, Recife, Salvador e na Biblioteca Nacional no RJ, bem como o A Linguagem Regional no Rio Grande do Norte, fruto de 20 anos de estudos em muitas cidades do RN, predominantemente em Nísia Floresta. O autor estuda a história e a cultura popular da Região Metropolitana do Natal. Há muita informação sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, o município homônimo, situado na Região Metropolitana de Natal/RN, lendas, crônicas, artigos, fotos, poesias, etc. OBS. Só publico e respondo comentários que contenham nome completo, e-mail e telefone.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

CRIME AMBIENTAL EM NÍSIA FLORESTA
CARTA ENVIADA A PROMOTORA DE JUSTIÇA DE NÍSIA FLORESTA - ÀS PROMOTORAS DO MEIO-AMBIENTE DE NATAL GILKA DA MATTA E ROSSANA SUDÁRIO - AO MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (EM BRASÍLIA) - AO IDEMA E IBAMA (EM NATAL) - AOS VEREADORES DE NÍSIA FLORESTRA - PADRES E PASTORES E DIRETORES DE ESCOLA DE NÍSIA FLORESTA.
Nísia Floresta, 20 de agosto de 2009
Exma. Sra. Promotora de Justiça da Comarca de Nísia Floresta
Na condição de cidadão comum, brasileiro, casado, professor, atualmente diretor de escola (em Parnamirim), residente e domiciliado em Nísia Floresta, ao lado da Igreja Matriz, dirijo-me a V. Excia. para denunciar e pedir as providências que forem cabíveis com relação a uma obra que está sendo construída próxima ao nosso município.
Como pode ser constatado, encontra-se em execução às margens da BR 101, exatamente no retorno de acesso aos municípios de São José de Mipibu e Nísia Floresta, uma obra de grande porte com o propósito de dar vazão a resíduos, e provavelmente ao esgoto mipibuense.
Pela dimensão do projeto, nota-se que o volume de esgoto in natura que será jogado no ecossistema da região, precisamente no Rio Mipibu e na Lagoa Papari é de milhares de litros diários. Verifiquei que o projeto, pelo andamento da obra, inexplicavelmente não contempla uma estação de tratamento de esgoto – prática inconcebível nos dias atuais a uma obra de tamanho porte –, considerando que diante de tantos problemas ambientais em nível mundial, tenta se criar – em massa – a cultura das idéias inovadoras – e mesmo visionárias – em prol da preservação do meio ambiente.
O mundo inteiro fala em preservação. Os países de Primeiro Mundo – que já destruíram quase tudo o que tinham – tratam suas reservas como verdadeiros santuários. Todos falam em ecologia, mas precisamos praticar tal política. Não é por que estamos no Terceiro Mundo – e no Nordeste – áreas injustamente discriminadas por muitos – que devemos ficar em silêncio.
O que preocupa é que esse resíduo será despejado num rio cujas águas, há séculos abastecem toda população de São José de Mipibu. O referido rio desemboca na Lagoa Papary, em Nísia Floresta, que por sua vez se encontra com as águas do Oceano Atlântico, através da Praia de Camurupim.
O que me entristece – e deve entristecer aos mipibuenses e nisiaflorestenses – é saber que uma catástrofe ambiental se instala mansa e “imperceptivelmente”, no ecossistema de São José de Mipibu e, PRINCIPALMENTE EM NÍSIA FLORESTA, pois a lendária lagoa Papary, d’antes Paraguaçu, amplo reservatório das águas do Trairí, berço das águas oriundas do inverno sertanejo, onde pequenos riachos correm dos tabuleiros arenosos, dando origem a uma imensidão de águas que se interligam com outras lagoas e rios, como o velho Cururu – está prestes a receber esgoto de toda a cidade de São José de Mipibu.
A Lagoa Papari, destacada há quase trezentos anos na cartografia de Marc Grave, elogiada por Henry Koster, em 1810, tendo a comparado ao Mercado de Billingsgate, na Inglaterra por suas águas piscosas; cantada em prosa e verso por autor anônimo que lhe dedicou bela poesia centenária, evocando a lenda de Jacy e Guaracy; citada por inúmeros viajantes europeus em documentos antiqüíssimos –, hoje caminha para uma possível condenação a morte. Exatamente a lagoa mais famosa do município e que durante séculos alimentou índios e brancos, o fazendo até os dias atuais a tantos nativos que precisam de sua pureza para sobreviver.
Sabemos que essa lagoa vem sofrendo sucessivos danos ambientais decorrentes do assoreamento, desde a cheia de 1974, e hoje é sacrificada por inúmeros viveiros que a circundam quase completamente, recebendo diariamente os produtos químicos utilizados como ração e manuseio de equipamentos.
É graças a essa lagoa que o município de Nísia Floresta recebe a alcunha de “terra do camarão”, permitindo-lhe ser conhecida internacionalmente por sua gastronomia.
Lagoa “Mãe dos Pobres” deveria ser mais uma alcunha, pois é dela que, apesar da diminuição de sua fauna aquática, centenas de nativos – muitos deles pobres de Jó – tiram o seu sustento.
É graças à lagoa Papary que ainda assistimos a um cenário antiqüíssimo, no qual famílias inteiras desfilam pelas ruas da velha cidade, levando covos (paris), puçás, cestos, choques, landuás e varas de pesca, os quais passam o dia em suas mansas águas, ora em canoas, ora nos mangues marginais, à cata do pão-de-cada-dia.
O vocábulo indígena “papary” é traduzido por Nestor dos Santos Lima como “salto de peixe”. É graças a esse mar de água doce que ainda não vimos pelas ruas nisiaflorestenses o vulto da mendicância nem ouvimos o ronco da fome.
É graças à lagoa Papary que, aos primeiros raios de sol, nativos embarcam rumo a Natal, percorrendo ruas, gritando “olha o camarão!” “olha o caranguejo!” “olha o goiamum!”. E assim, com orgulho, conservam a tradição e a certeza de que voltarão para Nísia Floresta com o dinheiro da “feira”.
É nesse “Lago Ness” que, há quase duzentos anos, quando a própria natureza o fazia distar a poucos metros do Sítio Floresta, se banhava, não o monstro-bicho, mas o monstro sagrado, chamado Nísia Floresta Brasileira Augusta, o qual, apesar de tanta divulgação em torno de sua memória, as águas de seu espírito político/visionário ainda não umedeceram a secura insensível de alguns nativos, os quais “olham mas não vêem”
O município de Nísia Floresta assiste, em silêncio, a construção dessa obra que dá sinais claros de ser um imenso sistema de esgoto, como se nada os incomodasse. As Secretarias Municipais de Educação e Cultura, de Saúde e de Turismo e Meio Ambiente (dos municípios de Nísia Floresta e São José de Mipibu) pelo menos até o momento – já muito adiantado – não têm desenvolvido nenhuma política de reflexão e conscientização. Não se vê panfletos. Não se vê artigos ou reportagens em jornais, enfim não há reação.
Nenhuma outra Secretaria, além das aqui referidas, tem mais autoridade para conscientizar a população quanto a esse problema. As mesmas, dentro das suas responsabilidades, deveriam estar orientando as escolas e o povo a pensar os danos que estão por vir – e que ainda podem ser evitados –, deliberando até mesmo uma movimentação pública, organizada de forma sensata e respeitosa, mas forte e sistematizada.
As próprias escolas, nas quais circulam professores (filhos ou netos de pescadores), funcionários e alunos (filhos ou netos de pescadores), por representar um ambiente pensante, deveria, por excelência, estar trabalhando o assunto (inclusive com aulas de campo). Para que isso aconteça não é necessário provocação, até porque a obra, por si, provoca (e como!).
É interessante uma caminhada ecológica – em massa – do centro de Nísia Floresta ao local da obra, com convidados ao estilo de IDEMA, IBAMA, FLONA e DENIT. As autoridades ligadas ao turismo, às obras públicas, à educação e mesmo a edilidade que nos representa, que deveriam se unir e convocar os responsáveis pela execução das obras, através de uma conferência ou reunião aberta à população, estão silenciadas.
É preocupante saber que essa inércia, que soa como permissividade, está proporcionando a continuação da construção dessa serpente oca, a qual desliza silenciosa, prestes a jogar seu veneno letal em nossos rios e lagoas. Faz-se necessária uma provocação dos órgãos públicos, pois sem ela não haverá intervenção.
Compreendo que uma andorinha só não faz verão. Mas o pensamento externado neste documento é o pensamento de muitos nativos – com certeza –; o que ocorre é que, com exceção àqueles que se silenciam por razões desconhecidas, há quem se silencie por uma espécie de ignorância ingênua, oriunda da idéia de que os “saltos dos peixes” serão eternos.
É inadmissível que uma obra desse porte, que está em execução em decorrência de uma obra federal – incorra a tamanho absurdo.
É incompreensível que o próprio DNIT, que tem como objetivo estudar os impactos ambientais das suas obras não perceba isso. É estranho que uma obra relacionada a uma obra federal, oriunda de um governo que tem dado uma dimensão exemplar no que se refere a campanhas de preservação do meio ambiente, incorra à falta tão grave –, até porque se trata de um projeto incompleto, pois como é que engenheiros federais, conhecedores da hidrografia e dos relevos contemplados pela BR 101, ignorem o grau de toxidade, a gigantesca quantidade de resíduos, a necessidade de uma estação de tratamento e o destino que esse material tomará.
Como pode aos engenheiros do DNIT ignorarem que estão ligados direta ou indiretamente, a uma obra que destinará, de forma irresponsável, esgoto numa ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA BONFIM/GUARAÍRAS).
Como pode aos engenheiros responsáveis por tamanho projeto, os quais estudam e pesquisam as mais modernas possibilidades de harmonizar obra e meio ambiente –, dentro de uma proposta ecológica – “esquecerem” da toxidade dos dejetos que correrão por tais galerias, rumo a um ecossistema de MATA ATLÂNTICA?
Como pode às autoridades dos Governos Municipal, Estadual e Federal – no caso os realmente responsáveis – no momento que autorizaram os primeiros rascunhos da duplicação da BR-101, ignorar aspectos geográficos sagrados – como a APA e a MATA ATLÂNTICA – integrantes do itinerário da rodovia, aos quais deveria ser reservada atenção especial?
Como pode estar acontecendo tamanha barbaridade dentro de um município que abriga a FLONA (berço de fauna e flora ameaçados de extinção) e uma extensão do IBAMA?
Como pode, numa época em que todos falam sobre a preservação das nascentes e dos recursos naturais – a questão da falta de água no futuro, o Governo Federal ou quem quer que seja, permitirem a construção de uma obra que despejará todo tipo de resíduos sobre um dos maiores aquíferos de toda essa região, onde se incluem 26 lagoas? Vale ressaltar que o lençol freático em Nísia Floresta é extremamente raso. Há lugares que aflora água há menos de um metro de profundidade.
A continuação dessa obra, da forma como está sendo desenvolvida – significará a morte de um patrimônio material e imaterial incalculável. Além da destruição criminosa de todo esse conjunto natural – que por si basta –, se extinguirão múltiplas faces da cultura de um povo, impressas em usos, costumes tradições, lazer, enfim na essência de uma história cheia de estórias.
É conveniente que os responsáveis revejam o projeto (ou até mesmo se certifique de forma mais detalhada das conseqüências da obra), pois, pelo que se percebe, não houve estudos para efetivar a avaliação de impactos ambientais, que é um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. Sabe-se que o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) tem por dever elaborar um estudo para licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, acompanhado pelo IDEMA e IBAMA. Mas, a julgar pelo que se vê, esse estudo não foi feito.
É muito mais barato construir uma estação de tratamento de esgoto que gastar, futuramente, milhões de reais com assistência às inúmeras famílias de pescadores vitimas dos danos ambientais. Sem contar comas doenças que advirão, decorrentes da imundície que tomará conta do que antes era vegetação e da savanização, pois as conseqüências serão irreparáveis.
Diante de tais reflexões, peço a V. Excia, em nome da população de São José de Mipibu e de Nísia Floresta a gentileza de intervir nesse projeto criminoso, convocando os responsáveis e as demais instituições governamentais ligadas ao mesmo. Inclusive solicitando-lhes esclarecimentos públicos junto à população, a qual PEDE A CONSTRUÇÃO DE UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO ou algo similar.
Na oportunidade, informo a V. Excia. que o presente documento também foi enviado, em caráter de informação e denúncia, ao MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, ao IDEMA/Natal, ao IBAMA/Natal, às DRAS. GILKA DA MATA E ROSSANA SUDÁRIO – PROMOTORA DO MEIO AMBIENTE e a alguns órgãos ligados ao assunto, em nível estadual.
Na certeza da atenção de V. Excia externo os meus agradecimentos.
Respeitosamente,
Luís Carlos Freire
Professor
Identidade Nº 482.107-SSP/MS

sábado, 12 de setembro de 2009

Andressa Carla - A bailarina que sonha formar novos bailarinos...


     Sonhos se tornam realidade? Claro, é só sonhar. Assim pensa a bailarina Andressa Carla dos Santos Barbosa Amaro, formada no ano de 1999 no Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão. Seu sonho é se tornar professora de balé de outras instituições públicas e privadas, formando novos alunos, principalmente das classes mais humildes. Ela ressalta que foi muito difícil chegar aonde chegou justamente pelas dificuldades financeiras da família, portanto terá como meta ajudar aqueles que, iguais a ela, tem esse sonho.
     "O balé clássico é um sonho muitas vezes impossível para boa parte das pessoas, pois os figurinos são caros, a própria farda, os assessórios, as viagens; às vezes a própria locomoção dos alunos é inviável para o orçamento das famílias. Por isso muitos desistem. É exatamente por isso que pretendo ajudar aqueles que sustentam esse sonho. Tenho certeza que é possível fazer diferente". Essa é a declaração da professora.
        Seguem, abaixo, alguns flagrantes de momentos de aulas e espetáculos ocorridos na EDTAM, em Natal, RN.
          Hoje, Andressa Carla encontra-se mergulhada de forma diferente nesse sonho. Ela assumiu a coordenação de Balé Clássico na Fundação Parnamirim de Cultura, instituição situada em Parnamirim, cidade interligada a Natal, integrante da Região Metropolitana de Natal.
      A Fundação Parnamirim de Cultura tem como objetivo promover a Arte, dentre ela, a dança. Torcemos para que Andressa Carla atinja os seus objetivos e forme cada vez mais outras Andressa, e que essa missão de pensar no próximo siga firme naqueles que passarem por suas mãos.



Espetáculo "Brasileirando". Coreografoa "Ouro", representando as regiões brasileiras, 2000. Bailarino Adreilson Lopes.
Cinderela













Com a professora Solange Gameiro (in memorian), 1993.





Andressa Carla com os seus pais David Barbosa e Francisca Nunes. O bailarino é Charles Sales,  - Teatro Alberto Maranhão - Espetáculo "Cinderela", 1998


Espetáculo "Os contos", 1997 - EDTAM

Espetáculo "La Bayadère", 2004

Curso de Balé Clássico com a professora Aracy de Almeida - Recife, estado do Pernambuco, 2000
Espetáculo "O corpo de Lama", Teatro Alberto Maranhão, 2000


Em sala de aula com a CIA. de Dança da EDTAM, Ribeira, Natal/RN.
Espetáculo "La Bayadère", 2004. O bailarino é Cosme Gregory
Cinderela
Cinderela

Alice no País das Maravilhas - Teatro Alberto Maranhão, 1997
Espetáculo "La Bayadère", 2004
Cinderela
Corpo de Lama
Espetáculo "La Bayadère", 2004
Ensaio Fotográfico no Stúdio do Teatro Alberto Maranhão, 1999.
Cinderela
"Cinderela"
"O Corpo de Lama"

Teatro Alberto Maranhão, 1997
Cinderela, 1998

12º PRÊMIO NACIONAL DE REDAÇÃO ASSIS CHATEAUBRIAND CONTEMPLA DOIS ESTUDANTES DE NÍSIA FLORESTA - 2006

Um incentivo à produção do conhecimento e a preservação da memória cultural do Brasil. Com esse objetivo a Fundação Assis Chateaubriand (FAC) promoveu o 12º Prêmio Nacional Assis Chateaubriand de Redação, um dos maiores concursos nacionais do gênero. O tema deste ano foi Nísia Floresta Uma Brasileira a Frente do Seu Tempo, em homenagem a escritora, educadora e militante feminista que nasceu em Papary (hoje Nísia Floresta) – RN, em 1810.
Foram escritos 8463 textos de todo o país. No dia 9 de dezembro, estudantes de vários lugares do país, professores e autoridades estiveram no auditório do Jornal Correio Braziliense para a cerimônia de premiação.
O concurso, destinado à estudantes do ensino fundamental, médio e superior, como parte do Projeto Memória, que trem como objetivo resgatar a vida e a obra de grandes personalidades da história do Brasil. Foram premiados os autores dos três melhores textos de cada categoria.
“Nosso objetivo é motivar os alunos a criação de textos e estimular a educação e a cultural nacional”, disse o Presidente da Fundação Assis Chateaubriand, Edson Zenóbio, ao abrir a solenidade. Ele destacou a escolha de Nísia Floresta como tema de 2006. “Ela honra a cultura brasileira e faz bater forte o coração potiguar por sua vida e obra excepcionais”, comentou.
“Pelo número de trabalhos que recebemos, dá para ver que o resultado foi fenomenal”, afirmou o diretor executivo da fundação e colunista do Correio Brasilense, Marcio Cotrim.
Entre as milhares de redações escritas, doze foram premiadas e dezesseis receberam menção honrosa. O Rio Grande do Norte arrastou o maior número de prêmios, cinco ao todo. Minas Gerais ficou em segundo lugar, com dois vencedores. O Paraná foi o estado que apresentou o maior número de redações, mas somente uma foi premiada.
Dois alunos, residentes em Nísia Floresta causaram orgulho para o município: Newtom Bruno do Nascimento Silva, 19, aluno da Escola Municipal Yayá Paiva, classificado em segundo lugar, orientado pelo professor Luís Carlos Freire e Fídias Augusto Cavalcanti Marques Peixoto Freire, 6, residente na Mazapa, aluno do Colégio Fênix, em Parnamirim, orientado pela professora Isabel Cristina.
“Respiro Nísia Floresta desde os meus quatro anos, pois sou sobrinho da mãe de Nísia Floresta. Minha tia, professora Niseuda, foi uma das participantes de uma peça teatral idealizada em 1992, pelo professor Luís Carlos, e encenou D. Antonia Clara Freire (mãe de Nísia Floresta)”, comentou Bruno, rindo e lembrando que o parentesco é pelas vias do teatro. “Mas seria, talvez, mais interessante se fosse por vias heráldicas”, arrematou.
“Minha mãe me colocou para falar sobre Nísia Floresta durante uma exposição sobre a escritora, em 2005, no Centro Social Isabel Gondim, em Nísia Floresta. Eu estudei muito, mas meu pai também me ensinou muito. Acho que toda criança tinha que conhecer Nísia Floresta”, disse Fídias, premiado em 3º lugar, com 500 reais.
Fídias foi o único convidado a ler sua redação durante a solenidade. O público o aplaudiu de pé.
“Essa criança fez renascer em mim a esperança de um país melhor, pois, diante de tanta alienação, vejo aqui um ser lapidado com uma educação requintada, como era para ser todo brasileiro”, comentou em seu discurso o Presidente da Fundação.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

NÍSIA FLORESTA E AS MUDANÇAS DE NOMES

Como sabemos, a região de Nísia Floresta era originalmente conhecida como PAPARI (ou Papary). Os documentos oficiais antigos apresentam as duas nomenclaturas. Para não confundirmos, é bom lembrar que em 1607 já existiam homens brancos por estas plagas, a qual era apenas um lugarejo escondido num imenso vale envolto por florestas, conhecido por "PAPARY".
Não consegui encontrar documentos para precisar a data em que o lugarejo passou a se chamar VILA IMPERIAL DE PAPARY .
Sabe-se que a VILA IMPERIAL DE PAPARY foi criada pela lei 242, de 18 de fevereiro de 1852.
Em 1890 o nome foi mudado para VILA DE PAPARY. Como se vê, retiraram a nomenclatura "Imperial" em decorrência da Proclamação da República (1889).
Em 1938 mudaram o nome novamente, retirando a denominação "Vila de", passando a chamá-lo PAPARY ou PAPARI.
Notamos que após 89 anos com outras denominações, o local recebe novamente o seu primeiro nome: PAPARI.
Em 1948 a cidade tem seu nome novamente mudado, deixando de se chamar PAPARI para se chamar NÍSIA FLORESTA, numa justa homenagem a filha ilustre do município NÍSIA FLORESTA BRASILEIRA AUGUSTA (1810-1885).
Como podemos ver, o município passou por 4 mudanças de nomes.
Luís Carlos Freire - 3 de março de 2002

DENÚNCIA FEITA AO MINISTÉRIO PÚBLICO DE NÍSIA FLORESTA

Nísia Floresta, 20 de agosto de 2009

Exma. Sra. Promotora de Justiça da Comarca de Nísia Floresta


Na condição de cidadão comum, brasileiro, casado, professor, atualmente diretor de escola (em Parnamirim), residente e domiciliado em Nísia Floresta, ao lado da Igreja Matriz, dirijo-me a V. Excia. para denunciar e pedir as providências que forem cabíveis com relação a uma obra que está sendo construída próxima ao nosso município.
Como pode ser constatado, encontra-se em execução às margens da BR 101, exatamente no retorno de acesso aos municípios de São José de Mipibu e Nísia Floresta, uma obra de grande porte com o propósito de dar vazão a resíduos, e provavelmente ao esgoto mipibuense.
Pela dimensão do projeto, nota-se que o volume de esgoto in natura que será jogado no ecossistema da região, precisamente no Rio Mipibu e na Lagoa Papari é de milhares de litros diários. Verifiquei que o projeto, pelo andamento da obra, inexplicavelmente não contempla uma estação de tratamento de esgoto – prática inconcebível nos dias atuais a uma obra de tamanho porte –, considerando que diante de tantos problemas ambientais em nível mundial, tenta se criar – em massa – a cultura das idéias inovadoras – e mesmo visionárias – em prol da preservação do meio ambiente.
O mundo inteiro fala em preservação. Os países de Primeiro Mundo – que já destruíram quase tudo o que tinham – tratam suas reservas como verdadeiros santuários. Todos falam em ecologia, mas precisamos praticar tal política. Não é por que estamos no Terceiro Mundo – e no Nordeste – áreas injustamente discriminadas por muitos – que devemos ficar em silêncio.
O que preocupa é que esse resíduo será despejado num rio cujas águas, há séculos abastecem toda população de São José de Mipibu. O referido rio desemboca na Lagoa Papary, em Nísia Floresta, que por sua vez se encontra com as águas do Oceano Atlântico, através da Praia de Camurupim.
O que me entristece – e deve entristecer aos mipibuenses e nisiaflorestenses – é saber que uma catástrofe ambiental se instala mansa e “imperceptivelmente”, no ecossistema de São José de Mipibu e, PRINCIPALMENTE EM NÍSIA FLORESTA, pois a lendária lagoa Papary, d’antes Paraguaçu, amplo reservatório das águas do Trairí, berço das águas oriundas do inverno sertanejo, onde pequenos riachos correm dos tabuleiros arenosos, dando origem a uma imensidão de águas que se interligam com outras lagoas e rios, como o velho Cururu – está prestes a receber esgoto de toda a cidade de São José de Mipibu.
A Lagoa Papari, destacada há quase trezentos anos na cartografia de Marc Grave, elogiada por Henry Koster, em 1810, tendo a comparado ao Mercado de Billingsgate, na Inglaterra por suas águas piscosas; cantada em prosa e verso por autor anônimo que lhe dedicou bela poesia centenária, evocando a lenda de Jacy e Guaracy; citada por inúmeros viajantes europeus em documentos antiqüíssimos –, hoje caminha para uma possível condenação a morte. Exatamente a lagoa mais famosa do município e que durante séculos alimentou índios e brancos, o fazendo até os dias atuais a tantos nativos que precisam de sua pureza para sobreviver.
Sabemos que essa lagoa vem sofrendo sucessivos danos ambientais decorrentes do assoreamento, desde a cheia de 1974, e hoje é sacrificada por inúmeros viveiros que a circundam quase completamente, recebendo diariamente os produtos químicos utilizados como ração e manuseio de equipamentos.
É graças a essa lagoa que o município de Nísia Floresta recebe a alcunha de “terra do camarão”, permitindo-lhe ser conhecida internacionalmente por sua gastronomia.
Lagoa “Mãe dos Pobres” deveria ser mais uma alcunha, pois é dela que, apesar da diminuição de sua fauna aquática, centenas de nativos – muitos deles pobres de Jó – tiram o seu sustento.
É graças à lagoa Papary que ainda assistimos a um cenário antiqüíssimo, no qual famílias inteiras desfilam pelas ruas da velha cidade, levando covos (paris), puçás, cestos, choques, landuás e varas de pesca, os quais passam o dia em suas mansas águas, ora em canoas, ora nos mangues marginais, à cata do pão-de-cada-dia.
O vocábulo indígena “papary” é traduzido por Nestor dos Santos Lima como “salto de peixe”. É graças a esse mar de água doce que ainda não vimos pelas ruas nisiaflorestenses o vulto da mendicância nem ouvimos o ronco da fome.
É graças à lagoa Papary que, aos primeiros raios de sol, nativos embarcam rumo a Natal, percorrendo ruas, gritando “olha o camarão!” “olha o caranguejo!” “olha o goiamum!”. E assim, com orgulho, conservam a tradição e a certeza de que voltarão para Nísia Floresta com o dinheiro da “feira”.
É nesse “Lago Ness” que, há quase duzentos anos, quando a própria natureza o fazia distar a poucos metros do Sítio Floresta, se banhava, não o monstro-bicho, mas o monstro sagrado, chamado Nísia Floresta Brasileira Augusta, o qual, apesar de tanta divulgação em torno de sua memória, as águas de seu espírito político/visionário ainda não umedeceram a secura insensível de alguns nativos, os quais “olham mas não vêem”
O município de Nísia Floresta assiste, em silêncio, a construção dessa obra que dá sinais claros de ser um imenso sistema de esgoto, como se nada os incomodasse. As Secretarias Municipais de Educação e Cultura, de Saúde e de Turismo e Meio Ambiente (dos municípios de Nísia Floresta e São José de Mipibu) pelo menos até o momento – já muito adiantado – não têm desenvolvido nenhuma política de reflexão e conscientização. Não se vê panfletos. Não se vê artigos ou reportagens em jornais, enfim não há reação.
Nenhuma outra Secretaria, além das aqui referidas, tem mais autoridade para conscientizar a população quanto a esse problema. As mesmas, dentro das suas responsabilidades, deveriam estar orientando as escolas e o povo a pensar os danos que estão por vir – e que ainda podem ser evitados –, deliberando até mesmo uma movimentação pública, organizada de forma sensata e respeitosa, mas forte e sistematizada.
As próprias escolas, nas quais circulam professores (filhos ou netos de pescadores), funcionários e alunos (filhos ou netos de pescadores), por representar um ambiente pensante, deveria, por excelência, estar trabalhando o assunto (inclusive com aulas de campo). Para que isso aconteça não é necessário provocação, até porque a obra, por si, provoca (e como!).
É interessante uma caminhada ecológica – em massa – do centro de Nísia Floresta ao local da obra, com convidados ao estilo de IDEMA, IBAMA, FLONA e DENIT. As autoridades ligadas ao turismo, às obras públicas, à educação e mesmo a edilidade que nos representa, que deveriam se unir e convocar os responsáveis pela execução das obras, através de uma conferência ou reunião aberta à população, estão silenciadas.
É preocupante saber que essa inércia, que soa como permissividade, está proporcionando a continuação da construção dessa serpente oca, a qual desliza silenciosa, prestes a jogar seu veneno letal em nossos rios e lagoas. Faz-se necessária uma provocação dos órgãos públicos, pois sem ela não haverá intervenção.
Compreendo que uma andorinha só não faz verão. Mas o pensamento externado neste documento é o pensamento de muitos nativos – com certeza –; o que ocorre é que, com exceção àqueles que se silenciam por razões desconhecidas, há quem se silencie por uma espécie de ignorância ingênua, oriunda da idéia de que os “saltos dos peixes” serão eternos.
É inadmissível que uma obra desse porte, que está em execução em decorrência de uma obra federal – incorra a tamanho absurdo.
É incompreensível que o próprio DNIT, que tem como objetivo estudar os impactos ambientais das suas obras não perceba isso. É estranho que uma obra relacionada a uma obra federal, oriunda de um governo que tem dado uma dimensão exemplar no que se refere a campanhas de preservação do meio ambiente, incorra à falta tão grave –, até porque se trata de um projeto incompleto, pois como é que engenheiros federais, conhecedores da hidrografia e dos relevos contemplados pela BR 101, ignorem o grau de toxidade, a gigantesca quantidade de resíduos, a necessidade de uma estação de tratamento e o destino que esse material tomará.
Como pode aos engenheiros do DNIT ignorarem que estão ligados direta ou indiretamente, a uma obra que destinará, de forma irresponsável, esgoto numa ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA BONFIM/GUARAÍRAS).
Como pode aos engenheiros responsáveis por tamanho projeto, os quais estudam e pesquisam as mais modernas possibilidades de harmonizar obra e meio ambiente –, dentro de uma proposta ecológica – “esquecerem” da toxidade dos dejetos que correrão por tais galerias, rumo a um ecossistema de MATA ATLÂNTICA?
Como pode às autoridades dos Governos Municipal, Estadual e Federal – no caso os realmente responsáveis – no momento que autorizaram os primeiros rascunhos da duplicação da BR-101, ignorar aspectos geográficos sagrados – como a APA e a MATA ATLÂNTICA – integrantes do itinerário da rodovia, aos quais deveria ser reservada atenção especial?
Como pode estar acontecendo tamanha barbaridade dentro de um município que abriga a FLONA (berço de fauna e flora ameaçados de extinção) e uma extensão do IBAMA?
Como pode, numa época em que todos falam sobre a preservação das nascentes e dos recursos naturais – a questão da falta de água no futuro, o Governo Federal ou quem quer que seja, permitirem a construção de uma obra que despejará todo tipo de resíduos sobre um dos maiores aquíferos de toda essa região, onde se incluem 26 lagoas? Vale ressaltar que o lençol freático em Nísia Floresta é extremamente raso. Há lugares que aflora água há menos de um metro de profundidade.
A continuação dessa obra, da forma como está sendo desenvolvida – significará a morte de um patrimônio material e imaterial incalculável. Além da destruição criminosa de todo esse conjunto natural – que por si basta –, se extinguirão múltiplas faces da cultura de um povo, impressas em usos, costumes tradições, lazer, enfim na essência de uma história cheia de estórias.
É conveniente que os responsáveis revejam o projeto (ou até mesmo se certifique de forma mais detalhada das conseqüências da obra), pois, pelo que se percebe, não houve estudos para efetivar a avaliação de impactos ambientais, que é um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. Sabe-se que o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) tem por dever elaborar um estudo para licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, acompanhado pelo IDEMA e IBAMA. Mas, a julgar pelo que se vê, esse estudo não foi feito.
É muito mais barato construir uma estação de tratamento de esgoto que gastar, futuramente, milhões de reais com assistência às inúmeras famílias de pescadores vitimas dos danos ambientais. Sem contar comas doenças que advirão, decorrentes da imundície que tomará conta do que antes era vegetação e da savanização, pois as conseqüências serão irreparáveis.
Diante de tais reflexões, peço a V. Excia, em nome da população de São José de Mipibu e de Nísia Floresta a gentileza de intervir nesse projeto criminoso, convocando os responsáveis e as demais instituições governamentais ligadas ao mesmo. Inclusive solicitando-lhes esclarecimentos públicos junto à população, a qual PEDE A CONSTRUÇÃO DE UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO ou algo similar.
Na oportunidade, informo a V. Excia. que o presente documento também foi enviado, em caráter de informação e denúncia, ao MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, ao IDEMA/Natal, ao IBAMA/Natal, às DRAS. GILKA DA MATA E ROSSANA SUDÁRIO – PROMOTORA DO MEIO AMBIENTE e a alguns órgãos ligados ao assunto, em nível estadual.
Na certeza da atenção de V. Excia externo os meus agradecimentos.
Respeitosamente,



Luís Carlos Freire
Professor
Identidade Nº 482.107-SSP/MS

Hilton Acioly - de Cururú para o mundo - O homem do Trio Marayá e do Lula, lá...

                                                                Por Luis Carlos Freire - abril-2009

I – CURURU: O INÍCIO DE UM SONHO NO "JARDIM DO ÉDEN"

Trio Marayá nos primeiros anos de carreira
Todas as pessoas possuem histórias. Umas interessantes, extraordinárias, surpreendentes; outras simples e cativantes, mas com a sua devida importância. Algumas são tão dignas e gostosas de contar que jamais deveriam ficar sepultadas sob a poeira do esquecimento. 
 
É exatamente sacudindo o pó do tempo e abrindo as páginas de um livro esquecido, que emergirá uma história que serve de exemplo para muitos. Refiro-me ao músico e compositor nisia-florestense Hilton Acioly, nascido aos 4 de outubro de 1939, no antigo povoado de Cururu, conhecido até hoje como “Campo de Santana Velha”. Ele deixou um legado despercebido a muitos nisiaflorestenses, a começar pela história do Trio Marayá e por ser o autor do jingle "Lula, lá", verdadeiro hino do partido dos trabalhadores. Veja a letra:

Lula Lá (1989)

Passa o tempo e tanta gente a trabalhar/ De repente essa clareza pra votar/ Quem sempre foi sincero em confiar/Sem medo de ser feliz, quero ver chegar/ Lula lá, brilha uma estrela/ Lula lá, cresce a esperança/ Lula lá, o Brasil criança/ Na alegria de se abraçar/ Lula lá, com sinceridade/ Lula lá, com toda a certeza pra você/ Meu primeiro voto/ Pra fazer brilhar nossa estrela/ Lula lá, é a gente junto/ Lula lá, valeu a espera/ Lula lá, meu primeiro voto/ Pra fazer brilhar nossa estrela.
 
Cururu, apesar de atualmente abandonado, devido à enchente de 1974 – cujos moradores foram removidos para a sua parte mais alta – ainda conserva as ruínas de um lugar aprazível, envolto por uma paisagem natural radiante. Matas de árvores frondosas, céspede que se perde de vista em meio às áreas cenagosas, envoltas por dunas alvas, pinceladas de arbustos, serpenteada por um rio perene, que há séculos é a fonte de sobrevivência de muitos nativos. 
 
O segundo disco com capa bastante comunicativa
 
Atualmente, apesar do progresso e tanta devastação, o lugar sobrevive quase intocado, permitindo o trânsito constante de pescadores com cordas de caranguejo, trazendo as suas puçás e varas de pescar atadas às bicicletas. Ainda se vê nas imediações casas de taipa cobertas de palha, carroças em vai-e-vem, lavadeiras de roupa às margens do rio piscoso, cheio de ariranhas e camarões, gado pastando e o chilrear infinito de pássaros.
Emoldurada nesse cenário bucólico ficava casa da família Acioly, e nela um menino que precocemente começou a rabiscar os seus pensamentos, transformando-os em músicas e poesias, sem perceber que ensaiava os primeiros passos que o projetaria para um estilo de vida completamente diferente.
Essas inspirações tinham como cúmplice o imenso quintal, pipocado de árvores frutíferas, cercado por caiçara e a típica fauna doméstica: gatos, cachorros, galinhas, perus, patos, guinés e a passarada diversa voejando numa árvore e n’outra.  Foi no meio dessa fartura tão comum às cidades interioranas que cresceu esse jovem altruísta e sonhador. E assim passava a vida, ou a vida passava por ali, cheia de calmaria e tranquilidade.


II – A BUSCA POR PARCEIROS QUE TAMBÉM SONHAVAM

Mas Hilton tinha sonhos, e sentia que mesmo vivendo num verdadeiro Éden, não seria feliz ali. Foi esse espírito de insatisfação que, a partir dos doze anos, deu início a uma série de peregrinações a Natal, buscando conhecer pessoas que tivessem ideais parecidos. Naquela época viajar de Cururu à Natal não era um desafio, era uma odisseia. E ele, tal qual Ulisses, peitava o que vinha à frente, e aos poucos conquistava os seus objetivos. 
 
Foi nessas empreitadas que dos seus treze aos catorze anos, conheceu outros sonhadores como ele. Os músicos potiguares Marconi Campos e Behring Leiros e com eles foi formaram o Trio Marajá, no ano de 1954, quando Getúlio Vargas ainda estava no poder.
 
Hilton dominava diversos instrumentos, mas durante a formação do trio, decidiram que ele ficaria com o afoxé. Marconi ficou com o violão e Behring com o tantã. Com pouco tempo de criação o trio passou a ser o que chamavam à época a “coqueluche”, ou seja, caiu no gosto dos natalenses. 
 
           Não sobrava um dia na semana em que eles não se exibissem em algum café, clube, bar, quintal de convidados, enfim o trio “pegou”.  Natal inteira parava para apreciá-los. Com o passar do tempo, como é comum, eles passaram a receber convites para exibições em diversas cidades vizinhas, além de outros estados. 
 
A fama do Trio Marayá chegou a um ponto que eles passaram a ser presença constante no Teatro Alberto Maranhão, além de receberem convites para animarem festas de grandes políticos da época. Um dos seus grandes admiradores era nada mais que o genial folclorista Câmara Cascudo. Foi ele que batizou o grupo com o nome "Trio Marayá".
 
 Nesse interim também passaram pela formação do trio os jovens músicos Antonio Brito, Jansen Leiros e Omir Onório, todos idealistas como Hilton e muito focados nos objetivos.

III – RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO

Em 1955, o trio estreou no programa da Sociedade Artística Estudantil, na Rádio Poti. Hilton tinha apenas quinze anos. Ao longo do tempo eles foram percebendo que o repertório que priorizavam não combinava com o nome do grupo. 
 
          Em 1956 eles participaram do congresso da União Nacional dos Estudantes, UNE, em Natal. Naquela época eles já revelavam uma técnica muito boa, e isso despertou no líder estudantil a ideia de convidá-los a ir ao Rio de Janeiro, pois os estudantes pretendiam criar um programa nos moldes do SAE. 
 
            Ao tomar conhecimento do convite, o professor Câmara Cascudo – que prestigiou o evento e já parecia prever o futuro brilhante dos daqueles adolescentes conterrâneos – aconselhou-os a mudar o nome para Trio Marayá, numa referência a uma palmeira típica do nordeste.
 
 Os pais de cada integrante ficaram preocupados pela idade, mas os mesmos passaram-lhes muita confiança, e por isso receberam todo o apoio familiar. Assim que chegaram ao Rio de Janeiro, participaram de vários programas na Rádio Nacional, entre os quais, "Grande Show Brahma", "Paulo Gracindo" e “César de Alencar".
 
Exibiram-se em casas noturnas e foram convidados a assinar um contrato exclusivo no Restaurante "Cabeça Chata", cujo dono era Manezinho Araújo um cantor de emboladas já muito conhecido. Logo em seguida receberam convite para participarem da Rádio. 
 
        Um cantor cearense, vendo a qualidade do trabalho do trio, convidou-os para participarem instrumentalmente da gravação de um disco dele na gravadora Copacabana. Nesse dia estava presente Luiz Vieira, o qual exibia alguns programas na rádio e tinha amplo conhecimento no meio artístico, articulado com a mídia local. 
 
Ele encantou-se com o trabalho dos jovens e os convidou para se apresentarem no seu programa de rádio em São Paulo, apresentando-os imediatamente à equipe da TV Tupi, hoje extinta. 
 
Um detalhe: os jovens tinha objetivos... e atitude

IV – O TALENTO ADMIRÁVEL DE TRÊS JOVENS POTIGUARES

No programa de Luiz Vieira, na Rádio Record, interpretaram o corridinho "Maria Fulô", de Luiz Vieira e João do Vale, que depois foi gravado em LP pelo trio. Naquela época, mesmo tendo muita qualidade musical, os artistas eram submetidos a testes. 
 
Mas a estrela do Trio Marayá brilhava tanto que a aprovação veio logo no primeiro teste, e foram contratados pela Rádio e TV Record. 
 
Hilton Acioly sendo entrevistado por universitários
Na Rádio Record, passaram a apresentar o programa semanal "Música e poesia com o Trio Marayá", produzido por Luiz Vieira, além de participar de outros programas da emissora. , como por exemplo, “Trio Marayá e Você”, com produção de Nilton Travesso e Eduardo Moreira.
 
Em pouco tempo passaram a receber tantos convites para apresentações em São Paulo e no Rio de Janeiro que mal davam conta. Tornaram-se presenças constantes nos programas "Astros do disco", de Rendal Juliano, "Sucesso Arno", de Blota Jr., e "O fino da bossa", apresentado por Elis Regina, entre outros.
 
Mas como nem tudo sempre eram flores foram proibidos pelo Juizado de Menores a se apresentarem em ambientes fechados, pois ainda não tinham alcançado a maioridade. Nas apresentações em boates como "A Baiuca", "Star Dust", "Nick Bar", "Boite Oásis", "African", onde costumavam se apresentar, precisaram ficar do lado de fora, na calçada, durante os intervalos.
 
Em 1958, gravaram pela Odeon o primeiro disco, interpretando o mambo "Patrícia", de P. Prado e A. Bourget, e o samba "O rei do samba", de Hervê Cordovil e Vicente Leporace. Foi a partir dessa época que passaram a fazer excursões em várias capitais brasileiras. 
 
O segundo disco do grupo foi gravado em 1959, no qual cantaram as composições "Onde estará minha vida", de Segovia, Naranjo e Roman, em versão de Fred Jorge e “Meu tio”, de F. Barcellini, H. Contet e J. C. Carrière, com versão de também de Fred Jorge.

V – FAMA NA EUROPA

Foi justamente neste mesmo ano que surgiu um convite nada comum: representar o Brasil no "Festival da Juventude", em Viena, na Áustria, com tudo pago pelo referido país. O contrato rezava que eles ficariam durante dez dias em exibições, mas o encantamento dos austríacos diante das apresentações do grupo foi tamanho que acabaram ficando um ano.
 
A fama logo se espalhou para outros países e o grupo recebeu convite para se apresentar na mais famosa casa noturna de Barcelona, na Espanha, a boate El Cortijo. Logo em seguida apresentaram-se a convite, na Hungria, onde ocorreu um fato curioso. Os húngaros gostaram tanto que só deixaram o trio ir embora após gravarem um disco com músicas brasileiras, pelo selo Balaton. 
 
         O que foi atendido de pronto. Ainda na Hungria apresentarem-se diversas vezes na televisão, e assinaram contrato para apresentarem-se com a Filarmônica de Budapeste na maioria das cidades húngaras.
 
Após longo período nesse país, foram novamente convidados a se apresentar na Áustria e causaram emoção ao interpretarem a “Polca de Liechtensteiner”. “Nesse país fizeram shows nas mais famosas casas de espetáculo, como “Moulin Rouge”, “Maxim’s”, “Lido”, “Baden Cassino” e Éden Bar”, lugares onde se exibiam renomados artistas internacionais daquela época.

VI – CONTRATOS COM RENOMADAS GRAVADORAS NO BRASIL E PAÍSES VIZINHOS

Em 1960, de volta ao Brasil, gravaram mais um disco pela Odeon, no qual cantaram o fox "Um telegrama", de H. G. Segura e Nadir Perez, e o samba "Prova de carinho", de Adoniran Barbosa e Hervê Cordovil. 
 
Em 1961, foram contratados pela RCA Victor, gravando em seu primeiro disco a canção "O matador", de J. Bowers e I. Burgess e o bolero "Por pecadora", com versão de Fred Jorge. No mesmo ano gravaram o samba "Sambinha quadrado", de Marconi Campos e Hilton Acioly, e o bolero "Descansa, coração", de Arquimedes Messima.
 
Ainda em 1961, foram convidados a se apresentarem no Uruguai, numa excursão que abrangeu Punta Del Leste, no Cassino “Miques”, e Montevidéu, na TV Canal 4. Em seguida assinaram contrato por três meses com a TV Canal 9, da Argentina, onde participaram do programa “Festival 62”, produzido e apresentado por Paloma Black. No mesmo ano gravaram o rock balada "Nena Nenita", de Joaquin Pietro e Juvenal Fernandes e o bolero "Pede", de A. Algueró, A. Guijarro e Teixeira Filho.
 
      Esse envolvimento no universo da música fez com que os integrantes do grupo conhecessem e convivessem com diversos artistas do rádio e da televisão. Hilton Acioly acabou tornando-se amigo de Geraldo Vandré, autor de “Para não dizer que não falei das flores”. 
 
      Com ele assinaria letras de diversas músicas, como “Ventania (de como um homem perdeu o seu cavalo e continuou andando”), 1967; “João e Maria”, frevo de 1967; além de “Guerrilheira”; Amor, amor; e “Plantador”, em 1968.
 
        Em 1966, no auge da ditadura militar, aconteceu um evento cultural marcante na história da arte musical brasileira, organizado pela TV Record, com o nome de II Festival de Música Popular Brasileira. 
 
         O evento, vigiado pelos militares, foi tenso, apesar do delírio dos expectadores. Os boinas-verdes sabiam que ali se concentravam artistas famosos e que os mesmos eram de esquerda. Ademais, a grande massa de expectadores era composta por jovens revoltados com o sistema político brasileiro.
 
Nesse clima participaram como instrumentistas da exibição de Jair Rodrigues, o qual concorreu com a famosa música "Disparada", de Geraldo Vandré, em parceria com Téo Barros, cujos arranjos eram de Hilton Acioly. O resultado foi brilhante, principalmente para Jair, o qual conquistou o primeiro lugar. 
 
A fama do Trio Marayá, decorrente da qualidade apurada do grupo, havia atraído a atenção de Jair Rodrigues, o qual vislumbrava um trabalho completo. Assim, acompanhado pelo trio, o artista sagrou-se campeão.
 
Essa exibição teve uma curiosidade, justamente por atrair ainda mais a atenção do júri e do público. O Trio Marayá, pela primeira vez na história da música, utilizou a “queixada de burro” como instrumento de percussão. 
 
A expressividade de Jair Rodrigues, carregada de gesticulação e a bela voz, somada à novidade instrumental levou as pessoas ao delírio. Isso pode ser confirmado nos arquivos ainda existentes na TV Record.
 
O Trio Marayá obteve façanhas que nem todo grande grupo conseguiu. Sabe-se que, dentre os sonhos de muitos instrumentistas é acompanhar ou fazer parceria com monstros da música. E eles foram escolhidos durante festivais internacionais a se apresentarem com nada menos que Nat King Cole, Ella Fitzgerald, Sammy Davis Jr., Rita Pavone, Sérgio Endrigo e Catherine Valente.


VII – NOVAMENTE NA EUROPA

Em 1968, foram laureados com Medalha de Ouro no Festival Internacional de Música da Bulgária, ocorrido em Sofia, onde representaram o Brasil. Na ocasião, conquistaram o primeiro lugar com a polêmica canção “Che”, de Marconi Campos e Geraldo Vandré.
 
         A referida composição não tinha letra e havia sido proibida pela censura no Brasil, durante o Regime Militar, pois entenderam que se tratava de uma homenagem ao guerrilheiro cubano, assassinado naquele ano e persona non grata dos militares.
 
           Perguntando para Hilton Acioly se era verdadeira a suposição dos militares, ele riu... A definição prefiro deixar para o leitor.
 
Geraldo Vandré pediu que Marconi Campos elaborasse uma letra para o referido instrumental, mas o mesmo não aceitou. Coisas da arte. Ele entendia que a beleza estava justamente no instrumental. Mas, para não desagradar o companheiro, fez outra música, com letra, inspirada em “Chê”.
 
Encerrado o festival permaneceram mais um período em Sófia, a convite de admiradores, apresentando-se em concorridos shows na capital búlgara. E dali para a França e a Itália. Em Paris ocorreu outro fato interessante, tal qual na Hungria. Eles só deixaram o país após gravar um disco pelo selo Barclay e em seguida participaram da revista musical "Tio samba", à convite da norte-americana Sonia Shaw, então diretora e produtora do programa juntamente com o maestro Bill Hithcock. 
 
O trio Marayá assinou contrato com as mais respeitáveis gravadoras, como a Philips, RGE, Chantecler, Som Maior, RCA Victor Sinter e Odeon. Naquela época os discos eram de vinil, inicialmente de 45 e 78 rotações por minuto, e tinham 25 cm de comprimento. O selo ficava exposto, tendo em vista que a capa era vazada no meio, em ambos os lados e não trazia nenhuma informação. Sequer a foto dos artistas. Eram padronizadas normalmente em tons pastéis. 
 
Posteriormente gravaram compacto, que era também uma opção dos artistas. Estes também eram de um vinil flexível, diferente do anterior que poderia quebrar a qualquer descuido, mas um pouquinho maior que os CD’s atuais. As capas passaram a vir com imagens e tinham entre duas a quatro músicas, depois passaram a gravar LP (long-player), cuja capa tinha trinta centímetros, e por último, em CD. 
 
Além da fama em todo o Brasil, os discos do Trio Marayá foram divulgados em outros países da Europa, como Portugal, França e Itália, e em países da América do Sul, como Chile, Argentina e Uruguai. Curiosamente um dos seus maiores sucessos durante um período da carreira foi "Gauchinha bem querer", de Tito Madi, onde os vocalistas potiguares interpretaram com tanta perfeição que pensavam tratar-se de artistas gaúchos. Esse perfil, inexistente atualmente, era muito apreciado na época.

VIII – PRÊMIOS QUE SÓ OS GRANDES ARTISTAS CONQUISTAVAM

O Trio Marayá recebeu diversos prêmios. Em 1958, 1960, 1961, 1962 e 1963 recebeu o Prêmio Roquette-Pinto como Melhor Conjunto Vocal. Tratava-se de uma premiação muito cobiçada pelos artistas do rádio e da televisão.
 
       Isso fez com que os seus integrantes se tornassem verdadeiros mitos pelas grandes capitais brasileiras. Recebeu o troféu Campeões da Popularidade da TV Tupi, no programa Ayrton Rodrigues, três discos de ouro no programa “Astros do Disco”, da TV Record, a Taça de Honra ao Mérito do programa César de Alencar, diploma de Melhor Conjunto Vocal do Festival da Música Internacional na Bulgária.
 
 Receberam oito troféus de Melhores da Semana, o troféu Índio de Prata, como personalidade musical de 1967, além de receber diversas medalhas de honra ao mérito como grupo vocal/instrumental.
 
Logo em seguida o grupo passou a receber convites para participar de filmes no cinema. Dercy Gonçalves convidou-os para acompanhá-la no filme “Uma certa Lucrécia”, onde a mesma, então protagonista, cantava.
 
         Na sequência participaram da mesma forma nos filmes “O circo chegou à cidade”, com Walter Stuart; e “Quelé do Pajeú”, com orquestração de Marconi Campos.
 
O trio Marayá gravou a música Alvoroço no sertão, de Raymundo Evangelista e Aldair Soares; Segredo da Meia-noite, de Francisco Anísio e Hianto de Almeida; Mandei fazer um patuá, de Norberto Martins e Raymundo Olavo; Corre-corre, de Jacira Costa; Carrapicho, de Carlos Lyra e Behring Leiros; Moinho d´água, de Edson Franca e Chico Elion; Esperando e Sambinha quadrado, de Marconi Campos e Hilton Acioli.
 
Em 1970 o Trio Marayá gravou em compacto simples a música de “Prá que lagoa, se eu não tenho canoa”, escrita por Hilton Acioly e com arranjos de Marconi Campos, classificada em primeiro lugar, no terceiro Festival Universitário de Música Popular Brasileira.
 
A primeira música gravada por Gilberto Gil, “Prá que mentir”, foi acompanhada pelo Trio Marayá. No LP “Trio Marayá – boleros – com a participação de Renato de Oliveira e sua orquestra”, a capa do disco é ilustrada por uma fotografia da atriz norte-rio-grandense Rejane Medeiros.
 
Hilton Acioly participou como compositor dos LPs: 14 sucessos do 3º Festival de Música Popular Brasileira, Conjunto Flor da Terra, Canto Geral, MPB Compositores, Os Versáteis e o festival Uma mensagem em cada canção. 
 
           Assina com outros músicos letras como “Acertando o passo”, “Chama”, “Uma cidade”, “Dor de separar”, “Esperando”, “Esse mar vai dar na Bahia”, “Eu sou a América”, “Guerrilheira”, “João e Maria”, “Meu sertão (eu vou voltar)”, “Nosso lar”, “O plantador”, “Regresso”, “Sambinha quadrado”, “Se as flores falassem...” e “Ventania”.
 
Como instrumentista, o músico participou da gravação da música Companheira, de Geraldo Vandré, no LP Momento Universitário II. 
 
         Suas músicas, além de terem sido gravadas pelo trio ao qual ele foi um dos três fundadores e fez parte durante quarenta anos, foram gravadas por Rolando Boldrin, Geraldo Vandré, Maria Odete, Neyde Fraga e os Versáteis e, por último, pelo Grupo Sombra. Em 1979 fez todos os arranjos e a regência do álbum Eterno como a areia, de Diana Pequeno.

IX – NOITES QUENTES NO “VALE DO CAPIÓ”

Hilton sempre teve uma característica aparentemente incomum aos artistas: é extremamente discreto. Em todas as suas vindas ao município nunca proclamou a sua fama, nem quis ser recebido com homenagens. Ele tem estado eventualmente no município, é só é notado quando flagrado por algum conhecido de infância, cuja lembrança lhe é avivada por algum parente.
 
Hilton Acioly sempre veio a Natal para rever os familiares e fazer shows além de gravar programas na TV Universitária-UFRN. Da capital se abalava para Nísia Floresta, pois jamais esqueceu o pedacinho de terra, em especial do Cururu que tanto o inspirou. 
As lembranças paradisíacas de sua infância certamente ficaram emolduradas na sua memória.
 
Apesar de o cotidiano de todos os integrantes do trio ter sido muito intenso, devido às constantes viagens, fazendo shows pelo país, eles escolheram a terra da garoa como morada definitiva, ali constituindo família.
 
Mas não pense que o município de Nísia Floresta nunca desfrutou dos encantos do Trio Marayá. O ex-prefeito Vicente Elízio, fã de carteirinha do trio, a ponto de possuir todos os discos do grupo àquela época, fazia-os tocar até as altas madrugadas na antiga vitrola, seja em sua casa, no centro da cidade, ou no engenho.
 
O ex-prefeito não tinha o perfil dessas pessoas festeiras que estão sempre promovendo eventos, mas, de maneira muito reservada, convidava eventualmente pessoas amigas e fazia uma espécie de baile no engenho. 
 
          Ali a madrugada se tornava uma criança, embalada pelas mais belas canções da música popular brasileira. Com o agravante de deliciosos goles da “Aguardente Potiguar”, fabricada ali mesmo, inclusive vendida em toda a região.
 
Nessas madrugadas “paparienses”, além das canções próprias do grupo, eles também ouviam Nelson Gonçalves, Francisco Alves, Vicente Celestino, dentre boleros e outras músicas levadas pelo minuano, adiando o sono de toda a vizinhança, até o amanhecer. Mas os discos do Trio Marayá não costumava descansar.

X – OUTROS SONHOS E O RITMO DA IDADE

Além do seu fascínio pela arte, Hilton Acioly acalentava desde o Cururu, o sonho de se formar em Geografia. Como era muito jovem e tinha se afastado dos estudos devido ao cotidiano dinâmico do trio, resolveu se organizar e se preparar para encarar mais um desafio. Foi com esse dinamismo que revezando entre a arte e os estudos formou-se pela Universidade Federal de São Paulo (USP).
 
Na década de 1975 o trio foi diminuindo a intensidade dos trabalhos, até porque passaram a ter outras prioridades, voltando-se mais às famílias e ao estudo. Assim passaram a se apresentar em diversos festivais de música universitária na época em que o componente Behring Leirois cursava a faculdade de Direito da Universidade Mackenzie em São Paulo. Depois passaram a se dedicar mais à produção de trilhas sonoras para filmes, jingles e comerciais. 
 
O amigo de décadas Marconi Campos, recém-formado em música, formou o quinteto "Sombra", em 1975, do qual faziam parte Faud Salomão, Suely Gondim Beto Carrera e Vânia Bastos. Em 1996, Marconi Campos juntou-se a Hilton Acioli Behring Leiros, Vera Campos, Flávio Augusto, Cintia Scola e Sandra Marina - para gravar o CD independente "Ação dos tempos", interpretando músicas nordestinas, entre as quais "Asa branca", de Luiz Gonzaga, e algumas especialmente de compositores norte-rio-grandenses, como "Moinho d'água", de Chico Elion, e "Capricho", de Carlos Lyra e Behring Leiros. Behring Leiros.
 
            Por sua vez, trabalhou como relações-públicas na área de divulgação da Rádio e Estúdio Ômega e também enveredou pela produção de jingles. Ao todo o grupo gravou 13 discos, entre os anos de 1956 a 1996, completando quarenta anos de atividades. Participaram como convidados em mais de trinta LP’s, inclusive juntamente com artistas como Gal Costa, Maria Bethânia e Caetano Veloso.
 
Mas nenhum deles parou por aí. Hilton até hoje é referência número um quando o assunto é “jingles”. Como disse no início, o músico é o autor de um dos mais famosos jingles brasileiros, composto para a campanha política de Lula, candidato do Partido dos Trabalhadores – PT, à presidência da República.
 
          O CD, denominado “O som da estrela do PT” possui nove músicas, sendo que as mais famosas e conhecidas são “Lula lá” e “Sem medo de ser feliz”. Quem é que não se recorda de uma música que diz assim: “lula, lá, brilha uma estrela Lula, lá”...  As demais músicas foram: “Uma cidade”, “Uma cidade (sinceridade e felicidade)”, “Clareia”, “Estrelas d’água”, “Eu de cá, você de lá”, “Numa canção” e “Vai lá e vê”.
 
Atualmente Hilton Acioly vive em São Paulo, aos 75 anos e conserva a mesma vivacidade do 'menino do Cururu'. É reconhecido por inúmeros artistas nacionais. Ele ainda compõe jingles e músicas para propagandas televisivas e também é professor. Isso mostra a sua garra e o espírito elevado de um homem especial, o qual não permite que a idade diminua a sua capacidade criativa e a vontade de trabalhar.
Com toda a certeza, se Hilton Acioly tivesse ficado no Cururu a história da música popular brasileira não teria uma página tão significativa.Essa é a história de um nisia-florestense quase totalmente desconhecido em sua própria terra, mas que em tempos anteriores abalou a música no Brasil e no mundo. Ele acreditou que sonhos podem se transformar em realidade.
 
Ele nasceu em meio à fartura. Não conheceu, como muitos nordestinos,  as agruras diversas da vida. Podia ter ficado e se tornado como muitos amigos de infância, os quais, já aposentados, cuidam de suas terras .Donos de uma vida pacata. Não, ele sonhou, se desprendeu do ninho e alçou voo altaneiro, e realmente fez história.
Para mim, essa é uma das histórias mais belas que já ouvi.