ANTES DE LER É BOM SABER...

CONTATO: (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. Este blog - criado em 2008 - não é jornalístico. Fruto de um hobby, é uma compilação de escritos diversos, um trabalho intelectual de cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos de propriedade exclusiva do autor Luís Carlos Freire. Os conteúdos são protegidos. Não autorizo a veiculação desses conteúdos sem o contato prévio, sem a devida concordância. Desautorizo a transcrição literal e parcial, exceto breves trechos isolados, desde que mencionada a fonte, pois pretendo transformar tais estudos em publicações físicas. A quebra da segurança e plágio de conteúdos implicarão penalidade referentes às leis de Direitos Autorais. Luís Carlos Freire descende do mesmo tronco genealógico da escritora Nísia Floresta. O parentesco ocorre pelas raízes de sua mãe, Maria José Gomes Peixoto Freire, neta de Maria Clara de Magalhães Fontoura, trineta de Maria Jucunda de Magalhães Fontoura, descendente do Capitão-Mor Bento Freire do Revoredo e Mônica da Rocha Bezerra, dos quais descende a mãe de Nísia Floresta, Antonia Clara Freire. Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, um dos maiores genealogistas potiguares. O livro pode ser pesquisado no Museu Nísia Floresta, no centro da cidade de nome homônimo. Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta, membro da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, sócio da Sociedade Científica de Estudos da Arte e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Possui trabalhos científicos sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicados nos anais da SBPC, Semana de Humanidade, Congressos etc. 'A linguagem Regionalista no Rio Grande do Norte', publicados neste blog, dentre inúmeros trabalhos na área de história, lendas, costumes, tradições etc. Uma pequena parte das referidas obras ainda não está concluída, inclusive várias são inéditas, mas o autor entendeu ser útil disponibilizá-las, visando contribuir com o conhecimento, pois certos assuntos não são encontrados em livros ou na internet. Algumas pesquisas são fruto de longos estudos, alguns até extensos e aprofundados, arquivos de Natal, Recife, Salvador e na Biblioteca Nacional no RJ, bem como o A Linguagem Regional no Rio Grande do Norte, fruto de 20 anos de estudos em muitas cidades do RN, predominantemente em Nísia Floresta. O autor estuda a história e a cultura popular da Região Metropolitana do Natal. Há muita informação sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, o município homônimo, situado na Região Metropolitana de Natal/RN, lendas, crônicas, artigos, fotos, poesias, etc. OBS. Só publico e respondo comentários que contenham nome completo, e-mail e telefone.

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Lenda de Boágua - A terra dos galegos dos olhos azuis


Contam os alfarrábios que, pouco depois da invasão holandesa em nossa capitania – e sua consequente derrota – muitos desses estrangeiros se espalharam no Rio Grande do Norte.
Alguns casaram-se entre eles mesmos, outros fizeram famílias com índios e escravos. Naquela época a nossa capitania era praticamente uma floresta habitada por várias etnias do tronco tupi-guarani. A miscigenação estava no auge, mas não houve muito casamento entre brancos e negros nessas plagas, tendo em vista que a presença escrava foi pequena. A grande mestiçagem deu-se entre europeus com europeus, e europeus com índios.
Nas proximidades de Natal havia um dos mais antigos povoados da região, conhecido como Papari. Ao Norte desse lugarejo existia uma lagoa cristalina e piscosa. De tão clara, via-se o leito, dando-se a impressão de que os peixes voavam, como se ali não houvesse água. O belo manancial era margeado por Taboa e mata cerrada. Por se tratar de água potável de excelente qualidade, todos a chamavam Boágua.
A caça e a pesca eram fartas. Quem chegava não precisava de preocupação maior que erguer um rancho, fator este que atraiu várias famílias holandesas que se instalaram ali. Eram pessoas de pele louçã. Uns, de olhos azuis iguais ao céu, outros, verdes iguais aos mares. Essas características permitiam aos nativos se referir ao lugarejo como a “terra do povo vermelho e olho azul”. A predominância de mulatos, cafuzos e mamelucos nas outras regiões fez com que essa expressão se tornasse praticamente uma identificação daquela localidade.
Nas entranhas daquela infindável selva, na qual ninguém ousava adentrar - viviam uns índios fugidos de Arês, cujos nativos atribuíam-lhes foros de canibais e, por mais que tentaram, não conseguiram domesticá-los, pois eram hostis com a raça branca e com mestiços. As histórias narradas sobre eles eram aterrorizantes.
Numa dessas famílias vivia Anelise, menina de nove anos, linda igualmente a uma princesa europeia. Seus cabelos eram tão louros que lembravam o sol. A pele tão branca que as bochechas ficavam róseas a menor carícia do sol. Sua mãe se chamava Adelheide e seu pai Bram.
Acompanhada pelos irmãos mais velhos Rutger e Brunsvichk, costumavam caminhar às margens da lagoa durante a tarde, onde brincavam e corriam nas águas até se cansar. Na mata ribeirinha predominavam pés de mangaba, deliciosa fruta silvestre, comum em toda a região. Eles enchiam pequenos cestos e levavam para os pais, os quais preparavam suco depois de amassá-las numa urupema. Assim eram os dias de Anelise, uma garotinha feliz e amada por todos.
Durante a noite seu avô Adriaan se sentava a um toco, arrodeado pelas crianças e contava as mais belas histórias do folclore batavo, à luz de uma fogueira. Nas noites de lua, ela se encarregava de clarear o terreiro. As areias ficavam tão alvas como se Deus as tivesse forrada com um lençol de algodão.
Em meio aos contos, ele sempre pedia às crianças que tivessem o cuidado de não adentrarem à floresta além do limite conhecido, que jamais ultrapassassem o trecho ensinado pelos mais velhos, pois no centro da mata fechada, onde parecia noite de tão altas espécies, existia uma tribo indígena que comia gente.
Na realidade, ele contava um fato. Não era lenda, pois se tratavam de canibais. Fazia questão de dizer que eles golpeavam a pessoa com uma imensa borduna, depois cortavam o corpo em pedaços e moqueavam. Costumavam contar que, para eles, era verdadeira festa comer carne humana. Talvez o velho Adriaan deixasse a história propositalmente ainda mais amedrontadora para proteger a vida dos netos. Era prudente precavê-los, pois “é melhor ter medo que não ter”, dizia o velho batavo.
Só de ouvir, todos se tremiam.
Toda vez que as crianças iam aos deliciosos passeios, ficavam atentas, mas nunca viram nem sinal de índios canibais nas matas. Isso intrigava Anelise, a qual se perguntava constantemente como eram tais homens. Ela sentia uma curiosidade indescritível. Passava dias e noites imaginando como seriam tais índios, mas não ousava dizer a ninguém o seu estranho desejo.
Certa manhã o seu pai e irmãos saíram para as bandas de Massapê, um lugarejo próximo, que hoje chamam Mazapa. Lá residia um primo deles, casado com uma africana. Eles apreciavam o sítio, pois existiam muitos jatobazeiros, árvore que dá uma fruta deliciosa.
Anelise acordou feliz. O dia estava convidativo para brincadeiras ao ar livre. Ele amava o sol. Os pássaros faziam revoada para todos os lados. De vez em quando pousavam de rompante nas margens da lagoa, forrando-a como uma colcha de retalhos coloridos.
Como de costume, dona Adelheide, mãe de Anelise se debruçava nos afazeres domésticos. Nessa manhã ela preparava porco assado, enquanto a avó Heidi se dedicava ao fuso. Passava o dia tecendo os mais belos ornamentos.
Nesse dia ela amanheceu disposta e foi logo nadar. As águas refletiam milhares de estrelinhas imaginárias, refletidas pelo sol. Era assim que ela dizia para a sua mãe. As constelações faiscantes chegavam a encandear. Após alguns mergulhos escolheu os pés repletos de mangabas para fazer a sua merenda matutina. Dona Adelheide não se dera conta de que ela acordara, pois descera direto para a lagoa.
Anelise caminhou por muitos minutos. Vez em quando arremessava uma pedrinha na água para admirar os sucessivos círculos que se multiplicavam desapareciam lentamente. Assim não percebeu o tempo passar.
Enquanto isso sua mãe e avó estavam enlouquecidas a sua procura. Elas seguiram com dificuldade os rastos da menina, pois nem sempre Anelise caminhou na prainha. Muitos passos foram deixados na areia fofa. Sua mãe gritava o seu nome, implorando que ela respondesse.
Ambas as mulheres ficaram nesse empreendimento até a tardinha, quando chegaram à floresta densa, que era o espaço limite, onde jamais ousaram atravessar. Não haviam rastos nem sinais de mato quebrado. Nada denunciava a presença humana. O silêncio, quebrado apenas por algum trilo de pássaro ou o barulho de algum animal de grande porte, tornava a preocupação daquelas mulheres ainda mais insustentável.
O desespero obrigou-as a adentrar na mata proibida, onde andaram mais ou menos durante duas horas, sem dizerem uma palavra, sem ver nada mais que mato. Quando o sol já estava brando e o céu alaranjado, resolveram retornar. As pernas e mãos de ambas tremiam. Elas sequer se olhavam, temerosas de que os olhos denunciassem o que pensavam.
O pôr-do-sol se iniciava, portanto resolveram retornar. Sabiam que só chegariam ao sítio à noite. Dona Adelheide teve uma forte crise de choro e repassou sua dor à velha mãe que tentava consolá-la, abraçando-a.
A avó dizia que tinha certeza que elas encontrariam Anelise assim que chegassem em casa. Era o único conforto para o coração despedaçado da filha. Por mais que a suposição passasse certa esperança, dona Adelheide sentia um aperto muito forte no coração, como se algo lhe dissesse o contrário. E nessa agonia chegaram ao sítio.
Elas percorreram cada cômodo da casa, gritando por Anelise, mas o que viram foi o gato da menina, chamado por ela de “Geschilderd”, que em português significa pintado. O animalzinho estava sobre a sua cama, como se também a esperasse. Era o xodó da família. O velho Adriaan perguntou o que se passara, pois tinha sido o primeiro a acordar naquela manhã e saíra para cortar lenha muito cedo. Já estava preocupado. Ao tomar conhecimento, perdeu as forças e ficou sentado no sofá. Mal entraram em casa ouviram o tropel dos cavalos e as vozes do marido e dos filhos, que riam de algum episódio passado na viagem. Já era noite. O coração de dona Adelheide quase parou. O que dizer a eles? pensou. Assim que eles colocaram os pés na sala o senhor Bram logo percebeu a fisionomia arrasada da esposa, a qual tentou comunicar-lhe o acontecido, mas teve uma crise de choro. 
Dona Heidi, embora traumatizada, foi mais forte e contou-lhes o que estava acontecendo, causando pânico nos três. Logo os dois adolescentes começaram a chorar. A casa tomou ares insuportáveis. O senhor Bram levantou as mãos junto à própria cabeça, apertando-a como se quisesse esmagá-la. Ia e voltava desesperadamente da porta da sala para a cozinha. Em nenhum momento ele disse alguma palavra.
Não havia outra solução que não fosse refazer o percurso que as duas mulheres haviam feito à tarde. Infelizmente a noite estava um azeviche. Não se viam sequer as estrelas, mas o pai armou-se e saiu acompanhado dos filhos, os quais fizeram questão de ajudá-lo. Rutger e Brunsvichk eram adolescentes, mas muito espertos.
Os três homens embrenharam-se na mata com fogareiros, gritando pelo nome de Anelise, mas a noite ainda era mais silenciosa. Após três horas de caminhada, entraram na floresta intransponível e a percorreram com grande dificuldade, sem parar um minuto. Quanto mais se desesperavam, mais sentiam coragem de desbravar os espaços invisíveis e desconhecidos. Viram o dia amanhecer sem nada de novo. Tudo era silêncio e solidão.
Sem ter mais o que fazer, retornaram. Era impossível uma menina tão delicada chegar àquele ponto da mata. Eles próprios chegaram até ali com muito sacrifício. Assim que viram a lagoa percorreram toda a sua margem, sem sucesso. Era mais ou menos oito horas quando viram se aproximar dona Adelheide, acompanhada dos velhos pais. A fisionomia de desespero dos três corajosos homens anunciava o fracasso da empreitada. Restou-lhes se abraçar e chorar copiosamente. Ninguém ousava falar o que pensava.
A notícia tomou conta dos poucos povoados vizinhos. Todos os homens da região se propuseram a ajudar nas buscas nos dias seguintes. Passavam dias e noites perquirindo as matas sem encontrar sequer uma pista. Nem mesmo um fio de cabelo ou fiapo do vestido da menina. Embora Anelise era uma exímia nadadora, o pai e os irmãos vasculharam o leito da lagoa, supondo que ela estivesse enganchada em algum tronco ou pedra. Tudo em vão.
Após um mês de procura ininterrupta, os familiares traziam os seus corpos esqueléticos, principalmente a mãe e a avó da desaparecida. Ambas não sentiam vontade de comer, adquiriram insônia e perambulavam dias e dias pelas imediações da propriedade, cheias de esperança.
Com o passar dos meses chegavam aos familiares os mais diversos comentários. Disseram-lhes que uma menina galega havia sido vista nas proximidades de Cururu, acompanhada por um tripulante de um navio. Sr. Bram galopou como louco até a localidade, mas a informação se dissipou como vento. Não havia embarcação alguma próxima dos arrecifes. Ninguém sabia de nada. Uns diziam que alguém tinha dito e não se chegava a ninguém.
Ao retornar ao sítio, a única coisa que levava era o vazio ainda maior e mais tristeza para dona Adelheide.
Certo dia chegou a notícia de que uma menina de idade igual a de Anelise fora vista em Alcaçuz. Estava perdida e fora acolhida por uma família nativa. No exato momento Sr. Bram disparou até o povoado, mas o resultado foi igual ao anterior. Todos diziam que alguém disse tê-la visto. Não se encontrou casa alguma com criança alguma.
Novamente tudo voltou à estaca zero.
Em toda a região se comentavam que dona Adelheide tinha enlouquecido e andava a perambular pelos derredores da lagoa chamando pela filha. Louca ou não a infeliz mãe, que antes do episódio era uma mulher alta, bela e feliz, tornara-se esquálida e arqueada; andava com o corpo arqueado como se carregasse um peso e com o olhar perdido.
Dois anos se passaram. Numa determinada manhã um caixeiro viajante comentou numa taberna existente no centro de Papari, que estranhara a presença de uma menina alva como neve morando numa tribo indígena em Urucará, arredores de Arês.
Sr. Brams não esperou um segundo. Montou o seu cavalo e saiu às pressas para o local. Assim que chegou foi tomado de uma felicidade que lhe transbordou o peito. Seu coração disparou de alegria. Ele não conseguiu conter as lágrimas que despencavam aos cântaros. De longe ele viu Anelise correndo entre os indiozinhos.
A sensação era como se um fardo tivesse sido arrancado de suas costas. Mas a felicidade que pareceu cegá-lo se extinguiu a poucos passos dali como um golpe. Ele constatou tratar-se de uma indiazinha albina. Realmente era alva como sua filha. Os cabelos longos e quase brancos de tão louros, realmente destoava de todos os índios dali.
Sr. Bram não conseguiu sequer dar explicações ao cacique que o interpelou. Deu meia volta e tomou a direção de onde viera. Como sempre, cada notícia, mesmo inesperada, enchia todos de esperança, mas nada era mais amargo que a notícia trazida no retorno. A experiência dessas últimas buscas era torturante.
Quatro anos se passaram. Dona Adelheide se transformou num trapo humano. Nada lembrava a mulher de rara beleza, feliz, que adorava cuidar da família, pentear a filha e passear nas proximidades da lagoa só para ver os filhos fazendo peripécias. Anelise adorava fazer bundacanastra. A mãe passava o tempo todo olhando para o horizonte, imaginando a aproximação da filha. Sentia o cheiro de Anelise. Às vezes ouvia a sua voz dizendo: ”moeder... moeder... Ik hou van je”, que em português quer dizer mamãe... mamãe... eu te amo. Outrora imaginava as transformações que a filha teria passado ao longo dos quatro anos. Se viva, estaria com treze anos.
Nessa mesma época chegou a informação que um mateiro encontrou um vestidinho de criança preso num galho de árvore nas proximidades do sítio desses holandeses. Sr. Bram procurou todos os mateiros da localidade, indagou-os sobre a notícia, mas tudo era igual ao início do episódio. Todos diziam que "tinham ouvido dizer". Não tinha fim o “alguém disse”. Nunca se chegava a esse alguém. Mas quem sofria a dor imensurável do desaparecimento de uma filha, não podia ignorar qualquer informação.
Foi com esse espírito eterno de esperança que, certa manhã o senhor Bram disparou até o centro da vila. Disseram que um catador de mel vira uma bela moça de pele louçã cativa de um negro cafuso. Ele a mantinha amarrada com cordas numa choupana esquecida na mata. Diziam que era ele que havia roubado Anelise e a mantinha presa. O senhor Bram ficou fora de si e indagava a todos sobre a notícia. Muitos homens da região tomaram suas dores e vasculharam a mata. De fato foi encontrada uma moça nessas condições, mas não se tratava da holandesinha. O saldo positivo desse episódio foi salvar uma pobre infeliz das garras de um desequilibrado, o qual foi preso pela guarda e encerrado nos porões da Fortaleza dos Reis Magos.
Dez anos se passaram. Se viva, Anelise estaria com dezoito anos. Assim pensava dona Adelheide, que parecia arrastar um fio de vida num corpo que, a julgar pelos comentários “era couro e osso”. Dona Heidi e o senhor Adriaan, avós da menina, haviam morrido. Todos comentavam que a morte foi adiantada pelo sofrimento. A mãe parecia caminhar no mesmo destino. Os filhos e o marido, apesar de sofrerem, reagiam de maneira diferente, tentando animá-la sempre. A julgar por seu comportamento, tudo pareceu-lhe perder o sentido.
Ao longo de muitos anos o trágico acontecimento continuou proclamado aos sete cantos de Papari. Todos lastimavam o desaparecimento da menina que encantava a todos quando passeava cheia de alegria no centro da vila, galopando, acompanhada dos irmãos. 
Vez em quando surgia uma nova história. Chegaram a falar que sua alma penava nas águas da lagoa Boágua. Outros afirmavam tê-la visto em pé sobre uma porteira na estrada. Muitos, voltavam correndo na estrada da Carnaúba, amedrontados, alegando ter visto uma menina trajando vestido branco e segurando uma vela. Um velho contou que a viu caminhando sobre as águas da lagoa de Carnaúba. Outros, diziam que era na lagoa de Boágua. Contaram tê-la visto cruzando as árvores que margeiam a dita estrada. Houve quem dissesse ter encontrado várias partes ensanguentadas do corpo de uma criança. Cada membro fora visto num trecho da estrada, e de repente tudo se juntava e surgia Anelise correndo atrás das pessoas, esvurmando sangue pelo corpo. Certamente aludiam ao modo como os índios canibais preparavam suas vítimas. Muitos alegavam ouvir um choro piedoso quando passavam na estrada que liga o centro da vila ao antigo sítio.
As histórias - sob múltiplaas nuanças - pareciam não ter fim. 
Nesse tempo as imponentes árvores da estrada da lagoa Carnaúba se curvavam formando uma abóbada. Era literalmente um túnel sombrio, cujas noites sem lua o deixavam ainda mais escuro. Durante muitos anos os nativos não ousavam percorrê-lo à noite. Muitos contavam - horrorizados - ter visto um par de olhos esbugalhados, faiscando um rubro que contrastava com a escuridão da floresta. A visão era percebida ao longo do trajeto, ora num ponto, ora n'outro, como se estivesse vigiando os viajantes. Incontáveis narrações de 'malassombro' sobre Anelise percorriam a imaginação popular. A menina, antes linda e admirada, assumiu as mais fantasmagóricas facetas no imaginário popular. Muitas mães diziam para os filhos “cuidado com a menina Anelise”, outros falavam “cuidado com a menina diabólica”. Era a receita mais eficaz para levar menino cedo para a cama.
A história de Anelise percorreu séculos, contada sob as mais diversas formas. O seu corpo nunca foi encontrado. Nem mesmo uma pista. No caudal de tantos disse-me-disse, pulverizaram o comentário de que muitos anos antes, um cacique da tribo canibal - que com muito sacrifício fez amizade com um homem branco, morador da vila - atraído pela aguardente de seu alambique - relatou que sua tribo não comia criança. Explicou que, para a cultura deles, a criança era uma espécie de divindade, algo intocável. Noutra feita, já muito dopado por água que passarinho não bebe, contou que carne de gente branca tem gosto de banana. E fez questão de ressaltar "carne de gente branca e adulta". Seja o que for que tenha acontecido, Anelise desapareceu como orvalho sobre lírios em manhã ensolarada.
Nesse tempo os pais e avós de Anelise já havia falecido há mais de um século, inclusive os irmãos dela. O nome Boágua foi estendido a uma comunidade existente até os dias atuais. Assim como os holandeses pioneiros, outras famílias vieram morar ali, até mesmo os próprios nativos das proximidades. Essas pessoas foram se casando entre si, inclusive com descendentes de Anelise. E cada vez mais o povoado foi aumentando e ampliando a miscigenação. 
Aquele povo de pele louçã, olhos verdes ou azuis e cabelos louros esbranquiçados dissipou-se no tempo e na mistura de raças. Até mesmo o sobrenome da família se abrasileirou.
Quando visitamos o distrito de Boágua encontramos em algumas pessoas as mesmas características da família de Anelise. Algumas parecem nem ter se miscigenado, pois trazem a pele muito alva, os olhos de um azul e verde tão vivos que lembram seus antepassados. São os descendentes da família de Anelise e de outros holandeses que há quatrocentos anos chegaram por ali, se apaixonaram pela exuberância do lugar onde vivem até hoje.
É por isso que, hoje os nativos de Nísia Floresta se referem à Boágua como a terra dos galegos de olhos azuis. Out. 1995

Ensino religioso nas escolas não substitui nem é uma extensão do ensinamento religioso das famílias

https://pt.aleteia.org/2015/11/09/o-apartamento-do-cardeal-bertone-foi-pago-com-dinheiro-doado-para-um-hospital-infantil/

Particularmente sou dostoieviskiano  e Nietzschiano quando o assunto é religião. Se é que seja possível, mas o leitor já me entendeu.
Pois bem, esse ópio, apelidado de religião, seja de qual raiz for, cristã, muçulmana, budista etc etc etc, na minha opinião não deveria ser ensinado nas escolas, exceto como parte da História da Humanidade. Há quem pense que Ensino religioso nas escolas substitui ou é uma extensão do ensinamento da religião pessoal das famílias. Não é e nem deve ser. Educação religiosa, assim como educação do respeito e das boas maneiras são tarefas dos pais e familiares.
Respeito todas as religiões, respeito todas as formas de culto, exceto quando atentam contra qualquer tipo de vida, ou atentam contra a inteligência humana ou a dignidade das pessoas.
Entendo que jamais um professor de Ensino Religioso deixará de "puxar a brasa para os seus assados". Pode ter até um entre mil que não o faça, mas falo por sucessivos casos que testemunhei, inclusive a minha própria experiência de estudante, época em que a referida disciplina era denominada "Religião". Experimentei-a no período da 5ª a 8ª séries do ensino fundamental.
Jamais um professor que professa na Assembléia de Deus falará com a mesma profusão do católico os temas marianos. 
Jamais um professor católico tratará o tema 'arrebatamento' em sala de aula, pois os padres nunca falam no assunto. Há católicos que não sabem nem o que é Ato de Contrição, quem dera arrebatamento.
Nunca os evangélicos e católicos, espíritas, budistas, umbandistas se emocionarão com o Profeta Maomé em detrimento de Deus/Jesus.
Qual a postura de um professor de Ensino Religioso então?
Ora, na minha insignificante opinião ele não precisa ser ateu, nem agnóstico, nem o que quer que seja. Deve ser apenas um profissional, um educador de fato.
Mas esse também poderá professar tal visão. Não se engane. Conheço alunos oriundos de religiões fundamentalistas que se tornaram ateus.
Na realidade, tudo é muito complexo. A grande dificuldade está no próprio sistema educacional brasileiro. Volto no de sempre: o problema chama-se EDUCAÇÃO... OU FALTA DELA... OU DETURPAÇÃO DELA... OU....
Dia desses ouvi uma senhora dizendo que o problema da violência no Brasil é porque as crianças não têm mais "Religião" nas escolas como antigamente.
Não!
O problema do Brasil é que desde o seu surgimento nunca se investiram adequadamente em educação.
Religião não salva, nem melhora nada. É apenas um instrumento como qualquer disciplina. 
É claro que para as pessoas que tem fés (no plural mesmo, pois são muitas), vão sempre alegar isso. São elas que choram, que falam línguas estranhas, que pulam, gritam, enfim desabafam. Essas tem suas válvulas de escape. Religião tem muito disso. A própria Rachel de Queiroz disse, certa vez: "gostaria tanto de ter tido uma fezinha, mesmo pequenininha, mas nunca tive, sou trotskiana..".
Religião não é melhor que ter uma família decente, cujos pais amam os filhos e os educam de forma civilizada para que sejam homens e mulheres de bem. Isso não é papel da religião.
Religião é uma ferramenta de sustentação para os que creem no que quer que seja. É o bálsamo do fiel.
Creio que Ensino Religioso ou Religião devam ter uma ótica histórica apenas.
O conteúdo programático dessa disciplina deve ser construído por profissionais de todas as religiões - incluindo quem não tem nenhuma - de maneira que os assuntos perpassem a História da Civilização Mundial, sem apologias.
Creio que a respeitável ministra Carmen Lúcia ainda guarde o ranço do Ensino Religioso das escolas do passado e, hoje, em sua decisão, tenha se empregnado dela.
Se há quem entenda que é o Ensino Religioso ou a ressuscitação da antiga Educação Moral e Cívica, ou a atual Ética e Cidadania que melhorarão o Mundo, enganam-se...
Tudo isso é paliativo.
O que não apenas melhorará, mas salvará o Brasil é se investir pesadamente em Educação, priorizando a básica. Um cidadão civilizado poderá se tornar um excelente homem, mesmo que no futuro se torne padre, pastor, guia espiritual, ateu ou o que quer que seja. Mas com certeza gente de bem.
Todos os problemas do Brasil ocorrem por deseducação do passado. Hoje, apenas sofremos as consequências. 
Os líderes religiosos apenas se somam na luta por um mundo melhor - como pode fazer qualquer pessoa, inclusive um ateu ou quem não professa nada, mas acredita num ser superior - muito embora vários estão nessa para lucrar. 
Muitas igrejas estão infestadas de ratos de duas pernas na mesa proporção das ratazanas quadrúpedes. 
Não fique pasmo, mas há até mesmo pastores que não acreditam em Deus, que estão nessa apenas para garantir o luxo às suas famílias. Um dos grandes exemplos é o Cardeal Bertoni, no Vaticano.
Conheço ateus maravilhosos, decentes mais que certos fiéis de igrejas, beatos etc. Não é a religião que torna alguém bom ou mau. Religião tem muito de comércio de fé, enganação, impostura, falsificação de milagres, exploração da ignorância alheia etc etc etc.
Há, como já expliquei, muita gente decente professando suas fés, sejam pessoas comuns, beatos, padres, pastores etc. Mas há muita gente má, corrupta, enganadora, teatralizando os mais belos cenários de religiosidade, cujos lucros não são para o povo, mas para os professadores e seus protegidos.
Pergunte a Osama Bin Laden (se possível fosse) por que ele não entrou no voo 93 de United Air Lines e se jogou no World Trade Center. Pergunte por que ele não se explodiu nas tantas multidões onde se explodem tantos adolescentes e jovens inteligentíssimos, muito bem preparados, inclusive sob forte lavagem cerebral para ir ao encontro dos rios de leite e as mil virgens para deflorá-las no paraíso... Vá lá ver o pais desse monstro, dentre tantos. É só destroços. Bin Laden vivia na opulência em Nova Iorque, tomando Coca Cola e comendo Hambúrguer, numa vida puramente ocidental.
Finalizando e repetindo: religião, a meu ver, deve ser ensinada nas escolas como História da Civilização Mundial. nada mais.
Veja abaixo, ipsis literis, a reportagem do jornal El País sobre o assunto. 

El País
Rio de Janeiro 
Supremo Tribunal Federal determinou, nesta quarta-feira, que um Estado laico como o Brasil é compatível com um ensino religioso confessional, vinculado a uma ou várias religiões específicas, nas escolas públicas. O STF, por 6 votos a 5, contraria assim a Ação Direta de Inconstitucionalidade da Procuradoria Geral da República, que cobrava que o ensino público religioso fosse sempre de natureza não confessional e facultativo, sem predomínio de nenhuma religião, como já estabelece a Constituição. Esse modelo, segundo a ação, “consiste na exposição das doutrinas, das práticas, da história e de dimensões sociais das diferentes religiões – bem como de posições não-religiosas, como o ateísmo e o agnosticismo, sem qualquer tomada de partido por parte dos educadores”. A PGR também pregava na sua ação pela proibição da admissão de professores que atuem como representantes de confissões religiosas.
Mas a maioria dos ministros do Supremo considerou que há como pregar a religiosidade e crenças específicas em escolas públicas sem violar a laicidade do Estado. "Não consigo vislumbrar nas normas autorização para o proselitismo ou catequismo. Não vejo nos preceitos proibição que se possa oferecer ensino religioso com conteúdo especifico sendo facultativo", defendeu a ministra Cármen Lúcia, que desempatou a votação.
O julgamento, que decorreu em cinco sessões, revelou como a fé e o papel dos credos nos espaços públicos continuam sendo um desafio num país com vasta diversidade religiosa –calcula-se que há cerca de 140 confissões –, mas declaradamente laico. O próprio plenário do Supremo, assim como o da Câmara, está vigiado por um crucifixo na parede. O ministro Gilmar Mendes, defensor de que o ensino confessional não é proibido pela Constituição por ser facultativo, chegou até a ironizar a questão. “Aqui me ocorre uma dúvida interessante. Será que precisaremos, eu pergunto, em algum momento chegar ao ponto de discutir a retirada a estátua do Cristo Redentor do morro do Corcovado por simbolizar a influência cristã em nosso País? Ou a extinção do feriado de Nossa Senhora de Aparecida? A alteração dos nomes dos Estados? São Paulo passaria a se chamar Paulo? E o Espírito Santo? Poderia se pensar em espírito de porco ou em qualquer outra coisa”.No Brasil, o maior país católico do mundo com 123 milhões de fiéis, o ensino religioso está contemplado na lei 9394/96 de diretrizes e base da educação nacional. A oferta é obrigatória para a escola e optativa para o estudante do ensino fundamental. Mas, na prática, cabe aos municípios e Estados legislar a respeito e às escolas acordar com os pais como o ensino religioso é incluído na grade escolar, o que tem levado a uma ampla interpretação do modelo de ensino nas aulas, assim como ao privilégio de determinados credos frente a outros.
Em alguns Estados, como o Rio de Janeiro, Acre ou Ceará, o ensino religioso confessional nas escolas públicas é garantido por lei. Em outros, a matrícula da matéria é automática e cabe ao aluno cancelá-la. E, em muitas escolas, como foi apontado diversas vezes durante o julgamento, as crianças podem ser expostas a constrangimento ao se negarem a entrar na aula de religião, muitas vezes porque sequer há alternativas curriculares para quem se recusar.
O relator do processo e defensor do ensino não confessional, o ministro Luís Roberto Barroso, defendeu no seu voto o fim dessas particularidades e cobrou que o Ministério de Educação estabeleça “parâmetros curriculares e conteúdos mínimos de ensino de religião, sob pena de se violar o mandamento constitucional da laicidade”. O ministro Alexandre de Moraes foi um dos que contrariou Barroso e defendeu que o ministro da Educação baixar uma portaria com os dogmas a serem ensinados, seria um "total desrespeito à liberdade religiosa". "O Estado deve ser neutro, não pode escolher a religião A, B ou C, o que achar melhor, e dar sua posição, oferecendo ensino religioso estatal, como uma nova religião estatal confessional", disse Moraes, partidário de delegar o ensino das matérias religiosas em representantes de cada fé.
Ricardo Lewandowski também considerou que o ensino religioso confessional nas escolas públicas não atenta contra a neutralidade do Estado. “O importante é que o ensino público de modo geral, inclusive em matéria de religião, seja ministrado de forma cuidadosa, respeitosa, sem discriminar ou estereotipar os alunos em razão de suas características pessoais ou opções individuais”, disse o ministro. “A laicidade não implica no descaso estatal com as religiões, mas sim na consideração com as diferenças, de maneira à Constituição prever a colaboração do interesse público e as crenças”.

Acordo com o Vaticano

À heterogeneidade da aplicação da lei nos Estados somou-se, em 2008, um acordo costurado pelo o ex-presidente Lula com o papa Bento XVI. A concordata tinha como objetivo regulamentar a presença da Igreja Católica no Brasil, mas trouxe aspectos controversos como o destaque do ensino religioso, "católico e de outras confissões", nas escolas da rede pública do Brasil. O acordo com o Vaticano, segundo os críticos, veio a diluir ainda mais o limite entre um Estado laico e uma sociedade multiconfessional, com apenas 9% de ateus, segundo o IBGE.
A concordata passou a especificar uma confissão em concreto, a diferença do que prega o texto constitucional. O acordo também levantou polêmica na época, pois especialistas e parlamentares viram no documento uma forma de privilegiar a Igreja Católica. “A simples presença do ensino religioso em escolas públicas já constitui uma exceção, feita pela Constituição, à laicidade do Estado. Por isso mesmo a exceção não pode receber uma interpretação ampliativa para permitir que o ensino religioso seja vinculado a uma específica religião”, manteve o ministro Barroso, cujo argumento resultou derrotado.

O Estado virando as costas para a fé

No julgamento, a Presidência da República e a Câmara dos Deputados, representadas pela Advocacia Geral da União (AGU), se manifestaram contra o parecer da PGR, assim como –apenas– oito de 31 entidades de todos os credos consultadas em audiência pública convocada pelo ministro Barroso. Em resumo, a AGU entende que o Estado não pode virar as costa para a fé, que a facultatividade do ensino é suficiente para assegurar que não haverá proselitismo e que se o ensino fosse não confessional não haveria razão para que a matrícula da matéria fosse facultativa. “O nosso Estado é laico, não é laicista […] O Estado se colocou na posição de neutralidade, mas a AGU acha que o Estado é responsável de assegurar qualquer credo e criar condições para que as práticas religiosas se desenvolvam entre nós”, defendeu a advogada-geral da União, Grace Mendonça.
O advogado da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Fernando Neves, também se manifestou a favor do ensino religioso confessional. “O ensino religioso não é o ensino de religiões, não é história, não é filosofia. Essas matérias já são obrigatórias. É obrigação do Estado abrir um espaço na grade curricular para que quem quiser se aprofundar na sua fé possa fazê-lo. Ensino religioso não é catequese, não é proselitismo, é o aprofundamento no ensinamento da fé escolhida”, disse o letrado.
Barroso resumiu assim o dilema jurídico antes de começar a ler parte de seu voto na quarta-feira, 30 de agosto: “Vejo esta prova como uma discussão fora de época, entre iluminismo [que já no século XVIII pregava pela separação de igreja e Estado] e pré-iluminismo”.

COMO É O ENSINO RELIGIOSO EM OUTROS PAÍSES?


M. M.
Em países como a Itália, sede da cúpula da Igreja Católica e uma República laica, o ensino da religião católica nas escolas públicas é garantido por um acordo com a Santa Sé de 1984. As aulas são optativas, assim como na Espanha e Portugal, Estados não confessionais.
A França é uma exceção da União Europeia e o ensino de religião é considerado uma atividade extraescolar.
Em países como Reino Unido (com maioria protestante), Grécia (em estreita colaboração com a igreja ortodoxa) e Finlândia (de tradição luterana), a religião é mais uma matéria obrigatória do curriculum escolar. Nos Estados Unidos, embora seja considerado um país com forte tradição religiosa, o ensino religioso confessional está banido das escolas públicas.

Brasileiro é o que menos confia em seus políticos


Lendo jornais, hoje, pela manhã, tive essa notícia. Óbvio que se trata de tragédia anunciada, mas para quem tem esclarecimento e luta por justiça, é vergonhoso e decepcionante.
Dias desses um amigo disse-me que estava em Buenos Aires e, entrando numa loja e se identificando como brasileiro, uma comitiva de funcionários e seguranças imediatamente o acercou. Eles tentavam disfarçar, mas era visível que faziam marcação cerrada.
Nossa imagem é podre fora do Brasil.
Temos uma tradição de corrupção – quem é que não sabe –  mas muitos países civilizados também a tiveram e, hoje, são exemplo. Não é por termos essa cultura deplorável que não devamos combatê-la.
Políticos, antes de o serem, são pessoas comuns como qualquer outra. Isso quer dizer que a corrupção está no próprio povo e apenas é mais visualizada quando integrantes desse povo se torna político.
Como sempre repito, existem políticos brasileiros honestos e visionários, que lutam por um Brasil melhor e travam odisseias contra a corrupção, mas – INFELIZMENTE – são pouquíssimos. Cabem numa salinha.
Na minha insignificante opinião, os políticos corruptos devem ser banidos, de vez, da cena pública. São ladrões! Mas, infelizmente, também, somos mal esclarecidos... a gente se vende por uma dentadura de resina...
Veja, como sempre digo, que a gente sempre volta para o fator EDUCAÇÃO. Onde não se investe em educação, dá isso.

Aprecie o site abaixo e, pelo menos fique informado dos detalhes.

Um estudo do Banco Mundial, em parceria com Fundação Dom Cabral, divulgado nesta quarta-feira (27), apresenta o Brasil na 137ª posição do sub-item "Confiança do público nos políticos". Esse é o último lugar, já que são 137 os países que compõem o Índice. 
Em 2008, o país ficou na posição 122 nesse item, comparado com 134 nações. Em 2013, ano dos protestos que levaram milhões às ruas contra o aumento das tarifas do transporte público nas capitais, o Brasil tinha caído para a posição 136 de um total de 148 países. No ano passado, em uma escala que vai de 1 a 7, a nota de confiança dos políticos brasileiros não passou de 1,3. O primeiro do ranking, Cingapura, marcou 6,4 pontos.


A corrupção é apontada pelo estudo como um dos piores problemas para a competitividade do Brasil. Esse item só perde para a carga tributária do país. No item "efeito da tributação no incentivo para trabalhar", o Brasil também ocupa o último lugar. No "efeito da tributação no incentivo para investir", o penúltimo posto. No ranking de países mais corruptos, o Brasil está em quinto, atrás apenas de Venezuela, Paraguai, República Dominicana e Chade.
Em qualidade da educação primária, o Brasil está no 127º lugar. E na qualidade do ensino de matemática e ciência na universidade, em 131º lugar. 
O estudo também revela que os problemas não atingem apenas o setor público. Mesmo subindo 11 posições no quesito "instituições" - um dos 12 pilares que são medidos pelo Fórum -, o Brasil fica em 109º lugar. No ranking que mede a ética corporativa, as empresas brasileiras ficaram em 126º, sempre em um total de 137 países.
Segundo o relatório que acompanha o ranking, a melhora de 11 posições se deve, em parte, à Operação Lava Jato. O texto diz que o ganho "mostra os efeitos de investigações que levam à uma maior transparência e à percepção de procedimentos bem sucedidos para reduzir a corrupção dentro dos limites institucionais da Constituição do Brasil".

Tags: brasil, colocação, competitividade, corrupçao, economia, indice mundial, lava jato, politicos, ranking

Infanciação


Nasci numa quarta sem feiras
Apenas matas e rios cheirando a quatro horas da tarde.
O tempo geava um rigoroso inverno.
Menino vistoso
Vestido de cidade recém-nascida;
Doze primaveras de pedra fundamental
Carregava o rincão pantaneiro do meu primeiro choro.
Minha mãe teve uma quarentena de pirão de galinha caipira
Resguardada a parto natural.
A seu ócio temporário debruçava-se em afazeres a ajudante Bastiana.
Seu azeviche tinha a dimensão de dignidade
Qual diamante negro de nobreza.
Mais velha que minha mãe
Guardava sabedoria de forno e fogão 
Espalhando-a com humildade de monge.
Cresci numa comitiva irmanal cercada de sacis, curupiras, caiporas e lobisomens,
Iscuitando siriris, rasqueados, chamamés e guarânias.
Ao medo seguia proteção
Na pele sebastiana que equipamentava amor.
Lembro dos desenhos que ela riscava de unhas na pele.
Bataguassu lesmava uma clareira
Acanhada de urbanidades,
Pedaço de terra selvagem
Emoldurada de bichos.
Poucos pioneiros se arranchavam ali.
Meus pais foram desses.
Quem é parido em grossos matos
Traz um sujo de bugre.


Trago dentro de mim um baú transbordante de infância
Nasci de uma flor potiguar que pariu rodeada de florestas, bichos e rios
Por que isso meus recordos são molhados de verde da mata
Minhas essências espirram de fragmentos silvestres
Meu primeiro choro fez coro com o esturrar das onças, o grasnar das araras e o palrear dos papagaios
Bichos bandoleiros que pousavam nas nuvens de Bataguassu
Engatinhei no barro vermelho
Com gato, galinhas e cachorros
Nunca estive nem quis estar distante do chão, Pois que seu cheiro e seus bichos me seduziam
Assim, fui íntimo de minhocas e cachorros d’água
Em Bataguassu quando as vozes dos bichos acontecem
Quando o murmúrio dos rios acontece
Quando o farfalhar das matas acontece,
Sou eu acontecendo.
Minha primeira cor foi lama tingitando minha alma
Sem nunca mais descolori-la
Foi nessa cidade desconhecida,
Sombreada de matas,
Assobradada de ruas, calçadas, espaços e poeira vermelha
Que minha infância felicitou.


quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Temer diz que corrupção está sendo combatida

Ouvi, hoje, na CNN esta notícia. Lendo-a, agora, n'O Globo, restou-me a perplexidade. É simplesmente inacreditável. Eu enxergava Cunha como pai do cinismo, mas vi que há outros pais.
Coincidentemente, reli, ontem, o conto da onça que fingiu de morta para enganar a raposa. Achei a onça parecida com temer... 
E a raposa também...


“O Judiciário funciona regularmente, o Legislativo igualmente, o Executivo... O Ministério Público, não é? Que é quem cuida um pouco dessas ações. Eles funcionam regularmente, tanto que, na verdade quando há essas afirmações, elas são operadas. Eu, é claro, até no meu caso, você sabe que há manifestações e muitos outra, né. Mas esta matéria está no Judiciário e nós confiamos no Judiciário brasileiro. É claro que eu aqui diria que são inverdades absolutas, fruto talvez de uma certa, um certo desejo de dizer que o Brasil está nessa ou naquela posição em relação à corrupção, mas o fato é que a corrupção está sendo combatida e isto dá mais segurança aos nossos investidores, não é? Os investidores que forem para lá não vão ter preocupações com o fenômeno corruptor”, disse o presidente.

Aproveite para reler o conto, e fique esperto, no bom sentido, sobre os saqueadores dos cofres públicos. Pode ter um aí mesmo na sua cidade...
A raposa e a onça

Cansada de ser enganada pela raposa, a comadre onça planejou atraí-la à sua toca. Para isso, espalhou pela freguesia a notícia de que tinha morrido e deitou-se no meio da sua caverna, fingindo-se morta. A bicharada desconfiada, mas não contendo a curiosidade, vieram olhar o seu corpo. A raposa também veio, mas ressabiada como ela só, ficou a olhar de longe. E por trás de outros animais gritou:
— Minha avó, quando morreu, espirrou três vezes. Espirrar é o sinal verdadeiro da morte.
Comadre onça, para mostrar que estava morta de verdade, espirrou três vezes. Foi o que bastou para a raposa fugir, às gargalhadas.
Furiosa, a comadre onça resolveu apanhá-la ao beber água. Era época de seca no sertão e somente uma cacimba, ao pé duma serra, ainda tinha um pouco de água. Todos os animais da freguesia eram obrigados a beber ali. Então, a comadre onça se arranchou a beira da cacimba, e ficou à espera da esperta raposa, dia e noite.
Nunca em toda a sua vida a raposa curtiu tanta sede. Ao fim, porém, de três dias já não agüentava mais. Não havia outro jeito, tinha de ir beber na cacimba, mas não ia "dar mole" a comadre. Usando duma astúcia, procurou um cortiço de abelhas, furou-o e com o mel que dele escorreu untou todo o seu corpo. Depois, espojou-se num monte de folhas secas, que se pregaram aos seus pêlos e cobriram-na toda.
Por volta do entardecer foi à cacimba. A onça olhou-a bem e perguntou-lhe:
— Que bicho é você que eu não conheço, que eu nunca vi?
A raposa cinicamente respondeu:
— Sou o bicho folharal.
— Então pode beber.
A raposa desceu a rampa do bebedouro, meteu-se na água, sorvendo-a com delícia e a onça lá em cima, desconfiada, vendo-a beber demais, como quem tinha sede de vários dias, murmurou:
— Quanto tamanha sede, folharal!
Mas a raposa que se julgava muito esperta não pensou que a água iria amolecer o mel e, assim, folhas foram caindo às porções. Quando acabara de "matar a sede", a última folha caiu, e a comadre onça de imediato reconheceu a não muito esperta raposa. Pulou ferozmente sobre ela, mas a danada da raposa conseguiu fugir.


segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Golandi, a lenda verdadeira


Há muitos e muitos anos apareceu em Papari - numa época remota, na qual se contavam os viventes desse rincão - um casal de índios do tronco tupi-guarani, fugido do massacre de Cunhaú. Ela, Jaciara, que significa “nascer da lua”; ele, Ubirajara, que significa “senhor da lança”. A região era uma selva de difícil acesso, cortada por um pequeno córrego de águas cristalinas e piscosas.
Como a mata era fechada, tornava difícil a locomoção, obrigando-os a fazer uma pequena clareira.
Nesse recôndito perdido e esquecido eles construíram uma pequena casa de taipa, aprendida com os portugueses que habitavam o lugar de origem.
A casa foi engenhosamente coberta com palhas de coqueiro entrançada, de modo a impedir a mínima infiltração. Arte típica dos ancestrais nativos. A floresta era permeada por animais selvagens, que poderiam atacá-los se permanecessem expostos principalmente à noite. A natureza era intocável, os bichos viviam em perfeito equilíbrio, mas era bom se proteger.
Ao redor da morada fizeram roça de milho, macaxeira, inhame, batata doce, fruta-pão, jerimum e ervas medicinais. A caça e a pesca eram abundantes. Desse modo viviam felizes e com fartura.
Com o passar do tempo eles tomaram coragem e avançaram um pouco mais nas matas desconhecidas, vislumbrando reconhecê-la melhor. Nesse empreendimento descobriram que moravam numa vasta extensão de mangue, e que o lugar era um labirinto de riachos e olhos d´água.
Conforme venciam as matas, perceberam alguns sinais humanos, ora nas estacas cortadas, ora nas veredas com rastos humanos. Aos poucos deram conta da existência de moradias, ora solitárias, ora associadas a outras. Até mesmo um acanhado povoado de três ou quatro casas foi encontrado.
Eles constataram que tais moradias pertenciam a mestiços, ora de índios com brancos, ora de índios com negros, ora de negros com brancos. Desse modo ficou mais fácil tentar estabelecer amizade.
Não demorou muito iniciaram contato, ora acanhado, ora com certa familiaridade, inclusive haviam outros fugitivos do massacre de Cunhaú nessas propriedades.
Eles também se arrancharam ali atraídos pelas riquezas naturais. Tudo era farto. Cambadas de caranguejos desfilavam nos quintais como formigueiros, forrando-os completamente. As águas eram infestadas de camarão pitu. Eles não valorizavam muito a caça de aves e quadrúpedes, como tatus, capivaras, antas, pacas, porcos do mato e outros bichos. Preferiam camarão com tubérculos, beijus e tapioca.
Os novos vizinhos perguntavam ao casal o nome do local onde moravam, mas eles não sabiam; apenas apontavam a direção e davam referências. Àquela época os índios usavam os tipos de solo, os rios, determinadas árvores, cipoais e acidentes geográficos para explicar a localização de alguma coisa.



Certo dia Ubirajara disse a sua esposa que estava incomodado, pois se dera conta de que o lugar onde viviam não tinha nome. “As pessoas perguntam onde moramos, mas não temos resposta. Todos os lugares têm nome, menos o nosso”.
A esposa Jaciara concordou e disse:
- Ubirajara, olhe para essas matas. Veja que a cada passo que damos encontramos um pé de “IGWANA’NDI”. A nossa oca foi feita com madeira de igwana’ndi; a nossa mesa é de igwana’ndi; nossos tamboretes são de igwana’ndi; a porta de nossa casa é de igwana’ndi; o jirau que usamos para moquear é de igwana’ndi... até mesmo o remédio que nossos avós usam contra reumatismo é do igwana’ndi. Já temos o nome daqui. De agora em diante, quando alguém perguntar onde moramos, responderemos: moramos em igwana’ndi. Nome lindo! Não há outro melhor!
Os índios se respeitavam muito, inclusive a palavra da mulher tinha o mesmo peso da palavra masculina. E assim nasceu o nome do lugar que, mesmo antes do batismo já possuía ares de igwana’ndi por excelência.
E o tempo foi passando...
O casal teve filhos, os quais, depois de adultos, se casaram com outros nativos. Iguais a eles, outras pessoas se arrancharam em igwana’ndi. E o local foi tomando ares de um acanhado povoado.
Como Ubirajara era o índio pioneiro de Igwana’ndi e o mais idoso – contando cento e vinte e cinco anos – transmitiu a cada morador o ensinamento de plantar sementes de igwana’ndi toda vez que derrubassem um de seus pés, pois era a madeira mais apreciada em toda a região. E fizessem o mesmo com outras espécies. Explicou que a riqueza natural daquele lugar vinha da harmonia entre o homem e a natureza. "De onde se tira e não se põe, tudo se acaba", dizia.
Passados cem anos, quando não mais existiam sequer vestígios da existência do casal Ubirajara e Jaciara, os mais novos passaram a chamar o local de Guanandi. Muitos homens brancos chegaram ao local com suas famílias e novos costumes. A maioria dos nativos já não seguia mais os ensinamentos dos mais velhos. Abandonaram a tradição de replantar igwana’ndi. Os descendentes do casal Ubirajara e Jaciara a essa altura dos fatos já não conservavam quase nenhum costume indígena. De índios traziam apenas os traços fisionômicos  e  se esqueceram da tradição de preservar o igwana’ndi .
Mas, por incrível que pareça, Guanandi permanecia envolta numa floresta imponente, graças aos pássaros que se encarregavam instintivamente de reflorestá-la juntamente com os morcegos e macacos.
Era prática comum entre os senhores de engenho da região construir os assoalhos de suas casas grandes e senzalas com a madeira do guanandi, pois era de qualidade nobre e de alta resistência. Eventualmente saiam dois a três carros-de-bois gemendo nos estradões afora, transportando dezenas de toras dessa árvore.
Os construtores de navios mandavam buscar ali os mais belos exemplares dessa espécie. Mesmo assim as matas permaneciam portentosas, emoldurando o povoado, abraçando-o carinhosamente, como se dissessem: “somos superiores a vocês, homens... pagamos o mau que vocês nos fazem com o bem”.
Como dissemos anteriormente, o tempo não para...
Certo dia apareceu no povoado – que já possuía um belo arruado de casas e até mesmo uma capelinha. – um homem esquisito trajando roupas reais. O povoado parou. Os moradores correram se aglomerando num descampado central. O homem montava um imponente cavalo árabe. Com ele estava uma comitiva e algumas autoridades da Vila Imperial de Papari, as quais se drebuçavam em pitorescas cortesias e deferências. Era um representante do Imperador D. Pedro II. Houve o toque claudicante de corneta. Em seguida ele desenrolou uma espécie de pergaminho e o leu em voz alta:
- “Em nome de deus e de Sua Majestade Imperial D. Pedro II, informo a todos os moradores dessa localidade de Guanandi, que fica proibida a partir de hoje, a derrubada de árvores da espécie Guanandi. Ficam reservada para o Império Brasileiro, sob forte fiscalização, o uso exclusivo dessa árvore para a confecção de mastros e vergas de navios. Essa determinação provém da Lei de nº ... de 7 de janeiro de 1835, sancionada por Sua Majestade Imperial D. Pedro II. E ficam todos informados que os possíveis infratores serão presos e transferidos para a Corte de São Sebastião do Rio de Janeiro, e lá serão encerrados nas galés, onde trabalharão como escravos até a morte”.
 Após a espetaculosa anunciação, os homens reais deram meia volta e desapareceram nas veredas, engolidas pelos guanandis. Os nativos ficaram mudos, vendo-os sumir sem entender exatamente o que haviam acabado de contemplar. Alguns permaneceram extasiados, sob o choque emocional de terem ouvido a voz do representante do Imperador do Brasil. Outros comentaram durante meses o episódio, alegando ter sido o mais belo e notável acontecimento do local.
O tempo continuou passando exatamente como as águas do riacho local, que serpenteavam as matas até desaguar no Atlântico.
Carros e mais carros-de-bois saiam diariamente, abarrotados de troncos de guanandis, os quais eram embarcados em navios para São Sebastião do Rio de Janeiro, no Porto de João Lustau Navarro, em Pirangipepe. Alguns nativos diziam – a boca de siri – que as autoridades da Intendência da Vila Imperial de Papari faziam vistas grossas àquele massacre da mata, pois recebiam muitos contos de réis para fingir que não percebiam o exagero. Todos sabiam que era impossível tanta madeira se eram construídos poucos navios. Mas ali valia a "lei do silêncio". Era melhor ficar quieto, diziam os mais velhos. Havia até um ditado muito antigo que dizia assim: "em terra de sapos, de cócoras com eles".
Um estrangeiro que visitou Guanandi disse aos nativos que, na realidade toda aquela madeira viajava para Portugal, onde servia para construção de assoalhos dos palácios dos reis e pessoas lordes, e que extrapolavam as fronteiras lusitanas, estendendo-se para Espanha, Áustria e França. Lá era vendida a peso de ouro.
Essa, que foi oficialmente a primeira madeira de lei do Brasil, era usada na Europa para confecção de barcos, mastros de navios, vigas para construção civil, obras internas, assoalhos, marcenaria e carpintaria. O estrangeiro contou que toda a madeira usada para construir o Museu do Ipiranga, em São Paulo fora retirada das matas de Guanandi.
O tempo – teimoso – continuou passando como a brisa interminável.
A derrubada desenfreada e sem reposição dos guanandis começou a trazer sérias consequências ao lugar. Os pássaros, os macacos e os morcegos desapareceram nos estômagos dos nativos. Junto, foi-se o ciclo de reflorestamento natural. A ausência das raízes desse vegetal que umedecia e segurava a terra, afetou os mananciais, limitando os peixes e crustáceos. Os pitus entraram em extinção. Os animais grandes, como onças, raposas, caititus e capivaras sumiram como num encanto. O riacho, que antes cobria um adulto, tornou-se um fiapo de água.
Guanandi, de rico, tornou-se pobre. Até mesmo o próprio nome foi alterado novamente. Nessa fase era chamado de Golandi. Por mais inacreditável que pareça, não restou sequer um exemplar dessa espécie tão importante. Os próprios nativos desconheciam a árvore e o seu fruto.
Certa vez apareceu em Golandi um homem de uma região longínqua, conhecida como “Jardim do Éden do Brasil”. O lugar possui um dos biomas mais raros, ricos e belos do Mundo, e tem o nome de Pantanal.
Cheios de nostalgia, os nativos disseram a esse homem que, no passado, Golandi também era um paraíso.
Então o homem perguntou-lhes:
- E o que vocês fizeram?
                                                        Nov. 1995
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Conheça algumas curiosidades sobre o Guanandi, a primeira madeira de lei do Brasil. Veja o texto em PDF: http://www.ibflorestas.org.br/news/arquivos/materialguanandi.pdf
Curiosidades: a árvore golandi também é conhecida como: olandi, olandim, galandim, gualande-carvalho, guanandi-carvalho, guanandi-cedro, landim, gulandê, gulandi. Na Amazônia chamam-na jacareúba. Em São Gonçalo do Amarante, RN, há um lugarejo denominado Gulandim, que, obviamente é um derivado.