ANTES DE LER É BOM SABER...

CONTATO: (Whatsapp) 84.99903.6081 - e-mail: luiscarlosfreire.freire@yahoo.com. Este blog - criado em 2008 - não é jornalístico. Fruto de um hobby, é uma compilação de escritos diversos, um trabalho intelectual de cunho etnográfico, etnológico e filológico, estudos lexicográficos e históricos de propriedade exclusiva do autor Luís Carlos Freire. Os conteúdos são protegidos. Não autorizo a veiculação desses conteúdos sem o contato prévio, sem a devida concordância. Desautorizo a transcrição literal e parcial, exceto breves trechos isolados, desde que mencionada a fonte, pois pretendo transformar tais estudos em publicações físicas. A quebra da segurança e plágio de conteúdos implicarão penalidade referentes às leis de Direitos Autorais. Luís Carlos Freire descende do mesmo tronco genealógico da escritora Nísia Floresta. O parentesco ocorre pelas raízes de sua mãe, Maria José Gomes Peixoto Freire, neta de Maria Clara de Magalhães Fontoura, trineta de Maria Jucunda de Magalhães Fontoura, descendente do Capitão-Mor Bento Freire do Revoredo e Mônica da Rocha Bezerra, dos quais descende a mãe de Nísia Floresta, Antonia Clara Freire. Fonte: "Os Troncos de Goianinha", de Ormuz Barbalho, diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, um dos maiores genealogistas potiguares. O livro pode ser pesquisado no Museu Nísia Floresta, no centro da cidade de nome homônimo. Luís Carlos Freire é estudioso da obra de Nísia Floresta, membro da Comissão Norte-Riograndense de Folclore, sócio da Sociedade Científica de Estudos da Arte e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Possui trabalhos científicos sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, publicados nos anais da SBPC, Semana de Humanidade, Congressos etc. 'A linguagem Regionalista no Rio Grande do Norte', publicados neste blog, dentre inúmeros trabalhos na área de história, lendas, costumes, tradições etc. Uma pequena parte das referidas obras ainda não está concluída, inclusive várias são inéditas, mas o autor entendeu ser útil disponibilizá-las, visando contribuir com o conhecimento, pois certos assuntos não são encontrados em livros ou na internet. Algumas pesquisas são fruto de longos estudos, alguns até extensos e aprofundados, arquivos de Natal, Recife, Salvador e na Biblioteca Nacional no RJ, bem como o A Linguagem Regional no Rio Grande do Norte, fruto de 20 anos de estudos em muitas cidades do RN, predominantemente em Nísia Floresta. O autor estuda a história e a cultura popular da Região Metropolitana do Natal. Há muita informação sobre a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta, o município homônimo, situado na Região Metropolitana de Natal/RN, lendas, crônicas, artigos, fotos, poesias, etc. OBS. Só publico e respondo comentários que contenham nome completo, e-mail e telefone.

segunda-feira, 26 de março de 2018

“Cururu” (poema)



Louvo Cururu. Louvo Santa Ana. Louvo a terra dos Santanas.
Louvo seus pescadores, os amassadores de barro, os trabalhadores da taipa, a mulher labirinteira, a lavadeira de roupa com sua pedra fiel. Louvo os vendedores de lenha, os canoeiros, a cachaça e seus cozidos às margens do rio.
Louvo a casa de farinha. Louvo a farinhada. Louvo o cemitério de Cururu. Louvo o homem da roça e a roça de tantos homens e mulheres dessa terra-mãe.
Louvo os leirões de macaxeira, inhame e batata-doce. Louvo as plantações de milho. Louvo a Barra do Rio. Louvo o Rio das Pedras. Louvo sua lagoa de águas santificadas.
Louvo a capela em ruínas e seu majestoso cruzeiro. Seu povo ordeiro de fé inquebrantável.
Louvo as águas de Cururu. Suas dunas de cândidas areias. Louvo suas matas rasteiras. Seus bichos, seus pássaros.
Louvo seu povo, suas lendas e tradições. Louvo sua simplicidade. Seus fogões a lenha. Suas casas de taipa, de chão batido, suas redes de pesca e de dormir.
Louvo seus pilões. Suas fogueiras ardentes crepitando histórias de Trancoso. Louvo o preto velho sentado no tronco de coqueiro debulhando lendas, rodeado de crianças de olhos aboticados, viajando para lugares nenhuns. Louvo seus idosos. Seus causos. Louvo a infância brincando com lanternas de vagalumes.
Louvo as noites aconchegantes de chuva. Seus respingos trespassando as frinchas do telhado. Louvo as noites escuras de mistério. Louvo o sapo cururu, patrono pela própria natureza. Louvo o barro branco, as cercas de faxina. Louvo a fuligem da lenha, o cheiro de fumaça. O café no caco, o grude, a tapioca. As mesinhas das rezadeiras. Louvo o Pastoril, o Bambelô e as quadrilhas matutas. Louvo suas matas onde se escondia o medo. Louvo seus lobisomens, o fogo-batatão e a luz do candeeiro.
Tenho para mim que os homens e as mulheres de Cururu são a extensão de suas dunas, de seus rios, de suas lagoas, de suas águas, de seus barros. Onde quer que estejam, levam retalhos desse lugar bucólico e tomado de encanto. O tempo passa. Cururu não passará. Cururu resiste, intacto, na alma de seus nativos.
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Saiba mais sobre Cururu. Clique abaixo:
                                        

quinta-feira, 22 de março de 2018

Uma aula sobre Manoel de Barros

Ontem, na manhã e tarde do dia 21 de março, dia da poesia, numa formação dos professores mediadores de leitura. A aula teve como título “Manoel de Barros, o alquimista das palavras". Foi dirigida aos professores do Projeto "Parnamirim, um rio que flui para o mar da leitura". Uma das coisas que mais me impressionou foi o quanto os educadores da terra do pequeno rio são enfronhados em poesia. Minha gratidão aos professores Angélica, Aracy, Geraldo e Laíse. Obrigado pelo convite.


"Ontem vivemos em estado de passarinho. Descobrimos alfarrábios voejados de ninhos, cacarados de pureza, de águas saídas dos Barros da infância. Todos se molharam de Barros ebulido do Pantanal, Barros respingante de inocência. Todos se assustaram de Barros. Todos se felicitaram de Barros. Todos regrediram à infanciação a custo de Barros. Portanto se desmancharam em pássaros gigantes. Houve desencontros entre os nadas. Todos se perderam entre Barros. Por isso se encontraram. Por isso se soube possível chegar a lugar algum. Pois que vale mais que ir à Lua. Foi para os balseiros de esconder poesia que os mestres se vestiram de Barros, de tuiuiús, de capivaras, de lírios que gritaram uma voz de livro. Ontem nos escutamos meninos porque nos pertencemos ao amor num dia de ocasos. Num belo rio fluindo para o mar da leitura deslemos o tempo. Aos educadores que se deseducam pelo pertencimento à poesia, voo o meu estado de gratidão. Voo os meus delírios, em borbotões". L.C.F.












Segue, abaixo, a cópia do e-mail que recebi do "Rio de leitura" - Fiquei emocionado por palavras tão amáveis e considerei válido publicá-las.







Rio de Leitura 
Para:luiscarlosfreire.freire@yahoo.com.br
22 de mar às 10:17


"Hoje viajei na poesia, rememorei os mais íntimos ACHADOUROS de infância que estavam guardados e empoeirados. Foi dia de sacudir a poeira e deixar lavar a alma com a água trazida pelo menino da peneira.  Dos poemas rupestres, meus primeiros, trazidos por um aluno, em seguida vieram as memórias inventadas, na verdade as melhores.  Talvez,  hoje tenha compreendido porque a organização do livro "memórias inventadas ". Foi a primeira vez que me banhei nas águas do Pantanal,  apesar da distância geográfica, chegaram até o Rio que verte para o Mar da Leitura. Saciada, que venham outros momentos.  Gratidão pela aula". Joseane Chaves, mediadora de leitura da Escola Osmundo Faria.

"Hoje mais um encontro de formação marcante, a emoção que Luis Carlos passou ao relatar a a vida de Manoel de Barros foi comovente, passei a admirar muito mais o trabalho deste escritor".  Maria José, mediadora de leitura da Escola Francisca Fernandes

"A palestra sobre o escritor Manoel de Barros ministrada pelo professor Luís Carlos Freire foi muito valiosa e inspiradora para nós, mediadoras e mediadores de leitura. Isso porque, ao conhecermos a essência desse escritor, aprendemos que a simplicidade é uma das maiores riquezas não só da  poesia, mas da vida. E me fez perceber que qualquer um de nós pode se aventurar em ser poeta e despertar em nossos alunos esse olhar e gosto pela poesia. Com certeza, não lerei as obras desse autor da mesma forma de antes porque a partir de hoje carrego dentro de mim um encantamento não só pelas obras, mas também pelo ser Manoel de Barros que para mim tornou-se, indiscutivelmente, um dos maiores escritores do nosso país. Gostaria de agradecer a toda equipe organizadora pelo excelente evento e ao Professor Luís Carlos pela  riqueza de informações dadas na palestra". Rozelia Alves, mediadora de leitura da Escola Eulina Augusta

"No amanhecer, enquanto o rio dorme, 
A poesia aflora no íntimo dos íntimos.
Luiz e seu dom,
O dom e Luiz.
Nequinho e nós
Nós e Nequinho.
O sol e os passarinhos,
Os passarinhos e o sol.
A poesia e a emoção, 
A emoção e a poesia.". Rosimeiry Vieira, mediadora do CMEI Maria Dilma

"Ele debulhou tão bem a vida e as obras do autor, que nos deixou de queixo caido com tamanho conhecimento. Parabéns!!" Marlizete Ricardo, 
mediadora da Escola Cícero Melo

"Sou só gratidão 
A poesia me toma por completo
Voltar a viagem literária nas asas da poeticidade de Barros 
Como retornar após anos a universidade as aulas de teoria da literatura 
Aulas em que volitava de amor a essa arte de bem escrever". Ana Leopoldina, mediadora da Escola Erivan França

"Literalmente voamos sobre à vida e obra de Manoel de Barros na tarde de ontem. Parabenizo a vcs por todo o carinho pensado e doado para todos nós, visto e sentido, em forma de trocas de conhecimento (desde às disposições da ambientação espacial, à apresentação do ilustre Luiz Carlos). Ontem, eu me emocionei com a vida despretensiosamente poética do nosso MB. Confesso e admito que o leremos além dos olhos, planando-nos "garsiosamente" em suas obras, como o mesmo bem poderia descrever o momento compartilhado.
Fomos transportados ao paraíso (portanto, voamos e navegamos) das  palavras brincantes, errantes, certantes e fertilizadas do universo deste renomado poeta MB. 
Agora, poderemos lê-lo, também assim: voando, fora das asas; navegando um Rio pequeno de leituras, sem leme, às vezes, sem bússola, outras, mapeando os ventos._" Ângela Silva , mediadora da Escola Luzanira Maria

"A formação foi uma verdadeira viagem.. Ahh como eu queria em meu tempo de escola ter ouvido falar de autores dessa forma leve,  objetiva e  descontraída... Os  livros de Manoel de Barros, os personagens e objetos de suas obras me fizeram sentir na presença e a personalidade do autor entre nós, através das palavras e dos relatos concretos de Luís Carlos." Carolina Tavares, mediadora da Escola Manoel Machado

"Hoje viajei na poesia, rememorei os mais íntimos ACHADOUROS de infância que estavam guardados e empoeirados. Foi dia de sacudir a poeira e deixar lavar a alma com a água trazida pelo menino da peneira.  Dos poemas rupestres, meus primeiros, trazidos por um aluno, em seguida vieram as memórias inventadas, na verdade as melhores.  Talvez,  hoje tenha compreendido porque a organização do livro "memórias inventadas ". Foi a primeira vez que me banhei nas águas do Pantanal,  apesar da distância geográfica, chegaram até o Rio que verte para o Mar da Leitura. Saciada, que venham outros momentos.  Gratidão pela aula." Joseane Chaves, mediadora da Escola Osmundo Faria

"Hoje mais um encontro de formação marcante, a emoção que Luis Carlos passou ao relatar a a vida de Manoel de Barros foi comovente, passei a admirar muito mais o trabalho deste escritor." Maria José, mediadora da Escola Francisca Fernandes

"Ah, se eu tivesse o dom da poesia! Sorte que temos pesquisadores sensíveis como Luís Carlos que nos transportam para o universo poético de Manoel de Barros,que mesmo em um auditório sentimos o cheiro, sabor, cor da poesia de  Manoel de Barros.  Gratidão pelo vôo que fiz mesmo sem ter asas, pelo banho que tomei no universo de Manoel de Barros. Ainda estou molhada e não desejo me secar." Maria José Felipe, mediadora da Escola Brigadeiro Eduardo Gomes

"O nosso encontro de hoje me levou a ser contagiada pelo o Encanto, Paixão  e Conhecimento do Palestrante Luiz Carlos a respeito do Poeta Manoel de Barros, hoje vejo a simplicidade do encantamento de suas Palavras, vejo agora este Escritor com outros olhos. Estou muito grata por este momento Maravilhoso." Wilde Valéria, mediadora da Escola Francisca Avelino

No dia mundial da água é preocupante saber que no Rio Grande do Norte, desperdício é considerado algo normal

Água no balde, vassoura e sabão, ou água servida de piscina pode ser reaproveitada para esse serviço. A seca do Sertão agradece.
Dia desses eu passei numa rua, indo para o trabalho – era sete e meia - e vi um homem lavando o muro de sua casa. Ele usava uma lavadora de alta pressão. A parede havia juntado musgo velho, ressequido. Ele insistia, focado naqueles restos impregnados nas frinchas do reboco. Havia uma parte enegrecida justamente pela microflora que se impregnou naquela parede ao longo do tempo e formou uma espécie de lodo seco.
Confesso que achei aquilo um exagero. Até mesmo insanidade. Seria mais fácil e respeitoso ao meio ambiente – e muito menos oneroso para o seu bolso - ele ter lixado a parede e pintado depois.
Para resumir a história, eu trabalho há poucos metros desse fato.
Era exatamente onze e meia da manhã, quando precisei sair do prédio onde trabalho para ir a uma instituição próxima.
QUE SURPRESA DESAGRADÁVEL!
O dito homem estava lá exatamente como quando passei às sete e meia da manhã. Ou seja, há quatro horas. Ele havia terminado a outra lateral do muro e fazia a mesma “limpeza” na calçada. Transformou o jato de água numa vassoura. A propósito nem havia vassoura por ali.
A água usada descia pela sarjeta e fazia curva no quarteirão.
Você imaginou quantos litros escorreu para o esgoto?
Creio que, independente de ser ou não o Dia mundial da Água, é nessas coisas que devemos pensar.
Assisto quase diariamente o desperdício de água por todos os lados. É muito comum, infelizmente. E sei que não sou ou único que vê tais barbaridades e se revolta.
O que aumenta essa indignação é saber que muitas pessoas do tipo desse homem são esclarecidas. Sobre esse senhor, por exemplo, perguntei desinteressadamente a um vizinho sobre ele. Era um ministro de uma igreja. Fiquei ainda mais perplexo, pois justamente naquele ano o tema da Campanha da Fraternidade era sobre o meio ambiente: “Água, fonte de vida”. Vejam como são as contradições.



Quando vejo belos espelhos d´’água ornamentando frontões de prédios públicos, sendo esvaziados toda semana – principalmente no Nordeste – sinto revolta pela atitude de arquitetos e engenheiros que tem a ousadia de idealizar esses cultos ao desperdício. Sinto pena daquelas crianças que lá no sertão, bebem água suja e sem tratamento algum. A mesma que serve aos animais. Na realidade sinto pena de todos, pois não são apenas as crianças. São idosos, jovens, pessoas doentes etc. Muitas vezes vimos água de piscina escorrendo por horas a fio pelas sarjetas.
É muita injustiça! Era para a CAERN ter um projeto de coleta dessas águas, pois são limpas e podem ser tratadas com menos gastos comparados às águas de esgoto e a dessalinização.
E quando penso que se eu ou outra pessoa abordasse o homem da história acima, poderíamos ser hostilizados. Tipo: “o muro é meu e a água sou eu quem pago”. Digo isso porque já presenciei algo do tipo.
Outro detalhe revoltante são vazamentos de canos da CAERN em diversos bairros, ao longo – pasmem! – de meses, sem conserto. E não é por falta de quem telefone avisando. É falta de profissionalismo mesmo.
Então, minha gente, nesse dia não quero palavras bonitas. Quero levar as pessoas ao pensar. Ou pensamos e nos conscientizamos e agimos, ou não vai demorar muito para que os países ricos façam o que fazem aos países que produzem petróleo. A briga por água vai ser grande.
Para encerrar: é tremendamente revoltante, em pleno Nordeste do Brasil, em capitais como Natal, por exemplo, que têm água em abundância, assistirmos tanto desperdício por onde andamos.
Pelo menos no Rio Grande do Norte, na terra onde o fenômeno da seca é realidade, quem mora na capital não tem a mínima consciência, salvas raras exceções.

sexta-feira, 16 de março de 2018

A casa-poema



Creio que deveria ser hábito da maioria das pessoas conservar as joias arquitetônicas do passado. Essa bela residência (1), situada na rua Jovino Barreto, Cidade Alta, em Natal/RN é um exemplo vivo de respeito à História e à memória de Natal.
Se a minha avó fosse viva, diria “essa é uma casinha de boneca”, expressão usada para se referir a uma casa bonita, compacta e bem cuidada. Para mim essa é uma casa-poema. Casa que exala poesia através das paredes, das janelas, dos ornatos vegetalistas em alto e baixo relevo, da moldura das janelas, do alpendre, dos ornamentos do muro, enfim é um enfeite arquitetônico que enche os olhos.
A casa-poema antes da reforma
Quem me conhece, sabe que sou um ferrenho defensor das boas tradições e estou sempre postando algum material, seja sobre homens e mulheres que deixaram um legado significativo, sejam críticas relacionadas ao abandono de prédios históricos, elogios pela revitalização e restauração das construções antigas, como uma das propostas do blog. Numa antítese do que dizia o poeta Manoel de Barros, "é uma das minhas maneiras de ser útil".



Essa casa, verdadeiro poema arquitetônico, igual a alguns poucos que ainda restam, está emoldurada por outras construções significativas, provavelmente datadas da mesma época. Pelas características são dos anos 40, 50 e 60, respectivamente. Ao seu lado, como se vê na fotografia, há uma assobrada residência amarela (3), circundada por plantas ornamentais e mesmo árvores no quintal. Embora semiabandonada, conserva imponência e beleza. É uma construção alta, com vários degraus para acesso, é resistente e chama a atenção pelo estilo. Aliás o complexo chama a atenção pela singularidade e beleza.

Casa 2

A residência defronte (2), aparentemente datada dos anos 60, ou final dos anos 50, é outra joia arquitetônica, embora de modelo completamente diferente. Ela traz uma plasticidade modernista. Também está intacta arquitetonicamente, embora malcuidada. Perscrutando as ruas das imediações não se constata a mesma realidade, pois vê-se uma ou outra casa de época, rodeada por casas contemporâneas e edificações modernas, nem por isso bonitas e conservadas.





Casa 3

Provavelmente esse conjunto de casas isoladas que insiste em resistir pertence a herdeiros e terá o tradicional fim, quase sempre engolido pelo mercado imobiliário. Creio que num futuro não muito distante algumas serão transformadas em caixas de sapatos* como tantas outras. Mas, por sorte, a casa-poema apresenta sinais claros de que é uma sobrevivente ilesa.
Como moro num prédio muito próximo e estou sempre passando por ali para ir ao centro, nunca deixo de contemplá-la. O que chama a atenção no momento é que a residência, antes fechada, recebeu moradores. E não são de rua, diga-se de passagem! São moradores-donos, herdeiros, sei lá... são pessoas que têm um olhar visionário, pois estão revitalizando-a gradualmente.


O que chama ainda mais a atenção é que a casa vem sendo restaurada gradualmente sem prejuízos para a sua arquitetura original nem nos ornamentos em alto e baixo relevos, inclusive azulejos.
Parece poético, mas creio que morar numa casa assim, em se tratando de descendentes, traduz muito sentimento bom. As lembranças dos pais, dos avós, da infância, enfim os fatos ali passados. Não me refiro à pieguice ou coisas tristes. Creio que há uma agradabilidade que exala em todos os ambientes. Sem contar que tais construções são frias no aspecto de temperatura. Foram muito bem pensadas por quem as construiu.



Embora a atitude desses moradores não seja algo inédito é, no mínimo, digno de elogio, pois é muito raro encontrar tal iniciativa. A ideia da “moda” é destruir e construir algo moderno.
Se analisarmos o que significa destruir uma casa desse porte e construir algo no lugar, perceberemos quão impensável é tal atitude. Primeiramente é a qualidade da construção.
Grande parte das edificações desse perfil, por mais que apresentem alguns problemas (afinal a parte hidráulica e elétrica eram diferentes, bem como, hoje, o aspecto da telefonia/internet, faz-se necessários interferências nas paredes) é incomparável o quanto o dono lucra. Construir uma casa moderna no lugar da antiga pode sair três vezes mais cara de que o valor atual da residência.


Indo para a prova dos nove, pesam o custo com pedreiros para a demolição (valor alto). Nesse ato os prejuízos são consideráveis, pois o dono se indispõe de todo o madeiramento do teto e das janelas. Muitas vezes tais materiais são de lei. Valem uma fortuna no mercado das lojas de demolição. Nem todos têm paciência a findam doando para os próprios pedreiros etc.
No bojo dessas demolições, muitos donos se desfazem de lustres, armários de madeira que poderiam ser reaproveitados, bem como seus pegadores, ladrilhos hidráulicos e azulejos raros, engenhocas de ferro etc.). Saem onerosos os gastos com empresas de transporte dos restos das construções (metralhas), enfim gasta-se muito dinheiro para ver o terreno só no barro.
Depois desse processo vem os gastos com engenheiro, arquiteto, cartório, material de construção, pedreiros, Caern, Cosern, aquisição de mobiliários, assessórios de casa etc. etc etc. Quando você descobre que poderia ter sido poupado dessa vaidade, reconhece o quanto perdeu por ignorar a preciosidade do imóvel demolido. Portanto, quem revitaliza algo desse tipo, lucra infinitamente. Sem contar o lucro que deixa para a história do Natal, afinal essa casa foi erguida dentro de um contexto de época. 
Falta, na realidade, uma mudança de cultura. Muitos entendem que tudo o que é velho tem que ser encostado, destruído em detrimento do novo. Essas pessoas ignoram que é possível morar bem e confortavelmente numa casa antiga, seja revitalizando-a ou não. Na maioria das vezes a morada é melhor, pois reúne uma série de fatores que fazem os donos se sentirem bem. Observem os prédios, verdadeiros espigões. Há quem more em casas centenárias e as adaptem plenamente para os padrões atuais, respeitando suas características externas.O que são os apartamentos? Verdadeiras casas de sapato. Ambiente frio tão enclausurante quanto uma gaiola. Eu, que nasci no Pantanal, que vivi entre bichos, quando visito a quase centenária casa dos meus pais sinto-me no céu. É uma casa antiga. Para mim ela é berço,  cama aconchegante, caracol protetor no qual sinto-me gente, sinto-me plenamente vivo.
Casas iguais a essa são objetos de interesse de estudantes de várias engenharias, de arquitetura, de artes, de história, enfim a agrega-se à casa uma significação para muitas áreas.
Alguns proprietários não gostam muito dessa ideia, pois eventualmente sentem-se incomodados (se assim se pode dizer) por pessoas desse perfil, embora não são todos. Num país onde poucos dão valor à história e à memória, enaltecer uma iniciativa desse tipo soa até mesmo bizarro. É como se houvesse exagero. Mas só parece. O que devemos nos penalizar é pelo desrespeito das autoridades, pois elas deveriam dar incentivos a tais iniciativas, inclusive revitalizar essas áreas e limpar as ruas com decência. Esse projeto deveria ser em parceria com as universidades em seus departamentos pertinentes.
É lastimável que um proprietário tenha uma iniciativa tão altruísta, tão nobre como é o caso da casa-poema - e tenha que conviver com uma rua cheia de mato, com água de esgoto escorrendo na sarjeta e, sem contar, a ausência de ronda cidadã nas imediações. A casa é linda. A iniciativa é nobre e digna de aplauso. Mas, inegavelmente, destoa de tudo que está ao seu redor. O que se vê nas proximidades é sujeira e abandono.
Mas, seja como for, os proprietários dessa singularidade estão de parabéns. E sei que não é apenas desejado por mim, mas por todas as pessoas que dão valor ao que tem valor.
Segue, abaixo, alguns links pertinentes, bem como imagens da casa-poema em outros momentos e um exemplo de preservação apenas de fachadas, como é o caso do Sindicato dos Bancário, na avenida Deodoro.



 






















terça-feira, 13 de março de 2018

segunda-feira, 12 de março de 2018

Mulher-Carteira (Natal/RN)



Interessante como nessa vida a gente se surpreende com a simplicidade. Eis que eu voltava da Livraria Câmara Cascudo, subia a Juvino Barreto e deparei-me com uma carteira. 
O título dessa postagem é bem sugestivo “Mulher-Carteira”. Talvez alguém pense: “deve ser uma dessas mulher-melão”, “mulher-melancia” etc.
Não!
É mulher-carteira mesmo. Mulher que entrega cartas. Mulher trabalhadora, que enfrenta sol, chuva e rosnados de cachorros e permanece firme, subindo e descendo ladeiras.
A jovem passava.
Eu, como não ando sem uma máquina, disse: “uma mulher-carteira! Eu nunca vi uma mulher-carteira! Posso tirar uma fotografia sua?”
Muito gentil, ela permitiu.
Fiz essa imagem um dia após a data comemorativa ao Dia Internacional da Mulher.
Parabéns, Mulher-Carteira!
Perdoa-me por não ter perguntado o seu nome!
Perdoa-me por ter me surpreendido com sua condição de mulher-carteira.

Poesia de ver...


Daqui de cima vejo poesia
Faço poesia daqui de cima
Poesia de pássaros
Ocasos de poesias
Poesias de água
Águas do Rio Potengi
Daqui de cima, eu
De lá de baixo, o rio
Poesia deslizando
Resplandecendo o ouro
Equilibrado na linha do horizonte