JÁ OUVIU FALAR EM HOMERO HOMEM, AUTOR DO “MENINO DE ASAS”? SABIA QUE
ELE É NORTERIO-GRANDENSE?
Refiro-me ao escritor potiguar HOMERO HOMEM DE SIQUEIRA CAVALCANTI, nascido
em Canguaretama, cidade próxima a Natal, no estado do Rio Grande do Norte, cuja
bibliografia e biografia - passam despercebidas na sua própria terra natal,
exceto aos leitores mais efusivos.
Homero Homem é o único escritor norte-rio-grandense traduzido para outra
língua. Nasceu o insigne personagem no Engenho Catu no dia 5 de janeiro de 1921.
Formou-se em Natal, mas ainda jovem migrou para o Rio de Janeiro e só vinha ao
solo potiguar a passeio. Nunca esqueceu suas origens, inclusive o cheiro
delicioso de rapadura de cana de açúcar.
É um dos escritores brasileiros mais respeitados. Teve duas de suas
obras contempladas durante décadas pela Coleção Vagalume. Foi assim que o
conheci, quando adolescente, ao ler primeiramente “Menino de Asas”, publicado
em 1980, alcançando venda superior a um milhão de exemplares permanecendo
lido vorazmente fora de seu estado de origem, por incrível que pareça. Depois li “Cabra
das Rocas”, a pedido dos professores.
Lembro-me que ao término da leitura, respondi a um intragável questionário
pertinente a cada história. Também me recordo ter brincado com a minha genitora
sobre isso: “mãe, eu estou lendo um livro de uma pessoa lá do seu Rio Grande do
Norte”. “Ah! Então deve ser bom! Se é de lá, é bom” devolveu ela.
Quando passeava pelas linhas de “Cabra das Rocas” ia contando para ela
os episódios mais interessantes. Então ela contou-me que em criança passava
pelas Rocas, bairro de Natal, quando ia para a Praia do Meio. À época eu não
entendia essa geografia. Só muito tempo depois, descobri o bairro, próximo da
morada do velho Cornélio Campina, criador do “Araruna”.
Mas suas obras não param por aí. O Rio Grande do Norte é tema de todo um
livro de poesia intitulado “Terra Iluminada”. Ele é autor de Além de contos e
novelas e poesias, dirigidos ao público infanto-juvenil. Por exemplo, o romance
“Cabra das Rocas” atingiu sucesso em todo o Brasil. Depois veio “Menino de Asas”,
ambos da Coleção vagalume. Mas não pense que está encerrada a sua biografia.
Alguns de seus livros caminham para a vigésima terceira edição, tornando-o o
escritor potiguar mais lido dentre outros autores conterrâneos. “Cabra das
Rocas”, por exemplo, virou “Gente delle
Rocas” em sua tradução italiana.
Outros livros notáveis na área da ficção encantam o leitor, por exemplo:
o romance “O Goleador”, (primeiro volume de uma trilogia do futebol), e a novela
“O Moço da Camisa 10”.
Embora a sua prosa é extraordinária, muitos críticos reconhecem o nosso Homero
Homem mais importante como poeta. No rol dos notáveis representantes da geração
pós-45, o autor potiguar se destaca como um romântico fora do seu tempo. Por
exemplo, o poeta Manoel de Barros (1916-2013), seu contemporâneo, pertenceu a
geração pós-45, mas sua obra não evidenciava o romantismo visto em Homero Homem.
Sua retórica é outra.
A obra do autor canguaretamense está imbuída de valores românticos:
subjetivismo, exaltação da mulher amada, comunhão com a natureza –
principalmente o mar - crítica social e política e outras. Não significa que ele
seja atrasou-se. A sua escrita poética pautada de ritmos, de musicalidade,
contribui com notável destaque com a poesia atual. O que o torna moderno.
A estreia de Homero Homem deu-se em 1954, no Rio de Janeiro, com um
poema em prosa, “A Cidade, Suíte de Amor e Secreta Esperança”. Em 1958 publicou
“Calendário Marinheiro” e a partir de então vários outros livros reunidos, em
1981, num volume sob o título “O Agrimensor da Aurora”. Pouco tempo depois, em
1983, presenteou principalmente o leitor norte-rio-grandense com “O Luar
Potiguar” (Rio, 1983), uma homenagem à sua terra. Em 1990 escolheu a capital de
sua terra natal para publicar “Eu sem Ego”.
Morava no Leblon. Durante anos assinou artigos no “Diário de Notícias”,
no Rio de Janeiro, tratando sobre os mais variados temas. Era comunista. Fundou
o Partido Socialista, ao lado de João Mangabeira. Foi secretário da União
Brasileira de Escritores da Guanabara (1960-1966). Teve três mulheres
através de uniões distintas: Téia Carpen, Zaira Kemper e Alzira Figueiredo. Foi
pai de Eduardo, Maria Elisa e Ana Maria. Vale ressaltar que tendo enviuvado e ficado com um filho com meros três meses de idade, assumiu a maternidade durante anos, até apaixonar-se novamente. Dizia nesse tempo que "era a mae do ano".
Sabe-se que existem pessoas famosas, de várias áreas, que negam suas
raízes. Não é o caso do nosso Homero Homem. É curioso que um escritor de tal quilate,
que amou e exaltou tanto a sua terra seja estudado e lido nos chamados “grandes
centros”, mas esteja esquecido na sua própria terra natal com raras exceções.
Um de seus críticos, Leo Gilson Ribeiro disse o seguinte sobre Homero
Homem: “poeta de inquieta raiz social. (…) lirismo entre a emotividade, a
erudição, o tom popular irônico e a musicalidade rítmica”.
Confesso que nunca vi uma escola com o nome de Homero Homem. Também
desconheço que ele seja nome de alguma biblioteca, prêmio literário, comenda
etc etc etc. Será que pelo menos em Canguaretama existe a devida deferência á
sua obra? Não sei!
Homero Homem morreu em 1991, aos 70 anos.
Que tal abrirmos as páginas de seus livros a partir de hoje?
Existe escola e rua com onome dele!
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