A ira de Judas
O
livro “A ira de Judas”, da escritora Ana Cláudia Trigueiro traz uma porção de
contos de medo e malassombros. A autora inventa estórias dentro de fatos,
lugares e crenças, ora inspirados nas páginas da história do Rio Grande do
Norte, ora importados de lugares impensados. Foi feliz na façanha, sombreando ineditismo
sobre episódios que pensávamos conhecê-los de todo.
Quem
tem medo de fantasma deve correr da obra, pois tudo está a flor das páginas,
num buuuuuuuuuuuu! constante. Começa pela capa, onde salta um monstruoso
tubarão para nos engolir, respingando sobre o leitor a água salgada do mar de
Ponta Negra?
Na
velha Igreja Matriz senti vontade de me tornar arqueólogo e estar lá, junto com
os pesquisadores, desvendando fatos da revolução de 1817. Mas com as luzes
muito acesas para não presenciar as experiências horripilantes vividas por
eles.
Tive
medo da surpreendente história da serial killer. Quem imaginava que uma fêmea
tivesse autoria naquelas passagens assustadoras? A autora concede um
empoderamento meio louco à mulher. Seria para vingar anos de tabus e
preconceitos amealhados durante séculos contra a mulher? Só ela para explicar!
Depois
da loucura de inventar de ler esse livro triste não visito mais a Praia do
Meio. O diabo é quem vai! Também não passo mais defronte ao edifício 21 de
Março, no centro. Não nasci para ver fantasmas. E olha que vivem, ou melhor,
insistem em “viver” próximo da Assembleia Legislativa! Sonhava conhecer Serra
Caiada, lugar tão proclamado, com seus serrotes e paisagens de tirar o
fôlego... mas a vontade foi apunhalada nas páginas d’A Ira de Judas. Há muito
tempo visitei o Museu Café Filho. Ainda bem que desconhecia seus bastidores
fantasmagóricos.
Era louco para
contemplar o Lajeiro da Soledade... Vá outro em meu lugar! Quem prova que ali
não revive o anômalo Labatut, monstro com forma humana, pés redondos, mãos
compridas, cabelos longos e assanhados, corpo cabeludo, só um olho na testa e
dentes como os do elefante, mil vezes pior que o lobisomem? A história de
que o mataram é balela! A autora inventou isso para tranquilizar os viajantes e
ter mais panos para contos futuros.
São tantas façanhas
malassombradas que só vendo! E lendo!
Curiosos são os
detalhes nos detalhes, num rococoíssimo esdrúxulo. Pessoas velhas ressuscitam e
incorporam os novos tempos. Apareceu até um homem que casou com outro homem.
Que ‘mulesta’ é essa? Quem diabo via isso no passado (mas era porque ficava
escondido!). Ainda bem que o cabra ressuscitou e encontrou o seu amor num novo
tempo. E a velha que iria ser comida pelo monstruoso malassombro! Tinha que ser
a pobre de uma velha tão bondosa? Não teria sido melhor se fosse a serial
killer para pagar seus crimes.
Numa dada passagem um
monstro comeu o prefeito e os vereadores da cidade. Foi a única hora que gostei
de monstro! Com as devidas exceções, faltam monstros desses em muitos
municípios do Brasil. Fariam limpezas utilíssimas. A autora inventa cenas
picantes entre um casal. Da até para imaginar as coisas! A última vez que vi o
pelo no pelo com outro pelo dentro foi em Ana Terra, de Érico Veríssimo.
Outrora, narra uma safadeza das mais nojentas de ‘servengonhices’ politiqueiras
numa cidade. Lembrei-me de “Norte das Águas do Sarney.
É isso!
O livro faz todos os
tipos de medo. Um infanto-juvenil de primeira. E mais uma vez a autora
representa muito bem a literatura brasileira.
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