Velhas fotografias de domínio público nos contam sobre as inúmeras construções que se ergueram na explosiva Parnamirim dos tempos de guerra: galpões, alojamentos, saguões, oficinas, igreja, comando, enfim inúmeras edificações que serviriam aos soldados americanos primariamente. São imagens gostosas de ver, pois retratam um tempo muito diferente.
Nesse álbum é possível ver alguns flagrantes datados de 1942, ou seja, há 77 anos, quando se deu a construção do “conjunto dos oficiais”. As paredes se ergueram num descampado de terras alvas como lençol, no centro da cidade. Bem ao lado das construções que acolheram os primeiros aviadores franceses no início do século XX. Hoje está rodeado de casas e comércio. Como as plantas foram desenhadas por norte-americanos, a arquitetura desse conjunto obedeceu ao design dos estados Unidos. São casas bem diferentes, inclusive as únicas construções de Parnamirim cobertas com telhas francesas.
O aspecto singular dessas velhas residências chama a atenção. São muito altas (justamente para haver boa ventilação). O íngreme telhado complementa o contexto. Mas assim como fizeram aos vários elementos arquitetônicos da Base Aérea, os quais desapareceram sob o crivo do desconhecimento ou desrespeito assumido às leis de preservação do Patrimônio Histórico, esse belo Conjunto Habitacional sofre lentamente a sua depredação.
Coincidentemente passei por ali, ontem, e deparei-me com essa cena difícil de ser vista com normalidade, e que vem se repetindo eventualmente. Os pedreiros, que não tem culpa alguma e muitas vezes dilapidam inocentemente, apenas me olharam sem entender o por quê de eu estar fotografando. Acenei para eles e fui retribuído com o mesmo gesto. Quando vi a cena pensei: vou registrar isso para pelo menos exercer o meu direito de chorar pela memória brasileira que se esvai como vento.
Eles rebaixavam a construção, colocando telhas de amianto. Vejam a estupidez: destruir a história e a memória de uma cidade, substituindo-a pela ignorância, pois não existe cobertura mais inadequada, tanto pelo aspecto visual quanto pelo aspecto do calor que emanará no interior da residência.
Suponho que essa descaracterização
apelidada de “reforma” seja uma espécie de estratégia, ou seja, é como se
dissessem “vamos fazer uma por uma, aos poucos para que a sociedade não perceba
proteste”. E por falar na sociedade, onde anda a sociedade?
É impressionante que os militares da
Basse Aérea de Parnamirim não tenham o devido olhar para esse conjunto que é um
dos resquícios do que sobrou das origens da cidade. Tenho impressão que a visão
cultural desses senhores é muito limitada. Talvez esteja mais atrelado às
bandas marciais e coisa do tipo.
No lugar desses senhores eu faria uma
pesquisa de mercado para ver onde se fabricam tais telhas. Para quem não sabe o
único lugar do Brasil que produz esse modelo é no estado de Santa Catarina.
Seria necessário um projeto muito antecipado. Então se recuperaria o telhado
original, sem necessidade de rebaixar a parede e colocar o horroroso amianto.
Isso é coisa que não se faz da noite para o dia. Tem que haver orçamento e coisa
e tal. Tudo o que é planejado da certo. Mas o grande projeto vem de dentro de
nós. Os “proprietários” precisam ter consciência da importância desse conjunto
arquitetônico. Do contrário pensarão que esse teto é fruto de bobagem.
É uma pena.
Torço para que a sociedade também
esteja enxergando isso e pense igual a mim.
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Veja, abaixo fotografias originais da época da construção desse conjunto, datado de 1942.
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Veja, abaixo fotografias originais da época da construção desse conjunto, datado de 1942.
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