Professora
Cida Basílio, uma pioneira
Podemos encontrar uma explicação bem fácil para
entendermos a história da professora Aparecida Sales servindo-nos da Santa
Bíblia Sagrada, quando ela traz as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo,
quando Ele diz “Vinde a mim as criancinhas!”.
Essa comparação se justifica no fato de a
referida professora ter vivido a maior parte da sua vida cercada de crianças,
na condição de professora do ensino infantil.
Essa história começou no ano de 1982, quando sua
amiga de infância, Soledade Araújo, conhecida como “Suli”, reconhecendo o seu
potencial, apresentou-a à professora Terezinha Leite, a qual era secretária do
ex-prefeito Almir da Silva Leite, ambos falecidos.
Nessa época existia um programa do Governo
Federal denominado MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização, que era
voltado para a alfabetização de adolescentes e adultos, numa política
educacional exatamente igual ao EJA que conhecemos atualmente.
Esse programa, criado em 1967, ocorria por meio
de convênios com entidades públicas ou privadas. Foi extinto em 1985, e
substituído pela Fundação Educar, desativada no Governo Collor de Melo, em
1990.
O MOBRAL existiu sob forte influência da
Ditadura Militar, cuja professora Aparecida vivenciou seu auge no governo do
Presidente João Figueiredo, que era Major do Exército Brasileiro.
A Prefeitura Municipal de Nísia Floresta, na
pessoa do prefeito Almir da Silva Leite, estabeleceu esse convênio, conseguindo
que ele também fosse destinado às crianças de Nísia Floresta, numa atitude
inédita
A professora Terezinha, encantada com o dinamismo
da professora Aparecida, encaminhou-a à Secretaria Estadual de Educação,
submetendo a professora Aparecida a um treinamento de 15 dias, cuja professora
realizou com sucesso.
Em seguida ela retornou para o município já para
começar a trabalhar como professora de uma turma de crianças com idades entre 4
a 5 anos, cujos pais estavam ansiosos para ver funcionar, pois se tratava de um
momento histórico, afinal era a primeira vez que a pré-escola funcionaria em
Nísia Floresta.
Naquela ocasião a senhora Lurdinha Guerra,
coordenadora do Mobral, enviou um documento ao prefeito Almir Leite, o qual
dizia: “Comunico que o trabalho do MOBRAL do RN foi contemplado com um
prêmio internacional da UNESCO, e agradeço pelo apoio recebido do município de
Nísia Floresta, o qual contribuiu para essa grandiosa vitória”,
Naquela época não existiam tantos programas
educacionais como hoje. Os recursos eram escassos e tudo acontecia com grandes
dificuldades.
E foi assim que ela começou, pois o prédio
destinado às aulas – o Centro Pastoral Isabel Gondim – não tinha a mínima
infra-estrutura. Não havia água encanada, nem móveis. Mas Aparecida não fez
disso um problema. Reuniu todos os pais, expôs os problemas e recebeu apoio de
todos.
A partir daí passaram a ocorrer várias reuniões.
Todas muito proveitosas e com resultados surpreendentes.
Naquela época as pessoas demonstravam um maior
grau de voluntariado, pois, sem nenhuma reclamação, todos abraçaram a causa com
muito amor.
Cada pai trouxe o que podia: filtro para água,
um fogão de lata movido a carvão, bacias, vassouras etc. Resolveram o problema
da água, conseguindo improvisar uma mangueira que vinha da CAERN.
Houve o acordo para cada criança trazer um
prato, um copo, uma colher e o seu lanche.
Como a turma era grande foi decidido que cada
dia uma mãe daria expediente como auxiliar, numa espécie de estagiária.
Posteriormente os próprios pais decidiram que uma das mães, a senhora Adélia
(hoje falecida) ficaria de forma fixa, e seria remunerada pelos demais pais, os
quais fariam uma cota mensal. Infelizmente, devido às condições financeiras dos
pais, eles findavam não conseguindo pagá-la todos os meses.
Interessante era que a senhora Adélia, mãe da
aluna Janiere, jamais fez qualquer juízo de valor dessa situação, pois nunca
faltava e trabalhava com grande dedicação, sempre alegre, extrovertida e
atenciosa com as crianças.
Ao contrário do Regime Militar que vigorava na época, a professora Aparecida,
de forma bastante democrática, pediu que os pais sugerissem nomes para a
escola, a qual foi denominada “Chapeuzinho Vermelho”.
Para obter melhores resultados a professora Aparecida serviu-se de uma
criatividade fora do comum, mas, sem quere, acabou se tornando uma espécie de
precursora no uso de materiais reaproveitáveis – tão na moda atualmente -
pois, de forma lúdica, servia-se de tudo o que poderia ser jogado no lixo:
caixas de ovos, latas de conservas, vasilhames de margarina, palitos de
fósforos, caixas de papelão, tampinhas de garrafa, sementes, macarrão, cola de
goma e outros materiais.
A Praça Coronel José de Araújo, que na época não tinha o modelo atual, passou a
ser praticamente uma extensão do Centro Pastoral Isabel Gondim, pois ali as
crianças passavam horas a fio, cantando músicas educativas, canções tradicionais
do folclore brasileiro, e várias músicas inventadas pela própria professora.
Uma das atividades que as crianças adoravam era desenhar na areia com pequenos
gravetos.
Com o passar do tempo os pais perceberam os avanços no aprendizado dos alunos e
resolveram investir mais. Desse modo conseguiram mesinhas e bancos para as
crianças e para a professora, baldes e panelas grandes, um armário e um fogão à
gás.
Os pais eram muito dedicados e participativos. Não mediam esforços para fazer
festas com direito a escolha do rei e da rainha, com venda de votos e
comes-e-bebes. Toda a arrecadação das festinhas eram revertidas em prol do
patrimônio da escolinha.
Um dos reis dessas festinhas foi José Roberto, e uma das rainhas foi Clézia de
Araújo, a Nildinha, que reside atualmente em São Paulo.
A escolinha “Chapeuzinho Vermelho” era uma escola feliz, amada e respeitada por
todos.
Certo dia uma encomenda dos Correios mudou a história dessa escola. Várias
caixas chegaram, destinadas pelo Ministério da Educação.
Ao serem abertas a professora Aparecida foi às lágrimas. Eram materiais
didáticos e pedagógicos: cola, papel ofício, lápis de cor, giz de cera, lápis
grafite, régua, borracha, tinta guache, massa de modelar, pincéis, papel
crepom, tesoura, barbante, pegador, livrinhos de historinhas e diversos jogos
educativos.
Foi um presente que emocionou a todos e foi
notícia na cidade inteira. A alegria das crianças não tinha fim. Era vista no
brilho dos olhos de cada um, os quais recebiam o material como se fosse algo do
outro mundo, com um valor inestimável. Havia um zelo especial por parte da
escola, dos alunos e dos pais.
No decorrer da existência dessa escolinha tão
feliz o seu funcionamento deu-se em outros prédios, como a casa de força, na
rua da Bica, a qual abrigava o velho motor desativado, que por muitos anos
abasteceu de energia elétrica todo o município.
Depois foi para o prédio onde atualmente
funciona a Secretaria Municipal de Ação Social. Posteriormente funcionou numa
sala cedida pela Escola Municipal Yayá Paiva.
Durante toda a trajetória educacional da
professora Aparecida ela teve o senhor Almir da Silva Leite como seu grande
incentivador e apoiador. O ex-prefeito sempre visitava a escola para saber se
tudo caminhava bem, pois tinha uma atenção especial às crianças.
Muitas vezes tirava dinheiro do seu próprio
bolso para arcar com despesas da instituição e sempre apoiou todos os eventos
dessa escola.
Um dia, tocado pelas constantes improvisações e
mudanças de prédio, resolveu empreender todos os esforços possíveis para
reverter esse quadro. Foi ao Governo do estado. Viajou a Brasília e conseguiu
um grande presente cujos pais não acreditavam: a escola teria prédio próprio.
E foi assim que, onde atualmente se encontra o
prédio da Escola Municipal Maria Dolores Regina de Macedo Leite, foi erguido um
prédio que recebeu o nome Escola “Chapeuzinho Vermelho”.
A alegria se redobrou durante muito tempo nessa
instituição. E nessa escola, juntamente com as crianças que Deus lhe enviou,
ela encerrou suas atividades, sendo aposentada no ano de ...............
Desde muito tempo a professora Aparecida sonhou
reunir seus alunos para esse que é um dos mais importantes da sua vida, pois
ela não viu outro lugar mais especial para agradecer a Deus e a Virgem Maria
como a casa de Deus. A casa de Nossa Senhora do Ó. Ela agradece a essas
divindades por ter coroado de êxito a sua missão de educadora. Num tempo que as
coisas não eram tão abundantes como hoje, mas que o amor das famílias e as
bênçãos do Céu sempre estiveram, ao seu favor, fazendo com que tudo desse
certo.
Aparecida Basílio, essa nisiaflorestense
abnegada, foi a primeira professora do ensino infantil de Nísia Floresta e será
sempre lembrada por sua trajetória de amor à educação.
Que Deus possa abençoá-la juntamente com todos
os seus ex-alunos e com os pais dos mesmos, pois foram peças importantíssimas
para o sucesso da sua trajetória.
Quando Jesus disse “Vinde a mim as criancinhas”,
à luz da exegese bíblica, ele quis dizer: “que todos os adultos amparem as
crianças e as ensinem o caminho do cristianismo, que é o caminho do amor.
Protejam as crianças e eduque-as para que o mundo seja cada vez melhor. Nunca
deixem uma criança desamparada”.
Foi com esse entendimento que a professora
Aparecida Basílio trabalho a vida inteira.
É por isso que Nísia Floresta deve a essa
professora o seu respeito e a sua gratidão, pois a missão de educadora é uma
das mais lindas, mas não deixa de ser uma das mais árduas. E não existe
profissional que não tenha passado pelas mãos de um professor.
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