Manoel
de Barros - Uma lembrança inesquecível...
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Manoel de Barros defronte a sua casa em Campo Grande/MS. |
"Quando eu tinha 17 anos inventei de conhecer Manoel de Barros. Eu não sabia a dimensão do homem que encontraia, tampouco do poeta gigante, aliás, quase o Brasil todo o desconhecia. Falo de 1984. Naquela época eu sabia dele de maneira diluída, assim como muitos potiguares sabem sobre Câmara Cascudo, Nísia Floresta, Antonio de Sousa, Otacílio Alecrim e outros.
O máximo que eu me distanciava da minha casa era uns trinta quilômetros. E Campo Grande ficava a quase 400 KM. Mas fui. A visita aconteceu porque desde que me dei por gente, sempre fui enfronhado nos livros. Nesses conformes me familiarizei com os Irmãos Grimm, Andersen, Esopo, Pedro Malasartes, dentre tantos clássicos da literatura infantil e juvenisl universal e nacional.
O máximo que eu me distanciava da minha casa era uns trinta quilômetros. E Campo Grande ficava a quase 400 KM. Mas fui. A visita aconteceu porque desde que me dei por gente, sempre fui enfronhado nos livros. Nesses conformes me familiarizei com os Irmãos Grimm, Andersen, Esopo, Pedro Malasartes, dentre tantos clássicos da literatura infantil e juvenisl universal e nacional.
Essa relação com a literatura sempre me instigou a escrever poemas e histórias, mesmo que não fossem construídos com a perfeição exigida pela Língua Portuguesa. Mas eu sempre fui obedecedor dos sentimentos. Sentia vontade de escrever sobre tudo. Quase doença aquilo.
Certo dia houve um evento público na cidade e estava presente a Srª Iracema Sampaio, fundadora da famosa revista "Executivo Plus", periódico de cultura largamente circulado em Campo Grande. Décadas antes ela havia sido a primeira professora da cidade em que nasci, e eventualmente visitava o município para rever os seus ex-alunos que então eram avós.
Aproveitei sua estadia e mostrei-lhe os meus escritos. Ela disse que eu tinha talento, mas precisava lapidá-lo. Então falou-me sobre o poeta Manoel de Barros, orientando-me a visitá-lo na capital.
Aproveitei sua estadia e mostrei-lhe os meus escritos. Ela disse que eu tinha talento, mas precisava lapidá-lo. Então falou-me sobre o poeta Manoel de Barros, orientando-me a visitá-lo na capital.
Através da Srª Nelly Barbosa Martins, esposa do governador Wilson Barbosa Martins, consegui o endereço do grande mestre. Eles tinham parentes na minha cidade. Ênio Martins, irmão do governador, casado com Diva Câmara Martins, compadres de meus pais.
Sempre fui muito curioso sobre lugares desconhecidos. Desse modo empreendia viagens, ora a pé, ora de bicicleta para os lugares onde alguma coisa me chamava a atenção: rios distantes, sítios, fazendas enfim bastava o lugar me despertar curiosidade que eu empreendia viagem para conhecê-lo. Sempre fui fascinado pela natureza.
Eventualmente minha mãe era pega de surpresa com meus passeios nem sempre avisados. Às vezes ia para alguma cidade próxima, ficava na casa de conhecidos. Naquela época os ônibus não eram tão comuns e isso me pregava algumas peças, pois os veículos quebravam ou nem sempre eram fiéis nos horários. Já cheguei a aparecer em casa de um dia para o outro e ter que me explicar.
É interessante explicar que a paixão pela numismática e filatelia eram os trampolins que me arremessavam nessas viagens. Desse modo eu saia pedindo, trocando ou comprando selos e moedas antigas por todos os lugares. E consegui exemplares raros com essa peripécia. Se eu tivesse alguma pista de que em tal lugar havia alguma casa antiga, gente idosa que tinha algo antigo, lá estava eu para negociar.
Foi exatamente esse espírito aventureiro que levou-me à casa de Manoel de Barros. Foram quatro horas de viagem na Empresa "Viação Motta". Cheguei a Campo Grande com o dia amanhecendo. Recordo-me que mais ou menos às nove horas lá estava eu defronte à casa do colecionador de frases. Um rapaz estacionou uma C10 exatamente naquela hora. Ao vê-lo descer e perceber que entraria na casa, perguntei sobre Manoel de Barros. O rapaz disse que era filho dele e estava chegando da fazenda.
Fiquei muito feliz e perguntei o seu nome. Era João Venceslau, o qual pediu que eu entrasse e já foi chamando pelo pai. Mal pisamos na varanda e lá estava um senhor de cabelos grisalhos e óculos. Trajava uma calça de tergal bege e camisa branca. O filho disse que eu queria falar com ele. No mesmo instante Manoel de Barros perguntou se eu era estudante. Disse que sim e falei que vinha de longe. Ele ficou impressionado quando eu disse de onde vinha.
Contei-lhe que gostava de escrever, que havia mostrado os meus escritos a Iracema Sampaio e ela recomendara que eu os mostrasse a ele. Enquanto falava, retirei os poemas da pasta e entreguei-lhe. Não sei se ter-lhe abordado à queima roupa foi bom ou ruim, mas percebi que ele me olhava profundamente. Foi todo atenção. Elogiou Iracema, e isso me deixou mais à vontade, pois percebi que a minha indicadora era gente que ele gostava.
Seu filho transitou várias vezes, retirando algumas coisas da carroceria e ele pediu que eu me sentasse numa mesa na sala. Dona Estela, sua esposa, apareceu e ele pediu que me servissem café com leite, pão, queijo e frutas. Fiquei surpreso com sua simplicidade e acolhida. Enquanto eu apreciava as comidas ele lia compenetradamente.
Após uns vinte minutos percorrendo os olhos nos calhamaços, disse: "você é um poeta em desenvolvimento; é muito talentoso e precisa permanecer escrevendo; escreva sempre e leia muito, pois quem te ensina é livro".
Perguntou os autores que eu havia lido, sugeriu alguns. Nunca me esqueci de suas palavras.
Passamos algumas horas conversando. Ele mostrou seus escritos à mão, pequenos livretos que me inspiraram até hoje. Apreciei sua biblioteca, enfim saí de lá após o almoço.
Retornei mais duas vezes.
Depois que vim para o Rio Grande do Norte só deixei de acompanhá-lo, em termos de notícias sobre suas atuação, após a sua morte. As vezes que retorno ao Mato Grosso do Sul não o visitei mais.
Manoel de Barros é a maior experiência da minha vida. Minha fonte de inspiração.
Após uns vinte minutos percorrendo os olhos nos calhamaços, disse: "você é um poeta em desenvolvimento; é muito talentoso e precisa permanecer escrevendo; escreva sempre e leia muito, pois quem te ensina é livro".
Perguntou os autores que eu havia lido, sugeriu alguns. Nunca me esqueci de suas palavras.
Passamos algumas horas conversando. Ele mostrou seus escritos à mão, pequenos livretos que me inspiraram até hoje. Apreciei sua biblioteca, enfim saí de lá após o almoço.
Retornei mais duas vezes.
Depois que vim para o Rio Grande do Norte só deixei de acompanhá-lo, em termos de notícias sobre suas atuação, após a sua morte. As vezes que retorno ao Mato Grosso do Sul não o visitei mais.
Manoel de Barros é a maior experiência da minha vida. Minha fonte de inspiração.
Em junho de 2019 fui ao Mato Grosso do Sul. Meu pai faleceu. Alguns dias após o enterro me estirei até Campo Grande e fui visitar dona Estela, viúva de Manoel de Barros, a qual caminha para cem anos. Ela havia acabado de chegar de uma clínica e estava muito cansada. O cuidador pediu milhares de desculpas. Compreendi.
Foi o meu último contato com os ares manoelinos.
Casa de Manoel de Barros, em Campo Grande/MS.
Manoel de Barros em escultura de Bronze na Avenida Afonso Pena - Campo Grande/MS.
Minha sobrinha Beatriz me acompanhou
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Trans Pantaneira - Minha irmã Regina |
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Meu sobrinho Ricardo junto a escultura de Manoel de Barros em Campo Grande/MS Essa fotografia é recente. |
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Dona Helena, uma pantaneira com o seu tererê |
Amigo e Mestre Luis Carlos Freire, as lembranças que você tem sobre Manoel de Barros se eternizam na alma e transpassa para a vida dos mortais, seu texto traz uma lembrança que não se esquece... Obrigado por fazer esse registro vivo do nosso Amável poeta Manoel de Barros.
ResponderExcluir"Todos os caminhos - nenhum caminho
Muitos caminhos - nenhum caminho
Nenhum caminho - a maldição dos poetas"
(O Guardador de Águas - Manoel de Barros)
Caríssimo amigo Felinto, obrigado por suas palavras amáveis,e tendo a surpresa de, assim como "o descobridor de amanhãs", ter descoberto você, doutorando que trabalha Manoel de Barros é indesritível. Manoel de Barros nos uniu através da Literatura. Isso não tem preço. Muito obrigado por sua amizade!
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