Photography: Khaled Flehan. |
PORTA
O que nos espera do outro lado? Devemos abrir a porta ou conservá-la
fechada? É uma necessidade, curiosidade ou irresponsabilidade? Do outro
lado pode estar o bem ou o mal, o bom ou o mau. Transpô-la é uma
prioridade? E se do outro lado estiver um nó górdio? O que me leva a
querer abri-la? O que me faz deixar como está? Estaria sendo ousado em
tocar o trinco e enfrentar o que viria? Seria covarde por ficar do lado
de cá, longe de um possível problema? Mas, e se do outro lado estiver o
que espero? Se do outro lado estiver a solução? E se essa passagem for o
fim? E se for o recomeço? E se eu me der com o vácuo?
A vida é feita de portas. Todos os dias há portas a serem abertas ou
não. Começa em casa, no quarto, no banheiro e finalmente de casa para a
rua. São imperceptíveis e não nos damos conta. Mas as portas da vida são
nítidas. Estão no meio do caminho. Podem consistir em obstáculos ou
não. Algumas, você abrirá com prazer, outras o farão se sentir forçado.
Existirão as que você será obrigado a abrir. E muitas que jamais devem
ser abertas.
Têm portas que não trazem chaves. Têm portas acercadas de contenções.
São fornidas, fortificadas, quase impenetráveis. Certamente protegem
algo. Outras jazem entreabertas, ou destrancadas. Talvez não guardem
valores ou segredos. Ou guardam mal guardado? Existem portas que os
outros abrem para nós. Existem portas que abrimos para os outros.
Podemos abrir ou fechar portas para o indesejável. Mas também podemos
abrir ou fechar portas para o desejável. Podemos ser indesejáveis a quem
nos abre ou fecha porta. O mau não abriria a porta para o bom. O bom
abriria a porta para o mau e para o bom.
Há portas de vidro, que lhe permitem ver quem está do outro lado, e
dependerá de você ser visto ou não. Mas você decidirá abri-la ou não. Há
portas silenciosas e portas que rangem mais que roda de carro-de-boi.
Há portas secretas, que o levarão para um local exclusivo. Há portas que
estão mais para poternas ainda mais secretas, e somente você permitirá a
entrada ou a saída.
Algumas portas trazem aldrabas para anunciar a chegada. Outras exigem
batidas ou palmas para decidirmos abri-la ou não. Há portas que
conservam o “olho-vivo”, permitindo-nos saber se conhecemos ou não quem
está do outro lado. Assim, podemos abri-la ou não. Outras portas são tão
avariadas que anunciam o outro lado,mesmo fechadas.
Há portas tão eternamente fechadas, ou tão eternamente abertas que quase
não são mais portas. São muros ou pontes. Há portas que guardam anjos,
há portas que abrigam legiões de demônios. Há portas que se abrem para
tudo. Há portas fechadas para quase tudo. Há portas que melhor seria
nunca serem abertas. Outras, jamais fechadas. Há portas que guardam
abismos, outras descortinam horizontes e prados.
Há portas automáticas, programadas para não terem filtro, permitindo que
todos atravessem. Há portas com alarmes. Há portas silenciosas. Há
portas que lhe trancam para sempre. Outras se abrem para sempre. Há
portas de madeira de lei, de ferro, de aço, de alumínio, de vidro, de
inox, de bambu. Algumas pessoas são como portas...
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Photography: Khaled Flehan.
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