Hoje dediquei-me a ler essa obra interessante que me foi presenteada pelo autor, escritor Manoel Onofre Jr. Ela estava na fila dentre os livros que ganho ou compro. Dificilmente permito que uma obra fure a fila. Só se for para uma pesquisa, pois quando passamos dos 50 não é recomendável ler por ler, como fazemos quando mais jovens.
Pois bem, o autor faz uma ampla revisão da literatura no Rio Grande do Norte, abordando poetas - homens e mulheres -, contistas, romancistas, cronistas, enfim, retira a grossa poeira acumulada pelo desconhecimento ocasionado pela falta de políticas públicas para leitura, incentivo à leitura no estado e coisas afins (por exemplo Otacílio Alecrim é um nome forte, mas pouco conhecido). Alguns dos contemplados nessa obra têm projeção no cenário nacional, como Homero Homem e poucos outros. Mas, detalhe, observe o título do livro. Ele diz “Alguma prata da casa". "Alguma"…
Obviamente ele elenca nomes bem conhecidos por todos nós que apreciamos obras de escritores nossos, vizinhos de muro - para não dizer escritores brasileiros. Dito isso, lembrei-me de um trecho: ele conta que a poeta Marize Castro, quando abordada como escritora potiguar em grandes eventos de literatura, ela não acha legal “acho isso um saco!”. Verdade! Meu conterrâneo Manoel de Barros detestava quando alguém se referia a ele como “escritor do Pantanal”. Por falar em Manoel, ele tem um poema, que também é título de livro, denominado "Poemas Rupestres", e Sanderson Negreiros, elogiosamente comentado por Onofre, também tem poema com o mesmo título.
Particularmente acredito que esse modus operandi de a crítica se referir aos escritores de suas regiões dessa maneira fecha-lhes numa redoma e torna-os, de fato, locais. Quando se diz “escritor brasileiro”, o autor se sente naturalmente movido a escrever para o Brasil. Não estou dizendo que o autor deve perder a essência dos ares onde respira.
Desconheço outro escritor, que não seja Onofre, autor de uma obra que liste os escritores nascidos no Rio Grande do Norte, ou que vieram de outros estados ainda muito pequenos ou jovens, e o Rio Grande do Norte fez-se a sua catapulta; nesse caso, refiro-me a Miriam Coeli e mais uns dois ou três que ele aborda.
Manoel Onofre, como um apreciador voraz da leitura nacional, e pesquisador das coisas do Rio Grande do Norte, trata cada escritor com especial atenção, fazendo abordagens inteligentes e substanciais, dando a sua opinião, trazendo opiniões de outras notáveis figuras, enfim, dá uma desnudada nos autores com inteligência e até mesmo coragem e audácia, pois faz críticas a alguns (só mesmo Onofre para tal mister). Para ele também há muito “basculho” nesse meio (palavra dele). Enfim, Onofre faz críticas inteligente, mas necessárias, como, por exemplo, autores que trazem informações preciosas, em títulos que não dizem muito sobre o conteúdo, outras, pela própria construção meio troncha da obra, mas com conteúdo precioso. Fala também de autores que escrevem com extraordinária beleza; aquela coisa do bendizer, do conciso, a escrita limpa, seja no poeta, no romancista, no contista. Constata-se que ele fez uma devassa na bibliografia do Rio Grande do Norte, 'escavacando' o inimaginável.
A maioria dos seus abordados descansa nos cemitérios da vida. Um deles, nesse exato momento respira esses mesmos ares quentes da Natal com 36 graus positivos que respiramos: Thiago Gonzaga. Ser elogiado por Manoel Onofre não é para qualquer um. Ainda não li uma obra específica de Thiago Gonzaga, mas vou colocá-lo na lista. Onofre considera que boa parte dos norte-rio-grandenses não dão o devido reconhecimento a certos autores do mais alto quilate, o próprio Otacílio Alecrim (mencionado acima) dentre outros. A propósito, por coincidência, escrevi sobre ele em meu blog em 2014, e notei que, tendo conversado com alguns escritores do Rio Grande do Norte sobre essa insigne figura, ajudei a despertar-lhe interesse, pois depois vi acontecendo coisas no meio literário sobre o nosso notável). Vejam como é importante a gente falar, escrever, conversar na praça, na esquina… a gente ajuda as pessoas a descobrir tesouros… https://nisiaflorestaporluiscarlosfreire.blogspot.com/2014/11/marcel-proust-e-o-rio-grande-do-norte.html
Eis que “ALGUMA PRATA DA CASA Ensaios norte-rio-grandenses” cumpre esse mesmo raciocínio. Que bom, pois são muitos autores abordados.
Onofre coloca num panteão figuras como Marize Castro, Myriam Coeli e outras. Também discute sobre os “estrangeiros em sua própria terra” numa curiosa reflexão, a exemplo de Nísia Floresta Brasileira Augusta e Peregrino Júnior. Ele transborda em elogios a Auta de Souza e faz uma breve lista sobre os mais requintados intelectuais brasileiros que enalteceram Auta de Souza fora do RN, em publicações que reúnem a nata dos escritores. Como ousar dizer que essa poeta não foi tudo aquilo? Uma curiosidade: Para Onofre, é provável que Auta de Sousa tenha sido lésbica. Ele traz alguns retalhos de sua poética entendendo-os como se Auta, de maneira não tão subliminar, revelasse essa condição.
Logicamente que não poderia faltar o maior dos maiores. Não é exatamente um literata (embora teve passagens nessa seara), mas com certeza uma figura que acumulou mais horas diante de uma máquina de escrever de toda a História do Brasil. Um “senhor Google da vida”, que certamente foi um dos brasileiros que mais leu, mais possuiu livros, mais escreveu livros, mais escreveu cartas e as recebeu de toda a história do Brasil… Você, leitor, é inteligente e já sabe de quem escrevo. Pois é, vale a pena ler o que a inteligência de Onofre nos fala sobre esse homem…
Verdade deve ser dita. Escrever sobre si não é recomendável. Jamais Onofre escreveria sobre si - como fez com uma porção de escritores, analisando-os com honestidade -, mas ele mesmo faz parte desses escritores maravilhosos que, conforme ele próprio, ainda são desconhecidos por determinados públicos, e precisam ser apreciados por quem gosta da literatura de qualidade.
Então, minha gente… encerro por aqui, do contrário estaria fazendo um resumo dessa obra de Manoel Onofre Jr e tiraria de você o encanto da leitura… Detalhe: da obra eu só falei uma virgulazinha, tem muito a encantar… L.C.F. 3.2.24
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