Embora ninguém sinta falta, Zezé de Camargo pediu às filhas de Silvio Santos que cancelassem a participação dele no espetáculo natalino deste mês, usando uma expressão vulgar para aludir à emissora. (Não imaginava que o linguajar desse sertanejo fosse tão baixo). O “motivo” foi o presidente Lula ter participado da inauguração do SBT News, como se - no passado - todos os presidentes do Brasil não tivessem participado de inúmeros eventos dessa emissora.
Excetuando esse gesto de menino birrento - amargado pelo fel bolsonarista -, o episódio veio a calhar, tornando oportuna uma reflexão sobre a Lei Rouanet, tão atacada pelo sertanejo nos últimos tempos. A propósito desse assunto - e cabe até em caixa alta -: ZEZÉ DE CAMARGO É UM DOS ARTISTAS QUE MAIS RECEBE DINHEIRO PÚBLICO, INCLUSIVE DA LEI ROUANET.
Até a data dessa declaração dele, Zezé de Camargo havia assinado um contrato de MEIO MILHÃO com o município de São José do Egito, Pernambuco (ocorre que o prefeito daquele município viu sua declaração e não quis mais a participação de Zezé).
Recentemente, em Teresina de Goiás, cidade com dois mil setecentos e um habitantes, o cantor recebeu TREZENTOS E OITENTA MIL REAIS para as comemorações de sua emancipação política. Se compilarmos as notícias nas mídias sobre os shows de Zezé de Camargo pagos com dinheiro público, inclusive em cidades paupérrimas, encheríamos um livro.
Um artista brasileiro de raízes paupérrimas como Zezé de Camargo, que viu o fantasma da fome e as inúmeras agruras da miserabilidade - conforme vemos no filme Os Dois Filhos de Francisco -, deveria ter humildade em seu modo de ver a vida. É direito dele ser bolsonarista, mas, para quem enriqueceu tanto a conta bancária, o cérebro foi abandonado à total miséria.
Qualquer emissora brasileira que organizasse um evento do tipo como o ocorrido no dia 12 de dezembro, no SBT, teria convidado o presidente da República em voga, fosse quem fosse. O próprio Silvio Santos convidou todos os presidentes que passaram pelo poder na existência do SBT. As fotografias estão aí para comprovar, pois o convite não diz respeito à política partidária; afinal, não se trata de um comício ou palanque político. Ali estavam as mais notáveis figuras do Brasil, independentemente de partidos políticos. Mas o Sr. Zezé de Camargo, um homem de 72 anos, que muito deveria ter aprendido com a vida, deixou-se valer da pobreza que parece não ter saído dele.
Falta a Zezé, mesmo sendo bolsonarista, olhar para aquele passado que inclusive ele viveu. Um passado em que o povo brasileiro era abandonado pelo Governo Federal: não existiam políticas públicas de nenhuma natureza. A pobreza no Brasil não existia; o que existia era miséria. No Brasil da época de Zezé, milhares de pessoas morreram acamadas, pois o sonho de uma cadeira de rodas era inacessível. Muita gente vegetou em casa, vitimada por AVC (que naquela época chamavam de “derrame”), trazendo um dos lados do corpo morto, morrendo aos poucos, à míngua. Autistas eram considerados loucos e eram torturados em hospícios. Muita gente morreu de câncer em cima da cama, contorcendo-se, gritando e gemendo de dor lancinante durante meses, sem acesso a uma mera Cibalena. Muitas crianças pretas foram apedrejadas até mesmo em escolas, simplesmente por não serem brancas, vitimadas por todo tipo de piada. Crianças pobres eram invisíveis e maltratadas. Nas escolas, sacos de leite em pó de 25 kg, cheios de bicho, e da mesma forma o feijão e o arroz mandados para as escolas pelo Governo Federal. Nossos irmãos indígenas, que moravam literalmente nas matas, viviam cheios de medos, arredios, temerosos de lidar com pessoas como nós, simplesmente por termos casa, comida e roupa. Nem escola eles tinham direito de frequentar para, ao menos, comer a merenda. Os indígenas eram abandonados ao léu… Sabe quando isso? DURANTE A DITADURA MILITAR.
Tempos em que um pedreiro ia trabalhar a pé (nem bicicleta tinha). Tempos em que a empregada doméstica voltava para casa com o resto da janta da patroa para alimentar os filhos. Tempo em que pobre estudava só até o quarto ano primário, quando muito. Tempo em que o pobre não sabia o que era casa própria, carro, viagem, telefone, festa de aniversário, sequer um remédio para dor. Tempo de crianças com a cabeça cheia de feridas e o bucho inchado por comer terra. Tempo em que uma massa brasileira morria literalmente de fome. Tempo de miséria absoluta. Tempo em que, amedrontados e famintos de tudo, os brasileiros eram condicionados a cantar: “Eu te amo, meu Brasil, eu te amo/meu coração é verde e amarelo e branco, azul-anil/Eu te amo, meu Brasil, eu te amo/ninguém segura a juventude do Brasil”…
Falando do câncer da ditadura militar, me lembrei de uma faceta do filme Os Dois Filhos de Francisco em que Zezé de Camargo, choroso, voltando para casa numa carroça, compadece-se do pai por terem sido expulsos de uma emissora de rádio. O motivo? Eles apresentaram uma música intitulada Tirania, cuja letra, ao final, dizia: “Viva as Forças Armadas e a sua tirania”. Quando o dono da emissora ouviu a frase, horrorizado, e interrompeu imediatamente, expulsando-os dali. Sabe quando isso? DURANTE A DITADURA MILITAR, tão falada pelos ignorantes.
Pois bem, ver Zezé de Camargo entristecido por não poder ver Bolsonaro na festa do SBT - ofendido com a presença de Lula - convida-o a resgatar o seu cérebro, em primeiro lugar. E, depois, revisitar o seu passado e o de milhões de brasileiros durante a Ditadura Militar e ver as monstruosidades desse regime. Por sorte, vocês escaparam da morte, mas não escaparam das mazelas da fome, que a Ditadura Militar ignorou. Não combina a um homem de bem sentar-se ao lado de quem admira Ustra, o maior torturador que o Brasil já teve. E hoje, você e sua família, que foram vítimas, têm a pachola de admirá-los e estar choroso por um genocida que não poupa sequer a audácia de dizer que seu livro de cabeceira foi escrito por Ustra. Perdão, mas você não se comporta como um homem de bem.
Sim, e não se esqueça de que o único presidente brasileiro que criou uma infinidade de programas abrangendo moradia, saúde e educação, beneficiando milhares de pobres, tem nome: LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA. É o único presidente que criou 16 universidades federais no Brasil. Nos seus dois primeiros mandatos Lula entregou 214 escolas técnicas, mais que dobrando a rede federal, que possuía 140 unidades antes de sua gestão. Criou os 38 Institutos Federais (IFs) atuais, reorganizando as antigas escolas e os Cefets em uma nova estrutura. E, atualmente, em seu terceiro mandato, Lula anunciou a criação de mais 100 novos campi de Institutos Federais até o final de 2026.
Pois é, Zezé, você, sim, está sendo prostituído. Se o governo Lula tivesse sido em sua época, pelo menos a fome vocês não a teriam experimentado. Você está prostituído por uma prostituta chamada ingratidão e falta de cérebro. Vá estudar, já que ultimamente você não está sabendo nem cantar...

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