O menino e o cachorro
Era sete da manhã
quando Rhenan chegou ao Céu. Ao lado do Céu dos humanos ficava o céu dos
animais. Coincidentemente quem estava na porta daquele setor era a alma de Manchinha,
o cachorro morto a pauladas por um vigilante do Carrefour.
O simpático animal
ficou surpreso com a chegada de uma pessoa de 9 anos e quis logo saber como ela
havia morrido. Normalmente quem chegava ao céu com frequência eram pessoas mais
velhas. Muito esperto e curioso, Manchinha foi até a porta do céu dos humanos e
mandou chamar Rhenan.
-
Olá, bom dia! Eu sou Manchinha, aquele cachorro que o vigilante do Carrefour matou.
- Ah! Sim! Quem não o
conhece. O Brasil parou por causa da sua morte!
- Desculpe perguntar,
mas o que houve com você? O que o fez morrer tão criança?
- É
o seguinte, Manchinha. Eu também fui assassinado, mas pelas mãos da minha mãe
biológica.
- Santo Deus! Sua própria
mãe o matou? E o seu pai não te defendeu?
- Não havia como o meu
pai me defender. Minha mãe vivia maritalmente com outra mulher. Era separada do
meu pai. Ela me matou com ajuda de sua esposa. Fui esquartejado. Cortaram o meu
pescoço eu ainda estava vivo!
- Santo Deus!!!!!!!!! E
por que você não ficou com o seu pai, já que ela era esse monstro? Isso não
teria acontecido!
- Não havia como. Elas
me roubaram do meu pai biológico. Na realidade, ela perdeu a minha guarda para
o meu pai, mas fugiu com sua nova esposa e me levou junto. Vivia de estado em
estado, cidade em cidade. Meu pai ficou desesperado. Percorria todos os lugares
me procurando. Quando ele encontrava uma pista elas desconfiavam e fugiam.
-
Que história triste a sua! Eu quase não acredito. E não tinha ninguém mais na
sua casa que pudesse ajudar você?
-
Tinha a minha irmã de criação, filha da esposa da minha mãe, mas era só um
pouquinho mais velha que eu. Nós não tínhamos como procurar ajuda, pois não
compreendíamos muito bem as coisas.
-
Que fatalidade, Rhenan! Estou abalado com sua história.
-
Você não sabe da missa um terço. Eu nunca tive paz ao lado da minha mãe e sua
esposa. Fui feliz apenas no Acre, onde eu conheci a chuva e brincava com outras
crianças. Meu pai me amava. Nunca tocou em mim para me maltratar.
- Que
pena, meu amiguinho! Sinto demais por tamanha monstruosidade. É o que posso
dizer. Mas como era o seu cotidiano?
-
Era uma tragédia. Éramos maltratados diariamente. Elas obrigavam eu a manter relação relações sexuais com minha irmãzinha. Eu
nunca entendi por que ela nos forçava a fazer aquilo. Foi uma experiência
horrível, pois eu amava a minha irmã, sentia compaixão do sofrimento dela,
mas não havia como sair daquilo. Éramos forçados. Vivíamos em cárcere privado.
-
Que absurdo! Isso é o fim do mundo!
-
Você não acreditará, mas há cerca de um ano elas cortaram o meu pênis. Tudo foi
feito em casa. Depois que o meu corpo foi encontrado e descoberto que eu não
tinha pênis, elas criaram uma história para a polícia. Disseram que eu queria
ser uma garota e por isso me mutilaram, mas é mentira. Eu nunca quis ser menina.
- Que triste! Sua história é um
filme de terror. Foi a coisa mais abominável que eu soube.
- Pois é. A maior parte da minha
vida foi de sofrimento, terror, medo, dor, ameaça, gritos, tapas, beliscões,
arranhões. Tudo o que você imaginar de terrorismo psicológico nós passamos.
Tudo o que ela tinha nas mãos arremessava em nós quando irritadas com problemas
pessoais delas.
- Cada vez que você fala, fico mais
abismado. Que destino triste você teve.
- É, de tristeza e dor sou
doutor. As menores coisas que passamos foi fome,
ficar sem tomar banho, ouvir gritos e ameças. Elas nos aterrorizavam o tempo
todo. Pareciam felizes vendo-nos sentir medo. Machucavam muito a gente.
Minha irmã se tornou uma criança elétrica, irritada, sentia pavor da imagem
masculina, pois assim a ensinava minha madrasta e minha mãe. Se vocês olharem bem
verão os seus pezinhos dela ressacados, cortes
na cabeça e ferimentos no pescoço.
- Pelo que
percebo, não sofri nada diante de você. Pelo menos sofri uma paulada na cabeça
e daquilo morri em seguida. Você foi torturado a maior parte da sua vida!
- A única
felicidade que sinto é saber que foi por causa da minha morte que o meu pai me
encontrou. Assim consegui salvar a minha irmã. A notícia se deu em nível nacional. Meu
pai saiu desesperado até a casa onde eu morava.
Enquanto ela fazia isso o pai da minha da minha irmãzinha fez o mesmo e
a salvou. Ela ficou sem ir à escola há pelo menos dois anos.
- Meu
pai teve mais dois filhos do seu segundo casamento. Tenho certeza que eu seria
muito feliz morando com meus irmãos e meu pai.
- Fui assassinado no fim da noite de sexta-feira. Eu estava dormindo. De repente minha mãe e sua esposas me pegaram e começara a dar golpes de faca em meu corpo. Fui golpeado com 12 facadas, sendo uma no peito - enquanto dormia - e as demais na posição de joelhos, ao lado da cama. Ainda tentaram retirar, com a faca, os meus glóbulos oculares.
- Fui assassinado no fim da noite de sexta-feira. Eu estava dormindo. De repente minha mãe e sua esposas me pegaram e começara a dar golpes de faca em meu corpo. Fui golpeado com 12 facadas, sendo uma no peito - enquanto dormia - e as demais na posição de joelhos, ao lado da cama. Ainda tentaram retirar, com a faca, os meus glóbulos oculares.
-
Cristo Redentor! Pare, por favor. Eu não estou conseguindo mais ouvir isso!
- Mas eu preciso contar. Alguém
precisa ouvir isso. Você é a primeira pessoa, aliás, a primeira criatura, aliás,
o primeiro animal que eu encontrei após a minha morte. Deixa-me falar!
- Certo. Continue. Vou tentar ouvir
você, mas é torturante.
- Obrigado! Pois bem, depois elas
arrancaram toda a pele do meu rosto, pois tinham a intenção de me jogar em
algum lugar e temiam que alguém encontrasse o meu corpo e me reconhecesse.
Quando elas me decapitaram eu ainda estava vivo.
- Que dor! Que agonia. Meu Deus,
como você sofreu!
- Elas ainda tentaram me queimar numa
churrasqueira, para depois descartar os meus pedaços num vaso sanitário, mas pararam
por causa do fumaceiro que começou a subir pelo telhado. Tiveram medo de alguém
vir saber o que era.
Na tentativa de não deixar pistas, compraram um martelo para triturar os meus ossos. Isso acabou
não acontecendo, mas era intenção delas.
- Que coisa satânica! É quase
inacreditável!
- Pois é, então elas separaram as partes do meu
corpo numa mala e duas mochilas escolares. A esposa da minha mãe jogou uma
parte num bueiro de Samambaia.
Algumas pessoas acharam suspeita a atitude dela, portanto abriram o objeto e
encontraram o meu. Pelo que eu senti, elas iam fazer o mesmo com minha irmãzinha,
pois ela assistiu a minha decapitação. Ela só fingia dormir. Está traumatizada. Soube que minha irmã viu o momento da minha morte, pois
ela fez o desenho de um corpo ensanguentado com os órgãos de fora.
- Que filme de terror! Como vocês,
humanos, dizem, elas são psicopatas. São um perigo para a sociedade!
- Exato! Fui vítima de um fato gravíssimo, anômalo, bizarro. Isso precisa
ser estudado. As igrejas, as ONG’s, os órgãos de proteção à maternidade e
e infância, os Conselhos Tutelares, as universidades, enfim, as pessoas
precisam para discutir isso. Sei que, infelizmente, Infanticídio não é tão raro. Mas o que elas fizeram comigo chama
atenção por envolver, além de infanticídio, extrema brutalidade. Se isso fosse em
determinados países, elas seriam sentenciadas à pena de morte ou à prisão perpétua.
- É
verdade. E antes fossem!
- Não!
Não desejo isso para elas. Desejo que seja feita justiça, só isso.
- Embora
nada justifica tanta abominação, você acha que elas fizeram isso por que razão?
- Por
serem doentes. Elas nutriam ódio incontrolável de mim e de minha irmãzinha. Eu
e minha irmã representávamos
o passado afetivo delas duas. Éramos considerados um grande problema na vida
delas, as quais viviam em constante fuga dos nossos pais.
- Que absurdo! Por que não
entregaram vocês aos seus pais?
- Pois é. Tão simples, mas como
eram doentes, quiseram nos destruir.
- Santo Pai! Mas me diga uma
coisa, lá em baixo, na Terra, o Brasil deve estar em polvorosa, não é? A
polêmica deve ser grande nas redes sociais, não?!
- Não!
- Não? Como assim?
- Quase ninguém comenta!
- Não pode. Você deve estar
enganado, Rhuan. Não tem cabimento isso. Você não se lembra do escândalo que
fizeram quando fui morto?
- Claro, Manchinha! Quem esquece
daquele barulho? De acordo com pesquisas, foi um dos assuntos mais badalados
nas redes sociais nos últimos tempos.
- Pois é, Rhuan, mas a sua
história é digna e necessária de repercussão internacional. É um dos crimes
mais bárbaros que já houve no Brasil. E, pior, contra uma criança. Isso precisa
ser debatido!
- Sim, mas boa parte das pessoas
não estão mais preocupadas com a infância. Com todo respeito a você, que é um
animal, um ser irracional, mas veja a diferença: sua morte abalou o Mundo! E
eu, um ser humano, uma criança inocente, vítima de um filme de terror e o
assunto não teve repercussão! É o Brasil. São as pessoas. Estamos diante de um
grande equívoco.
- Exatamente, o Brasil está
diante do seu maior equívoco... FIM
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O autor esclarece que seu repúdio é única e exclusivamente contra o crime hediondo. Contra esse ataque à infância. Nada contra assuntos de gênero, pois conhece inúmeros casos de uniões homoafetivas pautadas de humanismo e respeito à infância.
Gostei muito do texto que vc narrou essa história , mais infelizmente é a realidade desse Brasil ,que não se preocupa mais com as vidas das crianças ,esses monstros merecem apodrecer na prisão ou merecem a pena de morte, nos países vizinhos isso existe ,aqui é uma vergonha.
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