ISMAEL DUMANGUE PROFETIZOU O DANO À LAGOA DO BONFIM
Dizem que a Arte salva. É verdade. Dentre suas inúmeras funções, ela abre mentes, conscientiza, desperta, olhares aguçados, enxerga valores no invisível, destrona algozes, desperta sensos críticos, arranca máscaras, permite o olhar tridimensional sobre os fatos etc.
O músico e compositor potiguar Ismael Dumangue é exemplo claro de um artista visionário. Em 1999, quando arquitetavam a “Adutora Monsenhor Expedito”, ele arquitetou “O destino do Bonfim”, uma composição musical que também previu o dano ambiental que está ocorrendo, hoje, na referida lagoa. Antes, ela era um mar de água doce, hoje, é meio mar morto. As águas jazem acanhadas, não se veem mais aquelas ondas cutucando o batente da porta da cozinha dos ribeirinhos. Suas margens lembram um declive para ‘skidunda’, fenômeno inimaginável. A quantidade de área seca é inimaginável.
Como ontem escrevi um texto contando a história de como se deu a chegada da adutora em Nísia Floresta, hoje reservei essa obra musical de Ismael Dumangue, que tocou nas FM’s comunitárias de Nísia Floresta e São José de Mipibu, mas parece não ter sido ouvida pelas autoridades. Sua mensagem profetizou o dano ambiental, ela instiga olhares pontuais e medidas que deveriam ter sido amarradas antes, como prevenção e controle. Mas a água correu frouxa, como se tirada do oceano. As consequências vieram.
Aprecie, abaixo, a letra visionária, que hoje deve ser o símbolo maior do protesto popular que se manifesta nas proximidades da lagoa do Bonfim, idealizado por Elaine Freitas (líder comunitária) e Marcos Lopes (empresário-Forró da Lua) com considerável participação popular.
O DESTINO DO BONFIM (ISMAEL DUMANGUE - 1999)
Seu doutor eu não entendo
Me diga quem tem razão
É tamanha a confusão
No boato aí correndo
Todo mundo remoendo
Essa estória do Bonfim
Que é bom que é ruim
Tirar água da lagoa
Dê-me uma resposta boa
Conte tintim por tintim
Dona Nísia é de direito
Sua dona e senhora
Mas seu Mipibu namora
Já casou não tem mais jeito
Não vamos criar despeito
Nem causar mais divisão
Espero que a vazão
Traga paz tranqüilidade
Esborre felicidade
A quem sofre sequidão
Essa lagoa famosa
Do litoral ao sertão
Sai verão entra verão
Não seca e é toda prosa
É a nossa fina rosa
Mãe de tantas por aqui
ESPERO NÃO ECLODIR
NUM IMPACTO AMBIENTAL
PRA SOFRIMENTO GERAL
E AMARGOSO PORVIR
Me desculpe excelência
Eu ousar lhe inquirir
Mas não posso me eximir
Sou arauto da prudência
Do lagar da consciência
Do anseio pelo certo
Por isso versejo aberto
Canto amor a esperança
A correta aliança
O aqui o longe o perto
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(Décima em sete sílabas). OBS. Coloquei em caixa alta a parte mais forte.
Pois bem, a letra fala por si, tanto é muito poética quanto forte e esclarecedora. Quisera que as emissoras de rádio comunitária coloquem para tocar com frequência “O destino do Bonfim”, despertando naqueles que se calam, nos omissos e nas próprias autoridades silenciadas, a responsabilidade de se unirem ao povo e buscarem solução. Se calaram por tanto tempo, este é o momento de levantar a voz e salvar a lagoa do Bonfim. Externo os meus parabéns para esse grande poeta Ismael Dumangue, pela contribuição impagável de ter avisado, ter conscientizado, ter gritado e usado a sua poderosa voz, em tempo. A Arte realmente salva. Enquanto Monsenhor Expedito, o “Apóstolo das Águas”, profetizou que todos os lugares secos do estado teriam água um dia, o músico Ismael profetizou que essa água acabaria acaso não a usassem com reservas e regras. Por isso a sua música é o maior símbolo desse momento. A você Ismael Dumangue, com sua alma nobre e boa, com sua Arte profetizante, fica a tarefa de compor uma nova música, garantindo-nos que a majestosa lagoa do Bonfim não se torne “lagoa do Maufim”.
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