ACTA NOTURNA – 19.7.2019
PRAIA DE PIRANGI DO SUL: PARA ONDE VELEJAM
AS JANGADAS D’OUTRORA?
Os primeiros moradores
desse torrão paradisíaco, apelidados “índios”, foram os nativos potiguares que
ali moravam há milênios, abastecidos por abundante pesca e a agricultura.
A aldeia se espraiava franca, unindo as duas pirangi, “rio das piranhas”, conforme o idioma tupi, pronunciada então “pirã-gi-pepe”. A praia dista 25 Km de Natal, localizada às margens sul do rio Pirangi, por sinal belo não fosse a sua gradual dilapidação e assoreamento.
A aldeia se espraiava franca, unindo as duas pirangi, “rio das piranhas”, conforme o idioma tupi, pronunciada então “pirã-gi-pepe”. A praia dista 25 Km de Natal, localizada às margens sul do rio Pirangi, por sinal belo não fosse a sua gradual dilapidação e assoreamento.
No século XVI os donos
reais desse cartão postal a chamavam Pirangipepe, depois passou a se chamar
Porto de Búzios, pois Búzios – praia próxima – era espécie de referência para
os exploradores que dali retiravam milhares de conchas de cujo nome batizaram a
praia vizinha.
No tempo que poucos
valorizavam o banho de sol e mar, e não se interessavam por veraneio, essa
faixa era emoldurada por coqueirais sem fim, até o homem depredá-la lentamente,
tombando diariamente dezenas dessas palmeiras transformadas em material de
construção para grandes casas de taipa de Natal, além de outras finalidades.
A “civilidade”
inaugurou-se ali paulatinamente, atiçada pela construção da capela de Nossa
Senhora da Soledade. Num terreno doado por Manoel Joaquim Freire, sua esposa
Inês Emiliano Freire e a senhora Rita Maria de Macedo, erigiu-se o marco
cristão e o fenômeno atraia moradores. A informação está evidenciada na
escritura de doação datada de 2 de abril de 1867, portanto há 153 anos.
Antes de 1920 o local já era pincelado por casinholas feitas totalmente de palha de coqueiro. Pessoas pobres, empurradas voluntária ou não para o mister de “pescador”, se arrancharam por ali, erguendo suas moradas, onde tinham o sustento garantido.
Antes de 1920 o local já era pincelado por casinholas feitas totalmente de palha de coqueiro. Pessoas pobres, empurradas voluntária ou não para o mister de “pescador”, se arrancharam por ali, erguendo suas moradas, onde tinham o sustento garantido.
Logo depois apareceram
pequenas casas de tijolos queimados em Macaíba, pertencentes ao “mestre de
barcaça” José Costa e ao capataz de pescaria Antonio Pessoa. Mas em termos de
veraneio o pioneiro dessa cultura foi o farmacêutico macaibense José Augusto Costa
e sua esposa Nininha Costa. A construção deu-se com grande dificuldade, cujo
acesso era precário. Eles percorriam o longo trecho num velho Ford 1929.
Francisco Fernandes Costa, comerciante de artigos dentários foi pioneiro na instalação de energia elétrica em Pirangi do Sul. Caída a noite o casarão de tijolos do século XXI rivalizava seu esplendor com os pirilampos.
Francisco Fernandes Costa, comerciante de artigos dentários foi pioneiro na instalação de energia elétrica em Pirangi do Sul. Caída a noite o casarão de tijolos do século XXI rivalizava seu esplendor com os pirilampos.
A residência, imponente
para os padrões toscos da localidade, chamava a atenção dos nativos encerrados
em casinhas de palha e taipa, emoldurando o belo lugarejo alumiado pelos pavios
amarelecidos de candeeiros. A esposa de Francisco Fernandes, senhora Maria
Alice Fernandes foi uma conhecida beneficente da região. Era reverenciada pelos
humildes, aos quais nutria muito afeto e assistência.
Até hoje o frontão dessa
casa é preservado, graças ao filho do referido casal, engenheiro Ferdinando
Fernandes Costa e sua esposa Margarida Mara da Costa.
Mas a grande referência desse pedacinho do céu era outra. A praia foi berço das famosas corridas de jangada, cujos pescadores se irmanavam aos irmãos de Búzios, Barra de tabatinga e Pirangi do Norte.
Mas a grande referência desse pedacinho do céu era outra. A praia foi berço das famosas corridas de jangada, cujos pescadores se irmanavam aos irmãos de Búzios, Barra de tabatinga e Pirangi do Norte.
Juntos, nos sábados e
domingos, eles protagonizavam deleite aos apreciadores da velha tradição.
Muitos desciam de Natal, ávidos para contemplar as minúsculas barquinhas
desaparecendo no horizonte, inchadas pelo vento forte. As velas, músculos do
barco, semelhantes a gotinhas brancas, sumiam no azul esverdeado do mar. Belo
esporte!
Como escreveu o mestre
Cascudo, os vencedores disputavam aplausos, ansiosos pela “coroa de aljôfares”.
Segundo ele “... as jangadas levavam apenas o mestre e o proeiro, e ficavam a
umas duas milhas da costa”. Eles competiam a vitória na maior adrenalina,
movidos pela raça, pela força física, porém “a jangada não podia cortar a
outra, atravessando-lhe na frente”.
As regras eram rígidas.
Havia árbitros que acompanhavam o percurso em mar e em terra, visando a devida
organização e cumprimento das normas. Era um espetáculo!
Mas o tempo passou e a essência de Pirangi do Sul desapareceu, dando lugar a verdadeira cidade. Precária, sim, mas com foros de cidade se comparada aos seus primórdios. Pirangi do Sul está tomada por casas, condomínios, prédios, granjas e sem-fim de casas de praia e pequenas favelas sobre áreas verdes. Muitos trechos estão depredados. Ninguém enxerga o que acontece a Pirangi do Sul?
Mas o tempo passou e a essência de Pirangi do Sul desapareceu, dando lugar a verdadeira cidade. Precária, sim, mas com foros de cidade se comparada aos seus primórdios. Pirangi do Sul está tomada por casas, condomínios, prédios, granjas e sem-fim de casas de praia e pequenas favelas sobre áreas verdes. Muitos trechos estão depredados. Ninguém enxerga o que acontece a Pirangi do Sul?
A urbanização é precária
como precário é o sumiço das jangadas. Apesar de tudo, em Pirangi do Sul, os ventos fortes da sua beleza original ainda turbilham como antes.
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