Professora Branca Alves de Lima. Heroína da educação nacional, nasceu em 1911, no interior de São Paulo e morreu em 2001, aos 90 anos de idade. Ela criou a cartilha “Caminho Suave” em1948, que por meio século alfabetizou perto de 40 milhões de crianças e adultos, ao longo de décadas...
Lembro-me, fotograficamente dessa cartilha, cuja autora usava o método analítico, hoje praticamente extinto. Cada letra do alfabeto era relacionada a uma imagem que tinha a ver com o som da vogal ou consoante. Por exemplo, a frase "Eu vejo a barriga do bebê" era mostrada de maneira que a letra b (de imprensa/minúscula) era a própria barriga do bebê. A autora explorava a letra de maneira que parecesse com algo que tivesse aquele som, ou seja "b" de barriga. Para tornar mais lúdico aos olhos infantis, ela colocava um rostinho de criança na parte de cima da letra "b", e umas perninhas abaixo da parte arredondada da consoante, de maneira que a parte arredondada fosse a barriga. E assim surgia o ba, be, bi, bo, bu, em fila, como se fossem crianças caminhando.
Interessante que essa lógica era usada em todo o alfabeto, de maneira que, a partir do momento que você dominasse as vogais e aprendesse as consoantes, captava no ar as palavras. Obviamente que eram palavras muito comuns e curtas, como ovo, uva, gato, cachorro, chapéu, macaco... mas assim a gente aprendia a ler o mundo. Se estivesse passando na frente de um supermercado que tivesse tais letras garrafais na parede, ficávamos soletrando, escandindo as sílabas SU...PER...MER...CA...DO... e logo dizia, num rompante, SUPERMERCADO! Em casa, olhando as coisas escritas, a gente ia decifrando lentamente, com certa dificuldade. Era uma glória de outro planeta quando interpretava a palavra ou frase. Só assim a gente falava em voz alta a frase, e de maneira rápida. Era sinal de poder. EU SEI LER! pensávamos, bem felizes.
Dia desses o despresidente da desrepública falou sobre essa Cartilha. Então me lembrei dela, e uns dois dias depois fui buscá-la na internet, supondo ter ainda o preço módico constatado tempos antes, numa breve curiosidade. Porca miséria! A cartilha estava superfaturada. A fala do despresidente jogou o preço da cartilha para os ares.
Estou aguardando o preço voltar a ser módico. Espero que o despauterado cale a boca doravante! Disse Ludwig Wittgenstein que "sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar". Sei que isso é outra história, uma viagem para outros ares da Filosofia, mas não sei porquê senti vontade de trazer para essa reflexão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário