ANTES DE LER É BOM SABER...
sexta-feira, 22 de setembro de 2023
quinta-feira, 21 de setembro de 2023
Notáveis do RN, Um encontro histórico (Nísia Floresta e Auta de Souza)...
Hoje tive o gosto de apreciar um recorte teatral de autoria de Udymar Passoa e Célia Melo, interpretando Nísia Floresta e Auta de Souza, respectivamente. O texto, imaginário, é de autoria de ambas, e permite várias reflexões, além do conhecimento da história dessas duas figuras importantes da história norte-rio-grandense.
O encontro de Nísia Floresta com Câmara Cascudo...
Hoje tive o gosto de apreciar um recorte teatral, assinado pela amiga Udymar Pessoa (pedagoga e pesquisadora) em parceria com a policial militar e historiadora, Célia Melo. Fiquei impressionado como nós, que pesquisamos, viajamos, e essas viagens se parecem mesmo nas diferenças. Digo isso porque, assistindo ao diálogo (imáginário) entre Auta de Souza - interpretada por Célia Melo - e Nísia Floresta - interpretada por Udymar Pessoa, vi ali Câmara Cascudo num delicioso diálogo com Nísia Floresta.
Udymar Pessoa interpretando Nísia Floresta em "Notáveis do RN, um encontro histórico" |
Lembro-me que eu havia trazido Ana Cascudo para Nísia Floresta, num seminário que organizei (e outras personalidades também), então perguntei para Ana como eram os olhos de Câmara Cascudo, pois estava escrevendo um texto (expliquei que era um diálogo entre o pai dela e Nísia Floresta). Ana Cascudo ficou maravilhada. Nunca me esqueço a forma amorosa, pautada de admiração, como ela descreveu os olhos de Câmara Cascudo… Foi inesquecível…
Achei tão interessante que no outro dia liguei para ela com o objetivo de copiar literalmente a forma como ela descreveu os olhos do pai. Então coloquei no início do texto “o verde claro dos seus luminosos olhos”...
Eis que hoje, apreciando esse belo trabalho de Udymar e Célia, acordou essa obra de quase trinta anos… E por falar nessas semelhanças tão comuns no mundo intelectual, o próprio Câmara Cascudo é autor de uma obra em que ele dá vida a várias personalidade da História Universal e os coloca como protagonistas de deliciosas conversas, presenteando o leitor da mesma forma como Udymar e Célia o fizeram, hoje. Parabéns!
Viva a cultura! Viva Nísia Floresta, Auta de Souza e Câmara Cascudo…
domingo, 17 de setembro de 2023
Por que rimos da desgraça alheia?
Engenhos São Roque, Morgado, e uma história de amor...
O engenho São Roque pertenceu a Roque Maranhão (in memorian), que foi intendente em Papary (Nísia Floresta). Fica às margens da estrada que liga NísiaFlorestaa São José do Mipibu. Roque era casado com Luzia Peixoto ("Lula Maranhão", depois do casamento, falecida aos 103 anos de idade e sepultada no cemitério de Papary). Ela nasceu no Engenho Morgado, a dois km dali, sentido São José de Mipibu. Era tia de Tamires Peixoto, ambos primos da minha mãe.
Tamires Ítalo Trigueiro Peixoto e Renato Peixoto, meus primos, contaram-me que Luzia e Roque Maranhão se conheceram quando ele, um belo rapaz, montado em cavalo, passava frequentemente na estrada que liga Mipibu à Nísia e observava a pré-adolescente Luzia na janela do casarão do Engenho Morgado. Ela era muito bonita, não tinha idade para casamento, mas ele dizia para todos “eu vou me casar com aquela menina”. E com essa cisma, inventava negócios com o pai dela, Ezequiel Peixoto, só para ir ao engenho. O tempo passou, ela se tornou moça e as coisas foram se caminhando até chegar em casamento. Eles foram morar no Engenho São Roque, depois compraram uma casa na avenida Deodoro, em Natal, cuja propriedade até hoje pertence à família. Além do meu primo Tamires Peixoto, essa mesma história me foi contada por Mirtes Peixoto, em 2004, numa das visitas que lhe fiz, quando ela a de Natal e ficava no Engenho São Roque.
Como era comum a todos os senhores de engenho e grandes "proprietários", como eram chamados, a família também tinha uma bela casa no centro de São José de Mipibu, defronte à praça Des. Celso Sales. A casa servia para passarem períodos em que o município realizava festas, dando suporte aos filhos que estudavam e situações afins. Mas a residência fixa era no engenho São Roque.
Roque e Luzia eram pais de Geraldo Maranhão, o último dos filhos a residir ali, falecido na década de 90. Geraldo era casado com Marlene Maranhão, hoje com quase 90 anos, pais de Cristina, Sergio e Roque. Com o engenho a fogo morto, eles investiram em restaurantes. Um funcionava nas proximidades do Ginásio Poliesportivo, outro em Camurupim, ambos em Nísia Floresta. Roque, neto, teve o seu último restaurante às margens da BR-101, em São José de Mipibu, fechando-o em virtude da ampliação da BR que comprometeu o acesso da freguesia. Sua mãe, Marlene, ainda seguiu o ramo, em Natal, na avenida Deodoro da Fonseca, mas atendia um público exclusivo. Fechou há cinco anos.
A imagem aqui postada é um flagrante da década de 50, cujo engenho ainda estava em funcionamento. A fotografia me foi repassada por Lula Maranhão, quando a visitei em 2000 juntamente com minha prima Angelamaria de Lourdes Peixoto Freire, em sua casa, em Natal. Atualmente quase toda essa estrutura não existe mais. A chaminé resistiu até 2008, quando ruiu. Atualmente vê-se apenas restos dos maquinários a vapor. Mas a casa grande permanece intacta, conservando a originalidade e muito bem conservada, além de muitos desses longevos coqueiros e pés de manga, testemunhas dos tempos em que o fogo ardia os tachos de caldo de cana para o fabrico de rapadura, melado e cachaça.
Quem hoje passa e vê os engenhos São Roque e Morgado, sempre fechados, sem movimento algum, cujos descendentes usam o local eventualmente, não imagina quantas e quantas histórias se passaram em todas aquelas imediações… e o quanto esses locais foram fervilhantes...
sábado, 16 de setembro de 2023
Joaninha dos padres...
Obra da artista plástica Telma Muraro - Óleo sobre tela - paleta e pincel. |
Era uma casinha de taipa guardada na "Floresta"
Aquietadinha às margens da estrada,
Tão insignificante que de invisível era quase toda.
Ali morou uma senhorinha de andar cambado,
Ganhava a vida no azeite de dendê,
Gastava horas naquele mister.
Havia um alpendrezinho na porta da cozinha,
Olhando para o quintal com dezenas de mangueiras.
Ali jazia o fogão à lenha...
Ardia o tempo todo.
Trabalhoso fazer azeite de dendê!
Garrafas de vidro, urupema, panela de barro, colher de pau, molambos,
Funil, pano de prato, fogo, brasas, barriga na pia.
Lenha... lenha... lenha...
Tempo... tempo... tempo...
Azeite vermelho, alaranjado, cor de mel.
O melhor azeite do Sítio Floresta!
Casa de taipa, de adobe, de pau e barro…
Forrada por telhas brancas, feitas nas coxas,
O madeiramento roliço, pretejado de tisna,
Casinha decorada com arranjos de picumãs,
Cheirando a fogo, fumaça e um barro que parecia sempre fresco.
Quintal de mangueiras frondosas,
Coqueiros e dendezeiros...
Cheiro de azeite e café feito no caco na estradinha...
Perfume de Floresta;
Casa linda... museu natural...
Ali residia "Joaninha dos Padres",
Porque as terras vizinhas eram da igreja.
Joaninha de todos e de ninguém...
Escutei dela histórias nunca ditas sequer aos filhos.
Reflexões que tanto podem sair da boca de um filósofo
Quanto de um fabricante de azeite...
Herança eterna...
Ela se encantou.
A casa ficou,
Adoecida de intempéries,
Adoecida de abandono...
Sem dona, sem ninguém...
Sobejaram lembranças...
Joaninha Bandeira, seu nome de batismo...
Joaninha dos Padres, batismo do povo.
Dizem que a casa de taipa é teimosa.
Verdade!
Resistem estacas apodrecidas,
Agarradas em torrões de barro,
Os Melões de São Caetano abraçam-na como cobertores de proteção…
Tudo lembra a dona que se foi...
Joaninha dos padres,
Esquecida por todos,
Menos por mim,
Não sei porque nasci assim:
Enxergo melhor os invisíveis,
Acho que meu olho é torto,
Assim penso...
sábado, 9 de setembro de 2023
Entre cachorros e de chapéu na mão, Augusto Severo não tem Pax...
Essas imagens de desprezo e abandono são da praça Augusto Severo, a cinco minutos do centro de Natal, Rio Grande do Norte. Projetada por Herculano Ramos e construída em 1904, no governo Tavares de Lyra, o logradouro tem o nome de um dos orgulhos do povo norte-rio-grandense. Severo foi um cientista aeronauta, autor de estudos aprofundados que contribuíram grandemente com a aviação. Também foi político e professor.
A praça encontra-se em estado caótico. Uma família em situação de rua construiu um barraco no centro da praça e vive ali com vários cachorros. O material de construção exposto está se deteriorando, peças de cobre e ferro da praça foram furtadas recentemente, a vizinhança fez do local um lixão particular, o mato toma conta lentamente,o espelho d’água acumula água que se demora ali toda vez que chove, atraindo mosquitos, já houve furto no Museu Djalma Maranhão situado na praça, que encontra o seu funcionamento prejudicado.
Augusto Severo morreu nos céus de Paris em 1902. O dirigível, construído e pilotado por ele, explodiu violentamente, projetando Severo e Saché (seu mecânico) pelos ares. Os restos da aeronave caíram na Avenida du Maine. A catástrofe teve um impacto enorme. Natália, sua esposa, que assistiu à queda, não se recuperou e, após retornar ao Brasil, suicidou-se com um tiro no coração. A configuração proposta por Severo, de um dirigível semirrígido, foi revolucionária e influenciou o desenvolvimento dos dirigíveis nas décadas seguintes. Tive o prazer de ser um dos brasileiros que receberam os restos mortais de Augusto Severo no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte aqui em Natal.
Pois bem, esse insigne homem é topônimo em vários espaços públicos, num município potiguar e na citada praça, uma das mais antigas de Natal, divisando a Ribeira da Cidade Alta, cercada de obras de arte da arquitetura norte-rio-grandense, como o Teatro Alberto Maranhão, a antiga Escola Doméstica, o Grupo Escolar Augusto Severo, a Estação Ferroviária de Natal, o palacete do Coronel Juvino Barreto, dentre outras. Em 1913 a praça ganhou uma estátua de bronze de Augusto Severo.
A reforma está parada há um ano e seis meses. É responsabilidade do Governo do Estado, que alega falta de repasse da UNIÃO há dois anos e seis meses (é só fazer as contas para entender) que deve ser feito por meio do PAC Cidades Históricas. Segundo alguns periódicos, a Secretaria de Infraestrutura do RN diz que já retomou entendimento com o Governo Federal e “há boas perspectivas de solução”, sem apontar prazos. E lá se foram mais seis meses. Só não entendo a burocracia atual para que esse equipamento receba tratamento merecido.
Espero que as autoridades competentes realmente estejam preocupadas, pois se trata do centro histórico. Lembrando que há muitos anos vandalizaram o monumento, roubando do pedestal a placa de bronze com inscrições referentes a Augusto Severo. O local assusta qualquer um, atrapalha o simples ir e vir dos caminhantes e agrava os problemas de segurança, tendo em vista que é um local predileto para drogados e marginais. Contrastante demais ver o belo Teatro Alberto Maranhão ao lado desse cenário feio de desolação, que implica medo em todos.
Uma das últimas fotografias que fiz foi exatamente de Augusto Severo lá de cima, enquanto cachorros brincavam… por mais que pareça irônico, esses animais lhe faziam vigilância, lhe protegiam, pois sem eles seria mais fácil alguém arrancá-lo dali, tendo em vista os tapumes impedindo a visão. Ou seja, a família invisível de mendigos acaba sendo os protetores de Augusto Severo. Então pensei rapidamente “poxa vida, Augusto Severo, um homem tão extraordinário dentro desse caos… E e essa cartola na mão me soa como se ele pedisse a esmola, dignidade e Pax… triste demais”.