Obra da artista plástica Telma Muraro - Óleo sobre tela - paleta e pincel. |
Era uma casinha de taipa guardada na "Floresta"
Aquietadinha às margens da estrada,
Tão insignificante que de invisível era quase toda.
Ali morou uma senhorinha de andar cambado,
Ganhava a vida no azeite de dendê,
Gastava horas naquele mister.
Havia um alpendrezinho na porta da cozinha,
Olhando para o quintal com dezenas de mangueiras.
Ali jazia o fogão à lenha...
Ardia o tempo todo.
Trabalhoso fazer azeite de dendê!
Garrafas de vidro, urupema, panela de barro, colher de pau, molambos,
Funil, pano de prato, fogo, brasas, barriga na pia.
Lenha... lenha... lenha...
Tempo... tempo... tempo...
Azeite vermelho, alaranjado, cor de mel.
O melhor azeite do Sítio Floresta!
Casa de taipa, de adobe, de pau e barro…
Forrada por telhas brancas, feitas nas coxas,
O madeiramento roliço, pretejado de tisna,
Casinha decorada com arranjos de picumãs,
Cheirando a fogo, fumaça e um barro que parecia sempre fresco.
Quintal de mangueiras frondosas,
Coqueiros e dendezeiros...
Cheiro de azeite e café feito no caco na estradinha...
Perfume de Floresta;
Casa linda... museu natural...
Ali residia "Joaninha dos Padres",
Porque as terras vizinhas eram da igreja.
Joaninha de todos e de ninguém...
Escutei dela histórias nunca ditas sequer aos filhos.
Reflexões que tanto podem sair da boca de um filósofo
Quanto de um fabricante de azeite...
Herança eterna...
Ela se encantou.
A casa ficou,
Adoecida de intempéries,
Adoecida de abandono...
Sem dona, sem ninguém...
Sobejaram lembranças...
Joaninha Bandeira, seu nome de batismo...
Joaninha dos Padres, batismo do povo.
Dizem que a casa de taipa é teimosa.
Verdade!
Resistem estacas apodrecidas,
Agarradas em torrões de barro,
Os Melões de São Caetano abraçam-na como cobertores de proteção…
Tudo lembra a dona que se foi...
Joaninha dos padres,
Esquecida por todos,
Menos por mim,
Não sei porque nasci assim:
Enxergo melhor os invisíveis,
Acho que meu olho é torto,
Assim penso...
Nenhum comentário:
Postar um comentário