Essas imagens de desprezo e abandono são da praça Augusto Severo, a cinco minutos do centro de Natal, Rio Grande do Norte. Projetada por Herculano Ramos e construída em 1904, no governo Tavares de Lyra, o logradouro tem o nome de um dos orgulhos do povo norte-rio-grandense. Severo foi um cientista aeronauta, autor de estudos aprofundados que contribuíram grandemente com a aviação. Também foi político e professor.
A praça encontra-se em estado caótico. Uma família em situação de rua construiu um barraco no centro da praça e vive ali com vários cachorros. O material de construção exposto está se deteriorando, peças de cobre e ferro da praça foram furtadas recentemente, a vizinhança fez do local um lixão particular, o mato toma conta lentamente,o espelho d’água acumula água que se demora ali toda vez que chove, atraindo mosquitos, já houve furto no Museu Djalma Maranhão situado na praça, que encontra o seu funcionamento prejudicado.
Augusto Severo morreu nos céus de Paris em 1902. O dirigível, construído e pilotado por ele, explodiu violentamente, projetando Severo e Saché (seu mecânico) pelos ares. Os restos da aeronave caíram na Avenida du Maine. A catástrofe teve um impacto enorme. Natália, sua esposa, que assistiu à queda, não se recuperou e, após retornar ao Brasil, suicidou-se com um tiro no coração. A configuração proposta por Severo, de um dirigível semirrígido, foi revolucionária e influenciou o desenvolvimento dos dirigíveis nas décadas seguintes. Tive o prazer de ser um dos brasileiros que receberam os restos mortais de Augusto Severo no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte aqui em Natal.
Pois bem, esse insigne homem é topônimo em vários espaços públicos, num município potiguar e na citada praça, uma das mais antigas de Natal, divisando a Ribeira da Cidade Alta, cercada de obras de arte da arquitetura norte-rio-grandense, como o Teatro Alberto Maranhão, a antiga Escola Doméstica, o Grupo Escolar Augusto Severo, a Estação Ferroviária de Natal, o palacete do Coronel Juvino Barreto, dentre outras. Em 1913 a praça ganhou uma estátua de bronze de Augusto Severo.
A reforma está parada há um ano e seis meses. É responsabilidade do Governo do Estado, que alega falta de repasse da UNIÃO há dois anos e seis meses (é só fazer as contas para entender) que deve ser feito por meio do PAC Cidades Históricas. Segundo alguns periódicos, a Secretaria de Infraestrutura do RN diz que já retomou entendimento com o Governo Federal e “há boas perspectivas de solução”, sem apontar prazos. E lá se foram mais seis meses. Só não entendo a burocracia atual para que esse equipamento receba tratamento merecido.
Espero que as autoridades competentes realmente estejam preocupadas, pois se trata do centro histórico. Lembrando que há muitos anos vandalizaram o monumento, roubando do pedestal a placa de bronze com inscrições referentes a Augusto Severo. O local assusta qualquer um, atrapalha o simples ir e vir dos caminhantes e agrava os problemas de segurança, tendo em vista que é um local predileto para drogados e marginais. Contrastante demais ver o belo Teatro Alberto Maranhão ao lado desse cenário feio de desolação, que implica medo em todos.
Uma das últimas fotografias que fiz foi exatamente de Augusto Severo lá de cima, enquanto cachorros brincavam… por mais que pareça irônico, esses animais lhe faziam vigilância, lhe protegiam, pois sem eles seria mais fácil alguém arrancá-lo dali, tendo em vista os tapumes impedindo a visão. Ou seja, a família invisível de mendigos acaba sendo os protetores de Augusto Severo. Então pensei rapidamente “poxa vida, Augusto Severo, um homem tão extraordinário dentro desse caos… E e essa cartola na mão me soa como se ele pedisse a esmola, dignidade e Pax… triste demais”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário