OUTUBRO, CONSIDERO-O O “MÊS DE NÍSIA FLORESTA”, E COMO SEMPRE, DISPONIBILIZO TEXTOS E REFLEXÕES SOBRE ELA. ESTE É O PRIMEIRO…
No dia 2 de abril de 1911 o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, sob a presidência do Dr. Desembargador Vicente de Lemos, foi convidado, mediante um ofício enviado pelo Grêmio Literário “Augusto Severo”, para prestigiar a solenidade de inauguração do medalhão de Nísia Floresta no jardim da praça “Augusto Severo” no dia 19 de março de 1911.
Henrique Castriciano, apaixonado pela história de Nísia Floresta, mandou fazer essa obra em Paris, pelas mãos dos artistas Corbiniano Vilaça e Edmond Badoche, e sensibilizou o governador Alberto Maranhão para edificar um monumento nos jardins da praça Augusto Severo, onde a bela peça foi afixada. A propósito, em caráter de conhecimento, Edmond Badoche também fez a obra onde vemos Pedro Velho recebendo flores de uma mulher na praça Cívica além de Augusto Severo.
Pois bem, a ocasião, o presidente do IHGRN nomeou os senhores Pedro Soares, Luiz Lyra e Nestor Lima para representá-lo no evento. Na reunião do dia 16 de abril de 1911, inclusive, o sr. Luiz Lyra declarou que a comissão nomeada para a referida inauguração cumpriu o dever recebido. Esse evento foi muito divulgado. Muitos foram os convidados.
Nesse tempo o município de "Vila de Papary" tinha o Coronel José Joaquim Carvalho de Araújo como Presidente da Intendência. Ele era muito ligado à família Maranhão, e sempre esteve a serviço dessa Oligarquia, inclusive era amigo de Câmara Cascudo e do coronel Cascudo. Não posso afirmar, mas é muito provável que José de Araújo tenha prestigiado o evento, já que a intelectual Nísia Floresta Brasileira Augusta nasceu em Papary.
Esse monumento não demorou muito, pois vândalos roubaram o medalhão, e como não o encontraram mais, mandaram derrubar a base de alvenaria que o sustentava. Atualmente esse hábito de vandalizar monumentos para retirar o bronze é prática de alguns drogados, que também furtam fios de cobre para vender e sustentar o vício. Mas a realidade de 1911 era muito diferente.
Esse acontecimento - na minha opinião - pode ter sido uma forma política de externar preconceito contra Nísia Floresta. Como dizem: "foi coisa mandada". Coincidentemente, nesse tempo, ainda era viva uma inimiga gratuita de Nísia Floresta, mas é necessário ressalvar que essa inimiga gratuita nunca conheceu Nísia Floresta pessoalmente - pois nasceu 29 anos depois dela.
Essa cidadã, por nome de Isabel Gondim, se encarregava de frequentar todos os ambientes natalenses que promovessem homenagens a Nísia Floresta, e entregava uma imensa carta, manuscrita, denegrindo-a. Isso é dito por vários estudiosos, inclusive todos são unânimes em entender essa execração à imagem de Nísia Floresta como fruto de uma inveja doentia, como se ela quisesse ter a notoriedade internacional que Nísia Floresta teve.
Imagine uma pessoa escrever centenas de cartas, à mão, imensas, e sair por Natal à cata de admiradores de Nísia Floresta, entregando essas cartas com o objetivo macabro de tentar quebrar essa admiração.É muita maldade.
E seria “fácil” denegrir Nísia Floresta, pois estávamos numa época de muitos conservadorismos, preconceitos e tabus. Isabel, preconceituosa e conservadora - conforme se percebe em suas obras e no que escreveram sobre ela, pegou logo uma mancha que maculava qualquer mulher. Como dissesse “vou atacar a moral dela”. Veja que loucura. Ela não a conhecia, nunca a viu, e quando escreveu essa carta, Nísia, que residia Rouen, França, já era idosa e morreria um ano depois, sem saber dessa covardia.
Ela já começa dizendo “...a história de vida dessa mulher é de tal modo indecorosa que seria conveniente ficar sepultada entre nós e jamais transpôr as raias do Rio Grande do Norte…”. E no corpo da missiva ela ataca o pai de Nísia “...homem tréfego e de máus instinctos…”, chama Nísia de “adúltera”, acusa-a de plagiadora, atribuindo a autoria de seus livros ao seu segundo marido. Divaga
a ideia de que Nísia montara um cabaré no RJ. Depois torna Nísia
Floresta a Teodora de Bizâncio do Rio de Janeiro “...embora ostentado a
gravidade da viuvez, contudo não renunciou a irregular conducta,
continuou nos antigos desvarios, a principio com certa velada reserva …”
É macabro! Mas o tiro saiu pela culatra, pois o mundo fala sobre Nísia Floresta. E quem fala sobre Isabel? Falam de Isabel, isso sim. Inclusive que Nísia era gênio e Isabel, geniosa. Já que a intenção dela era apagar o nome de Nísia, ela acabou apagando o seu nome e instigando muitos a lerem Nísia e suas obras. Isabel passou grande parte de sua vida nessa doentia "missão", como querendo desdizer o que era dito de bom sobre a sua conterrânea. Particularmente não entendo o objetivo da Isabel.
Mas vamos voltar ao assunto do monumento. Defendo a tese de que o vandalismo se deu por preconceito, pois trinta anos depois o medalhão foi encontrado intacto, num ferro velho. Alguém reconheceu a peça e a enviou ao Instituto Histórico e Geográfico do RN, onde se encontra. Ou seja, nunca houve interesse em "desmanchar" a peça para aproveitar o bronze, como hoje fazem aos fios de eletricidade que contém cobre. Por que a peça só foi localizada em 1941? Por que passou trinta anos sem que alguém aproveitasse o bronze? Creio que essa peça não saiu da praça Augusto Severo e foi direto para o ferro velho. Suponho que ficou com alguém e muito tempo depois a deixaram no ferro velho. É meio estranho isso.
Creio que o interesse foi apenas tentar apagar o nome de uma mulher que incomodava a sociedade preconceituosa, conservadora e cheia de tabus, desenhada nos moldes patriarcais. Para que um monumento em sua homenagem na mais importante praça de Natal? Só sei que Isabel Gondim carregará para sempre o título de ter sido a semente que gerou essa terrível depredação à imagem de Nísia Floresta. É um caso singular na história do nosso estado.
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