Hoje fui informado sobre o vandalismo feito à escultura de Manoel de Barros, famoso poeta sul-mato-grossense, falecido em 2014 aos 97 anos, então residente em Campo Grande Mato Grosso do Sul. Eu o conheci pessoalmente, ainda adolescente, e me apaixonei por sua obra, sua história e sua pessoa. Era um ser divinizado pelo amor. Um adulto que conseguiu acomodar sua infância dentro de sua alma. Quando estive no Mato Grosso do Sul fiz essa fotografia em que apareço "conversando" com ele na avenida Afonso Pena, centro da capital. A obra, impecável, é assinada pelo impecável escultor campograndense Victor Henrique Woitschach (imagino o que ele deve estar sentindo). Ver essa fotografia com o seu pé arrancado dói na alma. É como se ferissem o nosso pai, a nossa mãe, alguém amado. Impossível entender como um ser humano tem coragem de ferir Manoel de Barros um ser que em vida foi o amor em pessoa. Dentre as incontáveis frases desse genial poeta, uma que acho interessante é "O que mais existe no mundo é gente besta e pau seco". Tem que ser muito besta para danificar a escultura de quem é um patrimônio do Brasil, pois, se a intenção foi desonrá-lo, não se atingiu o objetivo. É como rasgar o diploma. Rasga-se o papel, mas nunca o que a pessoa é.
Aqui em Natal, capital do Rio Grande do Norte há algumas esculturas vandalizadas por consumidores de 'crack', segundo me contaram policiais e historiadores. Eles arrancaram diversas placas de bronze e algumas efígies para vender e levantar algum dinheiro para alimentar o vício. Essa é outra página deplorável da história atual. Ninguém faz nada por essas pessoas, e elas vagam como zumbis. Se foi esse o caso, é possível que o "pé" de Manoel de Barros possa ter sido vendido por cinco reais, ou dado a troco de cinco pedrinhas de crack. Esses zumbis não tem noção do que fazem e aumentam a cada dia desenfreadamente. Tanto matam como roubam sem perceber, pois vivem dopados. São capazes de tudo. Enfim, é complexo. Com certeza em breve a escultura será restaurada, mas até quando resistirá? E as outras espalhadas pelo Brasil? Manoel de Barros dizia que "queria reformar o mundo usando borboletas"... O mundo seria outro se cada um de nós pudesse "crescer para passarinho"... Pois bem, encerro aqui, oferecendo o que Manoel de Barros sempre teve: poesia. Ele era, é e sempre será poesia...
Vamos apreciar uma delas...
RETRATO DO ARTISTA QUANDO COISA
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.
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