Eu havia lido Caetés em 1980. Até então conhecia Nísia pelas contações maternas. Eis que cai nas minhas mãos, preparado pela professora Constância, A lágrima de um Caeté, séculos depois - precisamente em 1997. Eis que relendo Caetés, do nosso amigo Graciliano, há uns 15 dias, dou-me com uma identificação isolada, mas curiosa entre as duas obras (não dizem que toda vez que relemos, descobrimos um trecho despercebido?). É nada mais que um encontro de ideias entre o velho alagoano com a papariense de Floresta. Mas muito interessante!
O personagem principal, João Valério, vendo fracassar o sonho de escrever um livro sobre os índios Caetés, e triste por Luísa (viúva fresca) tê-lo recusado em casamento, prosta-se a chorar o seu fracasso assim:
"Não ser selvagem! Que sou eu senão um selvagem, ligeiramente polido, com uma tênue camada de verniz por fora? Quatrocentos anos de civilização, outras raças, outros costumes. E eu disse que não sabia que se passava na alma de um Caeté! Provavelmente o que se passa na minha, com algumas diferenças. Um Caeté de olhos azuis, que fala português ruim, sabe escrituração mercantil, lê jornais, ouve missas. É isto, um Caeté..."
Já a moça da Floresta Brasileira diz assim no seu " A Lágrima de um Caeté:
"Indígenas do Brasil, o que sois vós?
Selvagens? Os seus bens já não gozais... Civilizados? não... vossos tiranos
Cuidosos vos conservam bem distantes
Dessas armas com que ferido tem-vos.
De sua ilustração, pobres caboclos!
Nenhum grau possuis! ... Perdeste tudo, Exceto de covarde o nome infame..."
Pois bem, ambas as obras se distam 84 anos (1849/1933). Românticas. As ideias, porém, são próximas ou idênticas, embora que num parágrafo apenas. Aí reside a beleza da leitura, as conexões, as identificações, os antagonismos... Quem diria que Graciliano e Nísia se encontrariam? Só mesmo os cérebros dos leitores loucos permitem esses namoros literários.
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