“A História muitas vezes é como um prato de louça quebrado, jogado no quintal e, cem anos depois, procurado com muito esforço, cujas partes vão sendo recolhidas, limpas, comparadas, juntadas… e assim reconstituída a peça, cujos fragmentos minúsculos são localizados com muito mais dificuldade, e muitos nunca aparecerão, deixando lacunas jamais respondidas”. Isso acontece com a história do Cel. José de Araújo. A cidade de Nísia Floresta praticamente não sabe nada sobre ele.
Há muitos anos, mergulhado em velhas bibliotecas e instituições guardadoras de documentos, lendo uma coisa aqui, outra ali, fui juntando fragmentos sobre o Cel. Joaquim José de Carvalho e Araújo. Confesso que é o objeto de pesquisa mais difícil que já encontrei.
Hoje de manhã, recebi uma ligação do Sr. Aluísio Lacerda, coordenador do Memorial da Assembleia Legislativa. Ele explicou que vem pesquisando no meu blog, e queria saber se além de dois padres que foram deputados provinciais, e do Dr. Antonio de Souza, que foi deputado estadual e governador, que cito em alguns textos, existiam mais outros nisiaflorestenses que foram parlamentares. Então eu informei que existia o Coronel José de Araújo, que exerceu o cargo de deputado provincial (hoje equivale a deputado estadual), por mais de cinco legislaturas.
Então expliquei para ele que faço essa pesquisa há anos, mas, como costumo dizer, “com a mesma pressa dos poetas: detesto escrever por encomenda”. Na realidade, o texto já está cronologicamente organizado, mas com algumas lacunas. Recentemente descobri a data do seu falecimento. Falta a data do nascimento. Mas, enfim, ainda não publiquei, embora trago bastante informações inéditas sobre o velho intendente.
Um intelectual potiguar conta que achava o Cel. José de Araújo muito parecido com o Barão do Rio Branco, e de fato há muita semelhança. Ele era irmão de Acúrcio Marinho de Carvalho e Araújo, donos do Engenho Boa esperança, na comunidade do Porto. Infelizmente hoje não existe nem mais os alicerces, mas foi um empreendimento bem próspero.
Cel. José de Araújo era um fiel aliado de Pedro Velho. Vivia em Natal, nas rodas políticas e nas festas de gala. Vestia-se impecavelmente. Era um homem muito branco e trazia as maçãs do rosto bem rosadas. Suponho que ele era filho de portugueses. Foi amigo do pai de Câmara Cascudo dentre inúmeras figuras de escol.
Era defensor ferrenho da Oligarquia Maranhão e, assim como ocorreu à sua função de presidente da Intendência da Vila Imperial de Papary - cargo dado pelo Presidente da Província (Governador) - da mesma forma ele foi alçado aos mandatos de deputado provincial - cargo também dado pelo Presidente da Província (governador). Essa escolha se dava justamente por sua fidelidade, e pelo fato de ele defender os “Maranhão” com unhas e dentes. Obviamente que era inadmissível que um cargo tão cobiçado e de grande status fosse dado para um político duvidoso (não era o caso do Cel.).
Ser presidente da Intendência significava ter os votos na palma da mão, garantindo a eleição dele próprio e do governador da província, e isso só acontecia pelas famosas “brejeiras”, ou seja, votos de cabresto, cujos papéis iam para as urnas já preenchidos com os nomes de quem eles queriam, ou eram preenchidos depois, acaso ocorresse qualquer traição. E para que tal maracutaia fosse certeira, o presidente da província devia ser a “pessoa de confiança” do presidente da província.
Quem diz que hoje a política em Nísia Floresta é um balaio de gatos, precisa ter conhecido os fatos passados na Vila Imperial de Papary, envolvendo o Cel. José de Araújo. Pense numa história cabeluda! Opositor para ele era o mesmo que o diabo. Ele não tolerava, e assim como Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, presidente da província (governador, no dizer de hoje), que perseguia quem não se aliasse aos seus projetos políticos, como fez ao professor e Jornalista Elias Souto, dono do primeiro jornal de São José de Mipibu, que depois se tornou o Diário de Natal, se precisasse, o Cel. José de Araújo recorria aos recursos bélicos, conforme está registrado nos anais da História. O pobre Elias Souto era cadeirante, e Pedro Velho o transferiu para o Caixa Prego, pois ele era professor concursado. Assim, teve que renunciar ao cargo.
Cel. José de Araújo era fogo na roupa… mas, para não dar spoiler, fica aqui apenas essa entrada. Depois virá a refeição completa. Estou precisando apenas de um dado que considero muito importante, e quero publicar já com essa informação.
Pois bem… eis que hoje recebo essa ligação e passa todo esse filme na minha mente. já estava esquecendo de dizer. Amanhã, conforme esse senhor me disse, estará indo a Nísia Floresta com uma equipe, cuja Assembleia Legislativa fará um evento naquela cidade em fevereiro, e certamente irão lá para rascunhar os primeiros croquis. Boa sorte aos envolvidos!
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