Certa vez – durante a fatídica Ditadura Militar – tentaram calar a boca de um escritor, esquadrinhando os seus escritos, censurando trechos antes que suas palavras fossem impressas e chegassem às grandes massas, de maneira que seus textos ficassem parecidos com uma tabuada. Então ele passou a explorar paráfrases, metáforas, figuras de retórica e uma infinidade de recursos como estratégias para continuar informando o leitor com verdade.
O seu domínio com as palavras era tão extraordinário que ele continuou dizendo tudo o que queria, mas de maneira diferente... Ele entortava as sintaxes, tingia os verbos, lixava os pronomes, envernizava os substantivos, diluia as semânticas... conseguia desaparecer a escrita do lugar comum - e que lhe seria prejudicial pela censura militar – fazendo aparecer uma escrita dos lugares incomuns como o Sol. Assim ele nascia neologismos e erudições que os militares não identificavam, pois traziam os cérebros comprometidos com pólvora, afinal a cognição da maioria deles tem fundamentos com galinhas.
Ele seguiu dizendo e se comunicando com o leitor. E dizendo bem dito. Talvez até melhor. Mesmo sob a vigilância militar. Ele tinha o poder de espiritualizar as palavras com uma poética que dissipava as pistas recriminadas. A alma era a mesma. Sua escrita assumia foros de fumaça, pois a alma é uma fumaça, uma ectoplasmínia...
Então ele enobrecia a alma das palavras. Acomodava as palavras com a destreza de quem constrói uma parede de pedras. Sua maestria era tanta que até hoje esses velhos textos são jovens. Não dizem que alma não envelhece?
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