Em 1855 a febre amarela retomou sua maldição sobre a cidade do Rio de Janeiro. Houve muitas mortes. Nísia Floresta havia perdido a mãe - Antonia Freire - nesse ano. Estava muito abalada. O Rio de Janeiro parou. Nesse tempo suas ruas eram insalubres. As carruagens e carroças puxadas por cavalos promoviam uma lama de fezes e urina pelas avenidas e becos. O Rio fedia. A doença, assim como hoje, promoveu total isolamento social. Mas Nísia Floresta não conseguiu ficar em reclusão. Ela se apresentou como voluntária na enfermaria do Hospital Nossa Senhora da Conceição, que ficava na rua da Quitanda, n. 40, tornando-se uma grande colaboradora dos médicos e enfermeiros (Câmara).
A epidemia foi anunciada no Brasil em maio de 1855, logo depois que aportou em Belém, no Pará, uma embarcação de Portugal, O Defensor, que trazia colonos do Porto, onde já grassava a epidemia. Os registros oficiais apontariam a galera como o ponto de propagação da infecção, tendo falecido durante a viagem 36 passageiros. O alerta inicial sobre a epidemia foi entretanto refutado pelo médico que atuava como inspetor local, e o navio, liberado. Logo em seguida, os casos se alastraram por Belém, totalizando 1.009 mortes na cidade e mais cinco mil na província do Pará.
De lá, a epidemia rumou para outras províncias do norte do Império, incluindo Amazonas e Maranhão. Da Bahia, onde surgiu devastadora, ela atingiu Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte e Pernambuco. Quatro meses após o anúncio da presença do cólera nas províncias do norte do Império, ele se havia alastrado para diversos municípios da província do Rio de Janeiro. Só no Rio de Janeiro morreram 4.828 pessoas. A peste findou em maio de 1856. Essa é uma página curiosa da vida da nossa Nísia, e nesse momento de pandemia, nada mais oportuno que trazer luz sobre a mesma, pois reforça a sua personalidade altruísta e corajosa, afinal não é para todos se meter numa multidão moribunda, vitimada por algo transmissível. E saiu ilesa. Esse registro nos foi dado por Adauto da Câmara, primeiro biógrafo de Nísia Floresta. Como sabemos, ele recebeu um amplo material manuscrito de Henrique Castriciano, que esteve com Lívia Augusta de Faria Rocha, filha de Nísia. Esse encontro permitiu-lhe recolher um vasto material sobre ela, inclusive algumas minúcias, detalhes esparços, que jamais saberíamos se alguém muito próximo não os tivesse dito. Castriciano pretendia escrever essa biografia, mas era muito doente e vivia em constantes crises. Bom que ele teve a generosidade intelectual de repassar o acervo para Adauto. Inclusive os retratos que se têm de Nísia Floresta foram repassados por ele. Sem Henrique, sem Adauto, diríamos "sem retratos de Nísia".
Ref. "História de Nísia Floresta, Câmara, Adauto da, ed. Pongetti, 1941. RJ
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