Aproveitando o mês dedicado aos povos indígenas do Brasil, compartilho uma história muito preocupante, que tomei conhecimento, hoje pela manhã. Por uma questão ética, não vou nominar o local nem as pessoas envolvidas, mas afirmo com convicção, que uma história dessa precisa ser contada. Eu iria escrever tal episódio amanhã, mas não aguentei. Não dá!
Ontem uma equipe de agentes de saúde deslocou-se até uma determinada comunidade indígena Guarani-Kaiowá para vaciná-los e teve uma surpresa desagradável e preocupante. A maioria correu para o mato e desapareceu. Um dia antes, os mais velhos da comunidade inventaram uma viagem para uma outra aldeia. Na realidade, foi uma desculpa para fugir da vacina.
Os indígenas que ficaram e atenderam a equipe da saúde também não quiseram ser vacinados. A equipe ficou indignada, e com muito cuidado, usou todos os argumentos possíveis para tentar sensibilizá-los. Estou dizendo “muito cuidado” porque os povos indígenas referidos são muito hostis com aquilo que não gostam. E por “não gostam” entendam até mesmo ser salvar a própria vida e outras coisas mais. Na realidade é algo imprevisível.
Outro detalhe: não se generaliza, mas estes indígenas, em especial (trazendo tal comportamento para a cultura do homem branco) são muito desconfiados. Não sei o que o fator “ser desconfiado” significa exatamente para a cultura deles, mas realmente agem dessa forma com facilidade. Interpretam e fazem leituras sobre o que vem do homem branco sem que seja exatamente o que supõem. Mas o pior dessa história é a justificativa que eles usaram para não tomarem a vacina. Disseram que o pastor disse na igreja que eles não tomassem, pois teriam desagradáveis consequências tendo em vista ser um vírus chinês, fruto de laboratório e coisa de comunistas.
Na realidade esses indígenas em especial, não fazem ideia do que seja “vírus”, “chineses”, “laboratório” e tampouco “comunistas”, pois embora transitem na cidade e se misturem aos brancos, são 90% pessoas do mato. É algo deles. Não se explica. Mas a palavra do pastor é como se fosse uma palavra divina. Tanto é que todos os argumentos usados pela equipe da Saúde não tiveram efeito nenhum sobre eles, pois eles não são pastores evangélicos, ou seja, não são "ungidos". Vejam até que ponto um pastor pode influenciar equivocadamente uma igreja. A irresponsabilidade desse cidadão é imensa, pois ele está indo contra a Saúde Pública e colocando esses indígenas em risco de morte.
A equipe da saúde se retirou da comunidade. As autoridades ligadas à defesa dos indígenas estão tomando providências, até porque é um caso muito crítico. Tais vacinas são direcionadas para eles. O que fazer com essas vacinas? Desviá-las? O que fazer para conseguir convencer os indígenas a se vacinarem? Se continuarem hostis deverão ser vacinados à força? Até que ponto isso é ético/legal etc?
Na minha insignificante opinião tal pastor deveria ser convocado a ir até a comunidade indígena e desdizer a sua fala, até porque ele criou um problema muito grave. É uma opinião pessoal dele, mas ele a incutiu na mente de pessoas ingênuas. Não bastasse um presidente da república dizer que quem tomar a vacina vai virar jacaré, aparece um pastor com tal desserviço.
A garantia da vacinação a todos os brasileiros é uma forma de garantir dos direitos preconizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). São direitos de acesso universal e integral à saúde, que atendem às necessidades das comunidades e envolvem os indígenas em todas as etapas do processo de planejamento, execução e avaliação das ações em saúde. Ninguém pode intervir nisso, impedindo o direito de se imunizar nossos irmãos indígenas em nome de delírios religiosos.
Pois bem, é complicado essa questão de igrejas interferirem em ações do estado. O pior é que tais pastores, salvo raras exceções, são danados para dizer que tiveram uma revelação divina. Outras, pelo que se vê, parecem ter o número do telefone de Deus. Para uma mente ingênua ou sem muita leitura, a persuasão é instantânea. É nessas sandices que findam causando tamanho imbróglio. Finalizando, sobre os indígenas que desapareceram na mata, eles reapareceram muito tempo depois que a equipe da saúde se retirou.
OBS. A imagem é meramente ilustrativa (domínio público)
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