Quem é de Nísia Floresta vai se lembrar do que vou contar abaixo. O episódio ocorreu em 2009. Refiro-me ao dia em que os moradores avizinhados à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó tiveram um susto quando houve um estrondo nas proximidades, e deram conta ter sido no altar desse templo.
O barulho atraiu a atenção de todos os que estavam por ali naquele momento. Eu encontrava-me num prédio próximo dali. Saí, rápido, dando conta que outras pessoas já se aglomeravam à porta da Matriz.
Confesso que "meu coração veio até a boca”. É interessante como o ser humano é ‘imaginoso’, pois um filme de trágico passou pela minha cabeça. Pensei que o imenso lustre de prata tinha se soltado, que os santos tinham despencado, que algum daqueles adornos folheados a ouro tinha vindo abaixo, enfim o estrondo – ampliado pelo eco – fez com que mil coisas fossem pensadas em fração de segundos, até que me deparasse com o que de fato ocorrera.
O estuque, ainda ao modelo daquelas peneirinhas, desabou, atingindo a cadeira central. Não houve danos maiores, exceto o desenho ornamental em alto e baixo relevos que virou “metralha”. Por sorte a minha mania de fotos tinha o registro do teto da Matriz. Desse modo, foi-me confiada a tarefa de transferir o desenho, em tamanho real, para o papel.
Logo foi providenciado o reboco e em seguida a confecção do referido adorno, tendo como molde o desenho que ampliei usando a técnica de quadriculado. O grande problema era encontrar uma pessoa capaz de fazer esse trabalho. Por incrível que pareça, um dos pedreiros que estavam ali disse que conseguiria executá-lo. Lembro-me que o administrador da Matriz, padre Inácio Henrique disse que ele “tentasse”. Se o resultado ficasse ruim, buscaria-se outra alternativa. O rapaz alegou que era impossível errar mediante o molde em tamanho real. Dito e feito. O desenho ficou tal qual a fotografia. Por que estou escrevendo isso, tendo passado quatro anos?
Estou escrevendo para “refrescar a memória” dos que entendem os fatos de forma equivocada e tentam confundir a mentalidade popular. Outro fato que reforça a ideia de zelo às coisas da Matriz deu-se pouco tempo depois, quando deparei-me com a parede sendo “cavoucada” para se construir um nicho para abrigar a imagem original de Nossa Senhora do Ó. Arrancaram as pedras originais – colocadas ali em 1735, jogaram no fundo quintal e deram início a construção do desnecessário nicho.
Sobre o assunto do nicho, na mesma hora telefonei para a Fundação José Augusto e informei o ocorrido, tendo a instituição designado funcionário que desautorizou a continuidade da “obra”. A orientação não foi obedecida. A única coisa positiva, e que consegui abortar, foi a construção de outro nicho na outra parede, em linha reta, que estava previsto (insanidade esta idealizada por um cidadão local).
À época fui muito criticado, pois as pessoas tendem a gostar mais das atitudes silenciosas e acovardadas, por parte de pessoas que fazem vistas grossas a absurdos desse tipo (e piora quando são de autoria de “autoridades”). Mas o que me importa realmente é de estar fazendo a coisa certa.
Hoje, quando protesto contra a forma equivocada como vem ocorrendo às obras da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó, aparece gente tentando confundir o pensamento das pessoas mais humildes na tentativa de “demarcar terreno” de cunho político partidário e outros objetivos mesquinhos, tendo, ainda, o desplante de atribuir a mim a atitude que a ela pertence.
Não sou contra a reforma (isso está implícito no meu texto). Sou contra a forma como ela vem ocorrendo, pois não existiu a preocupação com um patrimônio de incalculável valor, pois ficou exposto (as fotos comprovam, inclusive essa, acima). A Matriz possui imagens raras, folheadas a ouro, que não podem ser expostas à luz do sol nem aos riscos que ficou. São nichos folheados a ouro que correm o risco de se molhar ou se estragar acaso despenquem ripas ou telhas que estão sendo tiradas. Tais peças foram feitas à mão. Seus vidros são artesanais e impossíveis de serem restaurados acaso se quebrem. São paredes que não podem receber água de chuva. É um piso raro, de azulejo hidráulico, exposto ao peso de andaimes, sequer protegidos por lona. Tudo isso estava exposto enquanto os pedreiros desmanchavam o teto. Montes e montes de telhas, em “metralha” se espalhavam pelo piso enquanto outras desciam por uma tábua. Foi inacreditável o que eu vi.
Não ignoro os esforços empreendidos pelos fiéis na execução de campanhas para custeio das obras e coisas afins. Sei que são difíceis. Já participei de muitas. O que ignoro e reprovo é o fato de as pessoas (algumas) não entenderem que uma reforma desse porte não pode se dar na perspectiva acanhada como ocorre. É inadmissível admitir que algumas pessoas achem certo que madeiras raras e caríssimas (como ipê e outras) sejam substituídas por madeiras comuns, que durarão, talvez, uma década.
Uma campanha como essa não pode ficar meramente na alçada de uma comunidade pobre, mas numa perspectiva incomparavelmente superior, envolvendo a Petrobrás, Fundação Roberto Marinho, bancos privados, iniciativa privada, governo federal e estadual etc, programados, obviamente, com muita antecedência. Se tivessem me procurado, no tempo hábil, eu teria reservado um tempo para construir um projeto nos moldes ideais – com a participação da FJA – IPHAN e UFRN - levando-o aos órgãos competentes, para depois postular a reforma nos moldes dignos, com os devidos patrocínios.
O correto, em se tratando do tesouro que é a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó, é construir uma estrutura de metal sobre a Matriz com telhas de zinco – provisoriamente – e esvaziar o templo completamente, para só depois destelhá-la e arrancar todo o madeiramento. Fico pasmo com as visões diminutas de alguns. Agem como se reformassem um galpão velho do sítio. É uma igreja de 1735! Agora, vendo pessoa equivocada propagando que minha atitude objetiva promoção pessoal e política, só tenho a sentir pena, nada mais. É muita ignorância (ou outra coisa que desconheço – mas suponho aqui com os meus botões).
Finalizando, digo apenas a pessoa equivocada e desprovida de bom senso, que vá se informar sobre os meus feitos em Nísia Floresta, leia, estude antes de propagar maldades guardadas em coração recalcado. O meu cuidado com a Matriz não é de hoje! E não cessará agora. Aliás, o meu cuidado com o patrimônio material e imaterial de Nísia Floresta remonta décadas. Sua maldade me motiva a continuar respeitando o povo e o patrimônio de Nísia Floresta ainda mais. Sei que se você pudesse mandaria matar-me. Tente!
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