A casa adiante é onde residia a senhora Liquinha. Acervo pessoal: Luís Carlos Freire |
Quando iniciei minhas pesquisas na oralidade nisiflorestense, ouvi alguns nativos mais longevos se referindo a "estrada dos índios” (esse trecho da fotografia em preto e branco). Dona Leonísia, avó de Cida, Sr. Vicente Marinho, dona Estelita Oliveira, dentre tantos nativos velhos.
Embora a referida fotografia conte apenas 51 anos, ela congela originalmente um retrato do século XVIII. Na verdade, a “Estrada dos Índios” se dá exatamente no entroncamento com a avenida João Batista Gondim (logo após a casa que se vê na fotografia, (em preto e branco datada de 1968. Obviamente que a estrada dos índios é a estrada que liga São José de Mipibu a Nísia Floresta (precisamente, ao Vale do Capió), acesso à "Ilha".
Mas por que "estrada dos índios"? Porque era a passagem dos moppobus para suas famosas roças que se esparramavam nesses vales que compreende a "Granja Ilha" e o local onde estão os deploráveis viveiros de camarões.
Trazendo-a à atualidade, do lado direito está o "Camarão do Olavo", do outro, a granja do sra. Jarilda Procópio, sobrinha da Yayá Paiva. Bem encostado a esse entroncamento estava erguido o casarão onde viveu a Sra. "Liquinha", famosa parteira que trouxe ao mundo uma porção de velhos que ainda respiram os ares paparienses. Após essa curva, do lado direito, embora não esteja na fotografia, ficava a casa da sra. Roseira, sobrinha da Yayá Paiva, construída em 1932, conforme assinalava em alto relevo em seu frontispício.
Casa da senhora Roseira, demolida pelo prefeito João Lourenço Neto. Acervo pessoal: Luís Carlos Freire - fotografia feita em 1998. |
A Estrada dos índios tem esse nome exatamente porque era o caminho que os índios percorriam para chegar às suas roças. Esse detalhe é tão importante que deveria ser um espaço-marco, ou seja, constar um monumento com placa informando o importante dado histórico ao povo. Uma peça de granito com placa de bronze com inscrições pertinentes agregaria valor à história local.
As crianças e jovens devem saber que ali transitavam os seus ancestrais, pois muitos paparienses e moppobuenses são seus descendentes diretos. O Vale do Capió, muito antes de ser o famoso plantio de hortifrutigranjeiros que abastecia os Ceasas de Natal e João Pessoa, já era o berço das roças dos nossos irmãos nativos, verdadeiros donos dessa terra. Ali eles plantavam inhame, macaxeira, mandioca, batata-doce, jerimum, fruta-pão, cajá-manga, jenipapo, banana e tanta fartura. Gosto de dar essas sugestões porque de vez em quando alguém as executa (como ocorre ao contexto da história da Campanha da Fraternidade).
Infelizmente, Papary teve muitas de suas páginas encobertas pelo ácaro e pó do esquecimento. Que tal levarmos as crianças para passear nesse caminho antigo, ancestral e cheio de significações... (8.8.2014)
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