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Fuxico
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Maricota confeccionava lindas peças de fuxico,
Arranchada no batente da sala,
Outrora, na cadeira da varanda, fazia colchas de retalho.
Outrora, na mesa da cozinha inventava fazer tapete.
O que Maricota gostava mesmo é do fuxico.
Quem chegava, encomendava,
E levava sempre algum fuxico velho.
Enquanto Maricota fazia fuxico, fuxicava.
Enquanto fuxicava, fazia fuxico.
A casa era cheia de fuxico.
Tem fuxico no guarda-roupa,
Fuxico na cama,
Fuxico no berço do menino,
Fuxico no sofá,
Fuxico nos tapetes...
Fuxicos tantos que ela se confundia com fuxico.
Mas o melhor fuxico estava dentro dela,
Guardado no labirinto de suas malícias.
Maricota olhava, pensava e pronto...
Estava arquitetado o fuxico,
Bastava matutar.
Dizem que seus fuxicos eram inventados,
Eram peças criadas por ela.
Também falavam serem copiados de outros fuxicos.
Ninguém sabia exatamente.
Mas havia fuxico de sobra onde ele estivesse.
A mãe de Maricota foi exímia nesse engenho.
O mundo inteiro conheceu "Dorinha do Fuxico".
Contam que a filha fazia fuxico desde as fraldas,
Na base do fuxico, o fogão ardeu muita panela cheia.
A avó costurou-se no fuxico.
A bisavó bordou no fuxico
A tataravó alinhavou-se no fuxico.
Quem entrava na casa de Maricota, levava fuxico.
Sua vida foi bem cerzida no fuxico.
Maricota não sabia costurar um dia sem fuxico.
Seu velório foi tecido no fuxico.
Não havia rendas nem mortalha no caixão
Tudo... tudo de fuxico...
Os conhecidos madrugaram no fuxico.
O enterro foi um babado de fuxico.
Nas resenhas do cortejo, questionavam:
Afinal, Maricota foi ou não, fuxiqueira?
Isso, na verdade, ela levará para a eternidade...
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