Em 1934 a pacata "Papary" elege um prefeito integralista: José Hermógenes de Oliveira. Isso se deu há 89 anos. Ele é o segundo da direita para a esquerda (nessa fotografia com menos gente defronte ao Paço Municipal). A cidade parou para assistir ao desfile dos integralistas no largo da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Ó. Ninguém sabia o que era aquilo, exceto Carlos Gondim mais meia dúzia de paparyenses.
Uma centena de renomadas autoridades natalenses e de outros rincões potiguares se espicharam até a terra onde nasceu uma das figuras mais importantes do Rio Grande do Norte, mas ela já havia falecido há 49 anos. Se viva, suponho teria olhado para a cena com cara franzida... mas isso é outra história!
Houve grande concentração no
centro da cidade, exatamente onde se espraiava um gramado tão verde quanto as
camisas que eles - integralistas - usavam. Contam, os velhos de Papary, que
esse local se transformava num atoleiro quando chovia. "A água minava como
uma nascente antes de fazer a praça, mas no verão a gente fazia até vaquejada,
ficava seco", nas palavras de Pedro Araújo (1992).
Exatamente nesse local fincaram a
praça Coronel José de Araújo. Uma multidão
curiosa deixou tudo o que fazia para assistir a novidade como se televisão
fosse. A maioria não sabia um centímetro sobre o "Integralismo", mas
diante dos discursos acalourados, era todo mundo animado, aplaudindo, gritando,
ovacionando e achando bonito aquele povo todo fardado, lembrando militares.
Para a população, a impactante
imagem daquela multidão de homens vestidos com o mesmo uniforme, com uma faixa
no braço direito constando o símbolo do Integralismo, era o bastante para provocar-lhes emoção e se demorar em
contemplação. Os integralistas fizeram um barulhão. Houve discursos, braços em
riste e gritos de "ANAUÊ!" ("Você é meu irmão!"), gesto
semelhante ao que os nazistas faziam (e seguem fazendo) a Hitler, quando
gritavam (e gritam) "Heil Hitler!". Depois do vavavu a multidão
forasteira desapareceu na mesma rapidez como apareceu.
Pois então, Integralismo é uma
corrente que se aproxima muito do fascismo no papel de enxergar as instituições
no seu eixo civilizatório, como a religião (em especial a católica), exaltação
às Forças Armadas e outros detalhes mais. Isso não te lembra alguma coisa? Pois
é! Com certeza a ideologia de Plínio Salgado, criticada ou não, deixou sua
marca na terra dita "do camarão".
Hoje ninguém fala mais disso,
afinal passaram-se 89 anos. Quem sabe existe algum longevo idoso que guarde
pedaços de lembranças desse dia, como foi o caso da Sra. Leonísia, que me
narrou o fato em 1993. Ela presenciou o fato. Tinha 23 anos de idade no dia
desse vuco-vuco. Existir uma testemunha hoje é quase impossível. Quem se
candidata a procurar?
Pois é, na antiga Prefeitura Municipal havia (ou ainda há, não sei!) uma Galeria de ex-prefeitos disposta na parede, logo na entrada, organizada no início da década de 1990, mas, curiosamente, não consta a fotografia do ex-gestor Hermógenes de Oliveira que, devo dizer, foi da Guarda Nacional, era muito amigo do Cel. José de Araújo e pai do ex-prefeito José Ramires (in memorian). Muitos que escreveram a Historiografia Brasileira relacionam o Integralismo ao fascismo. Teria sido intencional a exclusão do velho Hermógenes? Foi esquecimento ou falta de conhecimento? Fica para os historiadores... (7.2.1996 - reescrito em 2023).
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