Filha de Dom João Izaías de Macêdo e Maria Peixoto de Macedo uma das famílias mais antigas e ricas de Parnamirim, Maria das Graças de Macedo é o nome dessa bela criança agarrada à boneca de louça. Em setembro de 2018, recebi Graça - hoje com 67 anos de idade -, e Sônia, sua irmã, residente em Guaratinguetá, São Paulo.
A conversa, despretensiosa, se deu no Teatro Municipal de Parnamirim, de maneira que, ao longo de umas duas horas, colhi as informações que jorravam de ambas, as quais me pareceram irmãs muito unidas, crescidas juntas. As recordações da infância e adolescência delas fluíam, abundantes, surpreendendo-me pela química entre elas. Ora uma completava ou complementava a frase da outra, ora esquecia o nome de alguém ou determinado dado e a outra se lembrava, tanto era a verdade contida naqueles testemunhos. E o grande trunfo desse momento de História Oral é que ambas foram protagonistas daquelas narrativas. E eu ali, jogando tudo no papel para depois destrinçar o texto que ora você está lendo. Obviamente que o registro não se trata de uma biografia, apenas retalhos de memórias.
O quarto de Graça e Sônia era repleto de brinquedos, sonho de consumo das crianças dessa idade. Naquele tempo as bonecas de louça eram importadas, normalmente da Alemanha, portanto um brinquedo sofisticado e, infelizmente, inacessível à muitas crianças. Sua mãe encomendava roupas e brinquedos numa sofisticada loja da Ribeira, “A Despensa Natalense”, situada na rua do Comércio, hoje Rua Chile. Por coincidência, pertencia ao casal Manoel Machado e Amélia Machado, doadores do terreno onde se ergueu o campo de pouso de aviões, que se tornou a Base Aérea de Natal e as terras onde município de Parnamirim se espraiou.
Embora Graça e Sônia nasceram uma década depois do advento da chegada dos norte-americanos, para instalar a Base Aérea, elas contam o que ouviam dos pais, os quais testemunharam a presença deles e tudo o que desencadeou nas imediações. Elas disseram que Parnamirim era um local ainda acanhado, praticamente um bairro de Natal na década de 40 e tudo era muito diferente. A cidade engatinhava, tímida e bucólica, com ruas de areias alvas como praia,
Nas palavras de Graça: “Mamãe mandava a empregada dar banho na gente, ficávamos bem bonitas e perfumadas dentro de casa mesmo, nosso pai também costumava sair conosco eventualmente para passear. Parnamirim toda era um tabuleiro. Não existia quase nada por aqui. Ver os aviões descendo já era um divertimento para quem nunca tinha visto aquilo... ir ao aeroporto era um passeio...”.
Maria das Graças, a bela menina, se tornaria uma linda moça e seria eleita rainha de Piranji, no Clube de Piranji. No evento estava o governador Sylvio Piza Pedrosa, amigo pessoal de Dom João, dentre outras autoridades que, naquela época, valorizavam muito esse tipo de evento. Hoje, Maria das Graças tem 67 anos e nunca deixou de residir em Parnamirim.
O casal Dom João Izaías de Macedo e Maria Peixoto de Macedo foi um dos primeiros moradores de Parnamirim. Em 1939, ele adquiriu uma grande área de tabuleiro no centro de Parnamirim. Ali construiu um belo palacete, comparado aos padrões de época. Era a casa mais bonita e luxuosa da localidade. Ficava exatamente na esquina, onde atualmente está erguido o “Shopping Parnamirim”, ao lado do Fórum.
Todo o quarteirão pertencia a ele. Havia uma parte separada da casa, por cerca, onde ele acomodava o gado que vinha das áreas rurais e seria abatido para vender em seu açougue e na Base Aérea. Dom João foi proprietário do primeiro açougue de Parnamirim. Nas imediações de seu palacete, Dom João também construiu um parque de vaquejada. Até hoje há um imóvel nesse quarteirão, na esquina oposta ao shopping, pertencente a um dos seus filhos, cuja casa de morada fica nos fundos. Até pouco tempo essa casa se destacava no local, pois tinha uma característica dos anos 40. Hoje, a parte da frente consiste de casas comerciais que ele aluga.
Dom João faz parte de uma família muito antiga de São José de Mipibu, a qual reside nesse município até hoje. A família Macedo também perpassa por Goianinha. Embora não se saiba com exatidão – até porque desconheço a genealogia dos mesmos –, suponho que tenham ascendência portuguesa. Eles sempre foram proprietários rurais. Em Parnamirim Dom João dedicou-se ao abatimento de carne de boi e ao ramo de açougue. Em 1942, quando os norte-americanos aterrissaram na região, durante a Segunda Guerra Mundial, ele tornou-se o principal fornecedor de carne à Base Aérea Norte-Americana.
Dom João e sua esposa eram muito caridosos e ajudaram muita gente que chegava a Parnamirim para trabalhar na Base Aérea, oriundos do sertão, do Seridó do Rio Grande do Norte e da Paraíba. Muitos retirantes tiveram nele o porto seguro, pois ele fornecia os miúdos dos animais para os pobres que chegavam de todos os lados à procura de emprego, num tempo em que a seca consumia tudo, cuja ajuda de Dom João muitas vezes consistiu no único alimento que muitos pobres poderiam contar. Naquela época as partes como vísceras, fígado, rim, coração, passarinha, mão e pé do boi eram consumidas pelas pessoas realmente mais simples. Assim ele deu de comer a muitos.
Dom João era querido pelos militares, inclusive alguns oficiais, talqualmente Dom João, eram simpatizantes de vaquejada, esporte muito praticado na região. Um deles viajava todo o Nordeste e Norte do Brasil com D. João e levava os cavalos para participar de vaquejada. Os melhores cavalos de D. João embarcavam nas aeronaves no Campo de Parnamirim e partiam para onde estivesse acontecendo grandes vaquejadas.
Dom João faleceu em Parnamirim aos 31 de outubro de 1988. Sua esposa faleceu em 20 de setembro de 1990. Hoje é um homem esquecido, mas alguns poucos octogenários, parnamirinenses, ainda se lembram deles. Entretanto, o esquecimento não apaga essa página real da história, pois esse casal foi um dos pioneiros de Parnamirim. No bairro Vale do Sol há uma rua com o nome de João Izaías de Macedo. A esposa, Maria Peixoto, só é lembrada em seu epitáfio (eis a sugestão para que algum vereador lembre desse nome pioneiro, quando abrir algum loteamento no município. Ela, que, nos primórdios de Parnamirim, alimentou a tantos que ali chegavam, sem nada, somente com esperança de uma vida melhor. Excetuando isso, ninguém se incumbiu de dedicar-lhes uma crônica, um texto, nada. Infelizmente a história também comete injustiças. L.C.F. 17.5.2018.
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