Os botânicos dizem que o fruto é do reino “plantae”, espécie C. Brasiliense, da família Caryocaraceae, classe Magnoliopsida, ordem Malpighiales, divisão Magnoliophyta. Mas não precisa toda essa latinidade para dizer - a quem não conhece - que “Pequi” é um fruto. Tem formato de um grande cajá ou um embu, cuja polpa é densa e firme.
A cor é essa vista na fotografia. O fruto se forma dentro de uma proteção/cápsula, semelhante a um coco meio deformado, todo verde embranquiçado. É uma capa grossa. Quando maduro a proteção se abre um pouco, permitindo que se retire o fruto que pode ser consumido, que é exatamente o “pequi”.
Cada bola tem até cinco bagos, mas é mais comum trazerem três belos frutos. O cheiro é bastante peculiar. Mata que tem pequiseiro se localiza a árvore pelo olfato. Pequi, para mim, tem cheiro de infância, cheiro inigualável do fogão a lenha e sabor inconfundível das comidas da minha mãe. Quando criança, íamos à mata colher pequi. Minha mãe usava eventualmente no preparo do arroz ou do frango, ao modo dos flagrantes dessas fotografias.
Conservei essa tradição materna até mesmo na panela de ferro. É indescritível o sabor da comida preparada com pequi em panela de ferro. Também se faz licor. O preparo de molho de pimenta com pequi é coisa do outro planeta. Quando Fídias foi ao Mato Grosso do Sul, trouxe dois potes, enviados por uma cunhada, colhido na mata que emoldura a cidade. Trouxe Tubaína e erva de tereré. Para mim é presente sagrado. Então, eventualmente, dou-me a esse regalo como criança degustando guloseimas preferidas.
Criança nascida no Mato Grosso do Sul é habituada a uma arte que deveria ser circense: “fazer malabarismo com pequi na boca”. Tarefa tão deliciosa quanto perigosa. E nesse folguedo os dentes vão roendo a polpa como um engenho mecânico, até chegar ao caroço despolpado.
Criança versada no costume faz isso no modo “mecânico”. Quando dá fé, sem perceber, expurga o caroço como fazem os velhos cachimbeiros que cospem tão forte como se a boca fosse catapulta.
Tem um detalhe, menino criado em metrópoles, forrado de caprichos, não deve chegar nem perto de pequi para degustar.
Roer pequi é para os fortes. Seu caroço possui espinhos tão finos como as palmas daqui do Nordeste. É espinho que parece pelo. Finca na língua, na gengiva, no palato e pode até levar à morte. Pequi é para menino-índio, nascido grudado aos Guarani-Kaiowá.
Eis que preparando frango com pequi descortinou-se em minhas lembranças esse fragmento de infância. Pequi, inesquecível pequi, delicioso pequi. Árvore sagrada.
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