Todo sábado, beirando às nove da manhã, faço um ‘tour’ na avenida Rio Branco, altura do Banco do Brasil e Lojas Marisa. Acostumei-me a comprar frutas nos balcões de madeira dispostos em pontos tradicionais nesse trecho. São seis vendedores nesses conformes. Todos de gente do interior. Produtos sempre muito frescos e viçosos.
Minha fidelidade a esse percurso se explica pela certeza de que os sapotis estarão sempre ali me aguardando. Cada um que enche uma mão. Toda vida trago, além dos sapotis, uva, pinha, abacate e goiaba quase verde (são as frutas que, se possível, levarei para o meu caixão). Mas há mexerica, banana, graviola, manga, acerola, feijão verde, alho, macaxeira, mel e temperos. Normalmente esse é o cardápio.
Eis que, tendo sido oferecida uma cadeira, sentei-me um pouco afastado, próximo a um senhor engraxate envolvido por uma roda de velhos. Ali aguardaria um produto que, segundo a vendeira, “estava chegando, o carro estava na altura do Baldo”. Eu, quase velho, faltando cinco primaveras para o título, vi-me rodeado de velhos oficialmente velhos, em conversa que, pela aura, revelava um grupo de pessoas conhecidas, talvez amigos, ou que se veem sempre por ali.
Eles não fizeram conta do estranho. Conversando estavam, conversando continuaram. Não houve como se desinteressar do assunto pelo curioso enredo. Um deles dizia que sua filha estava namorando um velho quase da idade dele.
Qual a idade da sua filha? Uma voz perguntou (digo uma voz porque, mirando o balcão da venda, não olhei nenhum deles, apenas dei bom dia).
Vinte anos, respondeu.
E a voz continuou:
O velho, tem quantos anos?
Acho que mais de setenta:
O interrogatório seguiu:
É rico?
Muito. Lá em casa tá tudo novo, do alpendre ao quintal. E a menina tá na faculdade.
Rindo bastante, a voz sentenciou:
Ah, então você tá é gostando!
Rindo também o velho concordou.
Claro! Não fiz fia pra tá em casa dando despesa!
Eu é que não dou cabimento para uma coisa dessa. Minhas fia é pro estudo e trabalho. Diabo de estar atrás de véi. Moça na verdade gosta de rapaz da idade delas, elas vão se segurando ali com véi, mas no fundo no fundo elas qué é um rapaz. Tão presa ali é no dinheiro!
Tu tá é com inveja!
Surge uma terceira voz:
Não me diga se uma novinha te querer e tu tendo dinheiro não vai!
Não!
Então tu é fresco!
Risada geral…
História, rapaz! A gente sabe dos limite da gente.
Pois eu, se tivesse dinheiro era só novinha.
Uma quarta voz diz que também tem um negocinho de uns 17 anos no Alecrim.
E tu paga com quê se teu aposento não dá nem pra tu?
Ora, eu fico com as barata. Tem as cara e as barata...
Uma Kombi para, descem as frutas, a vendeira me grita e deixo a curiosa palestra sem saber o que mais rolou na roda de velhos…
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A fotografia é meramente ilustrativa. Ela apenas faz o cenário dessa história real.
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