ACTA NOTURNA - PADRE JOÃO MARIA (23.6.1848 + 16.10.1905), OUTRA HISTÓRIA REAL...
“Certa vez, num sábado à tarde, terminávamos a impressão do jornal. Descíamos, após, o Joaquim Rodrigues, eu e o Diógenes para a refeição. Chegados à porta da sacristia estacionamos.
Três senhoras convidavam o sacerdote a ir em confissão a uma pobre mulher, doente de varíola, em estado gravíssimo, sobre folhas de bananeiras, acrescentando uma delas:
- Disseste ao padre quem é a mulher?
- E que é que tem essa mulher, perguntou o vigário.
- É que ela... com licença da palavra... é alegre...
- É melhor do que triste – respondeu ele.
- Não é isso não, meu padre, é... errada...
- Eu sei, eu sei, vamos até lá, as certas já estão aqui”.
A história deu-se em 1890. Foi contada em 1945 por João Estevão Gomes da Silva, que testemunhou o fato. A passagem, de certo modo, engraçada, leva-nos a refletir sobre suas significações.
A carga de tabus tão comuns àquele tempo impedia que as mulheres dissessem com clareza que se tratava de uma “mulher da vida”, ou "rapariga", como chamamaquino Nordeste. Ou seria pela profundidade do respeito ao sacerdote?
A polidez/santidade do padre, já proclamada nesse tempo, impedia tal intimidade? O padre estaria se divertindo com as beatas, ou desconversando?
A aparente indiferença à condição da doente era uma estratégia para educar as beatas a ignorar os feitos da doente em detrimento da importância verdadeira, a alma? As últimas palavras do sacerdote revelavam ironia, pureza de alma? Santidade? Um misto de tudo?
Esse foi o padre João Maria, homem impressionante, inteligentíssimo e de ideias visionárias e desconhecidas por muitos. E não pecava em humor. Sem contar que não levava desaforo para casa, mas com uma elegância que marcou o seu tempo. Ele passeava nisso tudo sem ser igual sem ser indiscreto... Raro...
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