Como não carece ornitologia,
mas olhogia para mestrado em pássaros, desperdiço os meus vagos à passarada,
Amo-os como quem ama a mãe.
E digo-vos: jamais passará pássaro
sem que os meus vejos se desvejam deles.
Sem que os meus amores se
desamem deles.
A natureza é antídoto,
livradora dos males todos.
Sou dos que menosprezam
compromissos em entretimento da vida silvestre.
Contemplá-la é reinar-se de
poesia,
Um adentro em poemas.
Dia desses, aos primeiros
fios de sol, acordou-me o zumbido de um sem-fim de abelhas voejando a
pitangueira em buquê.
Gastei ali, abençoando-me
delas uma meia hora... juro!
Hoje, dei-me com uma dúzia de
anus brancos às 7 em ponto.
Mais andavam que voavam.
Mansos como criados na mão.
Íntimos o bastante para
fisgar insetos sob o meu sapato.
Não sei o porquê da
intimidade, mas o bando era amigável e despreocupou-se de mim.
Encanta-me a singularidade
dos anus, plenamente os brancos.
Anoto-os muito simpáticos e
bonitos.
Pássaro grande, exótico, despenteado,
listrado, rabo comprido e olhos grandes da cor de mel.
Nas matas eles praticam
repasto como padres.
São gulosos com pererecas,
pássaros novinhos, lagartos, camundongos e miudezas de rios.
Erradicados nas praças,
merendam frutas, bagas, coquinhos, sementes e insetos.
Contemplo-os sempre banqueteando-se
de um cupinzeiro.
Anus fazem freguezia em olho
de coqueiros e palmeiras, onde espenicam as palhas e devoram rango de insetos
miúdos e até catitas.
Expertos, arquitetam ninhos
em altos três vezes superior que um homem.
Os ovos são verdes,
aclarinhados de azuis com uma camada calcária em relevo branco.
É comum ninhos com duas ou
três anus chocando numa irmandade de comadres íntimas.
Essa é a tradução para suas
anchas mansões dependuradas.
Com certos pássaros maiores
exercem amizade de vizinho.
Tem bom compadrio com bem-te-vi,
anu-preto, sabiá e outros pássaros.
Exímios poliglotas, proseiam
como diplomatas e embaixadores,
Praticam excelentes relações
internacionais com outras espécies.
Essa é a poesia amanhecida de
hoje, sentida e catada na praça.
Mas julgo providencial esclarecer que contemplo
os anus desde a minha verde infância,
Por isso florestou essa
poética divinizada aos anus.
Do contrário passariam anos, e
nada eu saberia sobre os anus.
Por isso é verdade e dou fé.
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