O dito popular acima pode ser lido na obra LIVRO DAS IGNORÃÇAS, em DIDÁTICA DA INVENÇÃO, escrito pelo poeta sul-mato-grossense Manoel de Barros. Ao lê-lo pela primeira vez, achei-o curioso e passei a considerá-lo mais uma dentre tantas invenções do autor pantaneiro, fruto de seus momentos de epifania, quando riso e razão se encontram.
Eis que, lendo a obra ADAGIÁRIO BRASILEIRO, escrita pelo cearense Leonardo Mota, daqui das divisas, nesse outro lado do planeta Brasil, me surpreendo com o mesmo dito popular, mas com uma pequena variante: “O que há mais nesse mundo é pau torto e gente besta”.
Achei incrível. Vi logo que o dito popular não era mais uma das esdrúxulas frases do meu conterrâneo Manoel, mas de algum anônimo cearense - acreditei -, pois ela foi registrada há mais de cem anos nas terras de Alencar. Então era uma herança do Nordeste. O autor cearense fez o seu apanhado no final do século XIX, e a obra foi publicada no início do século XX.
Então, diante dessa descoberta, dei por encerrado o assunto. Entendi que a frase voou do Ceará para o Mato Grosso do Sul, como voam as sementes de jacarandá, que tem asas e ganham o mundo ao sabor do vento.
Mas vejam só como “as coisas não tem fim” (como me disse Ava Jechaka’i, um índio guarani-kaiowá que me ensinou muito sobre a natureza (O seu nome quer dizer “ Aquele que presta atenção na natureza, nos animais e nas pessoas. Pessoa que tem no olhar sua fonte de conhecimento e sabedoria”).
Dia desses, pesquisando outro assunto, caiu nos meus olhos a informação de que essa frase é um provérbio português. Ou seja, não era sul-matogrossense nem cearense. Tempos depois, pesquisando um assunto diferente na Bíblia, dei-me com Eclesiaste 1.15, que diz “O número dos tolos é infinito”, que traz a mesma essência do dito adágio.
Fui cavar o assunto com mais profundidade e descobri que o dito popular é mais antigo do que se pensa. É milenar. Corresponde a célebre frase em latim “Stultorum numerus infinitus est”, dita por Salomão, comum em muitos países europeus, que significa “O número dos tolos é infinito”. Foi um achado. Estava explicada a fonte e fechado o círculo.
Nunca ouvi alguém falando esse dito popular. O que sei dele foi através de leituras. Achei interessante e quis compartilhar com os apaixonados pela palavra. E, convenhamos, o que é mais importante nessa história toda, não é nem essa pesquisa despretensiosa, e que demorou tanto, mas saber que realmente “coisa que não acaba no mundo é gente besta e pau seco”.
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